De pederastia a homoafetivo: apenas uma questão de termo?
Antes mesmo da criação do “homossexual” no século XIX, as práticas homossexuais já recebiam classificações especiais sendo muita delas de conotação negativa. O que refletiu que nem sempre a “homossexualidade” foi entendida como hoje, principalmente no que diz respeito a uma suposta identidade própria e peculiar do homossexual.
Quando entendida como uma relação de transmissão de conhecimento e sabedoria entre dois homens de idades distintas, as práticas homossexuais na Grécia eram compreendidas como pederastia. O que nos permite pensar nessas práticas como inerentes ao cotidiano desse povo, podendo ser dada como natural para eles. Em Roma, apesar das peculiaridades e diferenças, essas práticas ainda possuíam esse aspecto de normalidade.
Com a expansão do Cristianismo, as relações homoeróticas ou homossexuais, foram alocadas para a esfera do pecado e da impureza, já que não havia os fins reprodutivos, única justificativa para a igreja aceitar a relações sexuais. Nesse instante, a o termo sodomia passa a ser mais recorrentes para classificar as múltiplas práticas sexuais homoeróticas.
Ao perpassar pelos séculos que estão entre o fim da Idade Média e o século XIX, as relações sodomitas além de pecado também são dadas como crime. Quando a ciência apropria-se da sexualidade para estudo e classificações, ela cria o termo homossexual (homo do grego igual e sexus do latim sexo) para referirem-se aqueles que possuem a anomalia do desejo e práticas para com pessoas do mesmo sexo. Nesse contexto a homossexualidade além de pecado e crime passa a ser doença, o homossexualismo, em outras palavras, de um caso ou erro que qualquer um pode cometer, a homossexualidade torna-se uma irregularidade da sexualidade humana, mas que teria possibilidades de cura.
Apenas no inicio do século XX, com a revolução sexual e inicio do movimento LGBTT, esse pensamento do século XIX sofreu questionamentos maiores através da produção acadêmica e da militância dos interessados. O termo homossexualismo passa a ser negado para que a homossexualidade torne-se mais usada, o que por reflete a saída da conotação de doença para a de uma possível relação sexual. Atualmente apontam-se para o uso do termo homoafetivo, para colocar que as relações “homossexuais” não são apenas sexuais, mas também que envolvem toda um afetividade entre os pares. O que nos faríamos pensar em relações homoafetivas com amigos, por exemplo?. Assim o uso dos termos pederastia, sodomia, homossexualismo, homoerotismo e homoafetivo nos revela diferentes posições daquilo que tanto intriga a nossa sociedade: a múltipla sexualidade humana.
Daniele Leonor Moreira é coordenadora da equipe de avaliação/ revisão da Contemporâneos - revista de Artes e Humanidades e estudante de História da Universidade Federal de Viçosa. Uma das atuais coordenadoras do projeto Primavera nos Dentes.
1 comentários:
Maravilhosa a coluna - ver sobre o prisma histórico a construção cultural do conceito.
30 de maio de 2010 às 22:48Homoafetivo!!! Pronto, já adotei.
Parabéns pelo trabalho, dani, parabéns pelo Primavera!
bjs
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