segunda-feira, 29 de março de 2010

UMA PALHINHA POÉTICA


por Altair de Oliveira

Apesar das diferentes mídias que dispomos hoje em dia, cujo principal objetivo parece ser o de encurtar distâncias, São Paulo, assim como também o Rio de Janeiro, foram e ainda são os dois grandes polos  culturais deste país. Na literatura isto também não é diferente, e isto é facilmente constatável, por exemplo, no Modernismo e Concretismo, dois grandes movimentos literários do século passado. Independentemente dos holofontes dos movimentos e das escolas literárias, a boa poesia brasileira parece que sempre foi praticada lá e, precisamente em nossos dias, inúmeros são os espaços e eventos literários que celebram esta poesia no chamado eixo "Rio - São Paulo".

Por isso, apresentamos nesta semana uma pequena amostra de 3 poetas paulistas: Antonio Lázaro de Almeida Prado, Cláudio Daniel e Valéria Tarelho, entre inúmeros outros, eles têm escrito uma poesia significativa e muito têm trabalhado em prol desta nossa pobre arte das palavras. Autores estes que esperamos oportunamente trazer aqui para apresentar-nos melhor os seus trabalhos, falar-nos sobre seus processos criativos e também sobre suas perspectivas em relação à poesia.


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Um poema de Antônio Lázaro de Almeida Prado


O Tempo Temporão
destes Relógios

O tempo no relógio esclerosado,
As horas em estertor das clepsidras,
A vida, uma contagem regressiva...


Esta ânsia de amor, a contrapelo,
Comove o tempo breve de mil noites
E escapa ao espaço inerme de ossuários...


Cauterizando o ritmo liberto,
Despeço-me da escória e dos bagaços
E desentulho a fúria dos meus sonhos.


Neste tempo de chamas reidrato
No sumo da ternura, que renasce,
Este tempo veloz, e o recupero...


Antonio Lázaro de Almeida Prado - In: O Clico das Chamas e Outros Poemas.



Antonio L. de Almeida Prado  nasceu em Piracicaba, em outubro de 1925. Poeta, ensaísta, tradutor e jornalista, é Doutor e Livre-Docente em Língua e Literatura Italiana pela Universidade de São Paulo, onde lecionou de 1953 a 1958. Transferiu-se para a UNESP (campus de Assis, onde fundou o Curso de Letras), aposentando-se em 1982. O seu livro Ciclo das Chamas e Outros Poemas foi publicado em 2005

Para ler mais: http://www.blocosonline.com.br/editora_blocos/2006/sacpoevidig/03corpos/antologiavirtual/alaprado01.php


Ilustração: pintura da artista plástica VITÓRIA BASAIA, carioca radicada em Cuiabá - MT.


Um poema de Cláudio Daniel


SILÊNCIO

para Duda Machado

A pedra;
o que não diz
em sua epiderme,
sua opaca tessitura
de areia e indiviso
tempo; a pedra –
(digo) (a não voz)
o silêncio em tuas
pupilas de pálida
lua, como chama
que se adensa
(mudez de sombra,
solilóquio de água
imóvel, em cisterna
ressecada); e então,
as palavras.



Cláudio Daniel, In:  Figuras metálicas. Ed. Perspectiva

Claudio Daniel é poeta, tradutor e ensaísta. Publicou, entre outros títulos, A Sombra do Leopardo (Azougue, 2001), Romanceiro de Dona Virgo (Lamparina, 2004) e Figuras Metálicas (Perspectiva, 2005). É co-editor da revista eletrônica Zunái (www.revistazunai.com.br) e mantém o blog Cantar a Pele de Lontra (http://cantarapeledelontra.blogspot.com/). O poeta recentemende publicou o seu quinto livro Fera Bifronte (Bauru: Lumme Editor, 2009), que reúne peças escritas entre 2005 e 2008, que pode ser adquirido junto à editora pelo e-mail vendas@lummeeditor.com



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Um poema de Valéria Tarelho


so(m)bra   

 

meu corpo
projeta vultos
do que fomos:

projetos incultos,
sobras obscuras,
escombros,
passado morto...

quando te pressinto
tão íntimo,
que dentro;
tão incontido,
que transborda,
me assombro.

também sinto medo
quando percebo sua sombra
batendo à minha porta
e a atendo.




Valéria Aparecida Tarelho, nasceu em Santos- SP em  27/04/1962, formou-se em Direito, mas optou pelos
caminhos “tortuosos” da poesia. Viveu na cidade de Guarujá-SP até dezembro de 1998, quando se mudou para São José dos Campos-SP, onde reside. Participou de várias  antologias de poesias, é autora do livro De Sol a Cio (São Paulo: Editora Landy - 2010). Faz parte de Dedo de moça — uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009) e tem seus poemas publicados em diversos sites. Seus primeiros escritos - poesia, em maior escala - datam de abril de 2002.

Para Ler mais:
http://v-tarelho.sites.uol.com.br/
http://www.escritorassuicidas.com.br/valeria_tarelho.htm


Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul),  Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).

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