sábado, 10 de abril de 2010

Falta de amor? Eu acho que não!


Por Yone Ramos Marques de Oliveira





Eu gosto de falar do século XX e ele aparece em praticamente todos meus artigos. Confesso minha paixão pelo século em que nasci porque acredito que esse século represente o marco da evolução da espécie humana (não que isso seja algo positivo). E é isso que me fascina: saber que se eu tivesse nascido em uma época diferente, eu não seria testemunha de um tempo tão grandioso. Por isso eu vou falar dele outra vez! Não vou falar de um assunto novo, muito pelo contrário: é um assunto que está bombando e todo mundo quer entender!

Talvez não para o mundo "cult", mas existe uma vasta literatura vendendo igual "pão francês" em diversas livrarias do país. E eu, que as vezes recebi essa denominação, não vou julgar ninguém, afinal, também já recorri a esse tipo de literatura após as decepções e ilusões da vida amorosa! Sim, refiro-me aos livros de auto-ajuda sobre as relações conjugais - que na verdade são livros de "ajuda" como ressaltou a personagem "Carlota Joaquina" da Terça Insana. São os mais diversos títulos, desde "Homens gostam de mulheres que gostam de si mesmas" até o científico "Como fazer qualquer pessoa se apaixonar por você" de Leil Lowndes, que comprova cientificamente como conquistar o amor da pessoa amada através de truques que fazem o cérebro liberar feni... (eu sempre preciso consultar esse nominho) feniletilamina, dopamina e a norepinefrina, substâncias do amor! A autora do livro até considera o caso como um verdadeiro ato instintivo de caça! Só vale ressaltar que, apesar de "comprovadamente científico", por vezes a autora do livro confessa sua solteirice durante as páginas, o que coloca em cheque seu argumento! Além desse, vários: "Porque os homens amam as mulheres poderosas?"; "Faça o amor valer a pena"; "Porque as mulheres amam os homens fortes?"; "Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor", enfim... conselhos amorosos não faltam!


Mas para quem está fugindo das liquidações, não apenas nas livrarias: existem autores engajados no assunto também no mundo virtual como é o caso de Martha Medeiros, Arnaldo Jabor e Luís Fernando Veríssimo. Vários textos circulando diariamente na internet falando sobre amor, traição, relacionamento e todo esse papo! E nós, leitores ávidos, sempre encontramos um tempinho para lê-los até o fim! A verdade é que, apesar de toda a mudança na conjectura social a respeito de relacionamentos e as críticas sobre a "banalização do amor", o ser humano é um ser social e é um ser que se relaciona. E relacionamento, sabe bem a Sociologia, não se trata obviamente de relação conjugal, mas de uma gama de aspectos da convivência humana, e esses aspectos são refletores de uma forma de pensar, de uma cultura, um grupo, uma sociedade.

Desde a antiguidade, existem diversos textos que abordam o ser humano como um ser de relações, e com a sistematização da sociologia, temos textos para todos gostos (ainda bem!). Não sou socióloga e nem vou me atrever a permear por esse campo, mas confesso que alguns autores como Marcel Mauss, Clifford Geertz, Leandro Konder e Irving Goffman serviram de guia para meus pensamentos atuais e não só sociólogos, mas também historiadores e filósofos. Pasmem: até Hanna Arendt (que não diz respeito a relações conjugais), em sua exposição sobre a Condição Humana de ser político e ser social, contribuiu para meu entendimento de relacionamento hoje. E daí, ligando os pensamentos, buscando entender o ser humano integral, comecei a entender melhor as mudanças dessa sociedade,até chegar no objetivo desse texto que é abordar panoramicamente as mudanças das relações sociais e principalmente conjugais que aconteceram nos últimos anos.

Desmistificando a idéia de que o amor acabou, que nossa sociedade é fria e robótica, vou recorrer à história para repensar os fatos. O amor não acabou e o sexo não se tornou mais importante! Há sim, culturalmente falando, uma mudança nos padrões de comportamento que vieram junto com a idéia de democratização. Além do sexo, muitas transformações aconteceram na sociedade globalizada a respeito da forma de se relacionar e elas estão envoltas de todas as outras transformações do período: tecnológicas, políticas, econômicas. No século XX o mundo mudou. Porém, não foi o sentimento humano que mudou, mas a cultura de amar, nas mais diversas sociedades.

Se antigamente, os casamentos eram, ou deveriam ser, para a vida toda - isso considerando as sociedades não poligâmicas e que consideravam o matrimônio algo sagrado, pois é claro não há uniformidade e eu não posso abordar toda as sociedades da história em apenas um texto - hoje, "ninguém é de ninguém"! Mas será que se tratando do ser humano é correto afirmar que algo mudou? Meditei muito e cheguei à conclusão de que essa situação do "ficar", que é peculiar do nosso século, especificamente das 2 últimas décadas (uma idéia não tão nova para alguns movimentos dos anos 60), não é algo novo. Na História, tivemos diversas estruturas que permitiam esse tipo de relação e outras que não permitiam, o que não significa que isso não acontecia (textos como a Bíblia, textos sobre os escândalos da nobreza da Idade Média e Moderna, e até Gilberto Freire sobre o Brasil Colonial servem como prova do que estou dizendo, alías, a inquisição que o diga!). Porém, há ainda, tudo que não ficou registrado e que aconteceu por baixo dos panos (literalmente). Mas há algo de importante acontecendo: "o ficar" se tornou um padrão cultural, deixou de ser um paradigma para se tornar uma característica. E vejo que isso é na verdade, a mais plena indicação de liberdade humana e não da falta de amor, e não estou dizendo que isso é necessariamente bom! Antes dessa transformação, se as mulheres eram submissas aos seus maridos e o divórcio, pelo menos nas sociedades influenciadas pela cultura cristã, era tido como pecado, e portanto um estigma: nem sempre as pessoas estavam juntas por amor, mas sim pela coerção social! Então as estatísticas sobre divórcio não pode servir de parâmetro. Se hoje existem poucos relacionamentos duráveis, poucos romances, é porque hoje as pessoas apenas são mais livres e sinceras. Mas uma coisa é fato: senão todos, praticamente todos estão em busca de encontrarem "a outra metade da laranja" e até o mais duro coração (lembrem-se de Hittler), alguma vez na vida já balançou por amor!










Yone Ramos Marques de Oliveira, teóloga e historiadora, escreve aos sábados, quinzenalmente no ContemporARTES.

3 comentários:

Ana Dietrich disse...

oi yone, que bom vc. trazer a tona um assunto tão polêmico e ao mesmo tempo presentíssimo no nosso cotidiano. Sim, a contemporaneidade pede novas formas de amar e mesmo nela, com suas ondas high tech e robóticas, ainda batemos a cabeça para saber como alcançar esse sentimento tão valoroso, o amor, e o seu encontro com o outro. Nasci na romantica anos 80, ouvi muito biafra e lulu santos, o fanático último romântico e tenho dificuldades com essas transformações citadas. Mas, nem por isso ignoro a beleza do ato, da palavra e o que ela inspira, o amor.
bjssssssssssss

11 de abril de 2010 às 21:51
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oi Ana, olha, pra ser sincera, ainda preciso estudar e refletir muito sobre o tema, porque eu também sinto muita falta do romantismo, porém, hoje tento me conformar com a estrutura atual e ser mais pé no chão, assim evito corações partidos (rsrs)...
Super beijoooo!

24 de abril de 2010 às 10:18

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