terça-feira, 18 de maio de 2010

MARCA-PÁGINA DA VIDA


Geraldo trombin é a cara da literatura contemporânea. Escreve de forma leve e fluente, simplese direta, sem precisar de artifícios para nos levar com ele em sua prosa ou poesia. Premiadíssimo em concursos literários, ele divide conosco um de seus contos hoje.

Em 07 de março de 2008, classificado entre os 5 melhores no 1° Concurso Literário Castro Alves, categoria Contos, promovido pela Academia Rio-Grandina de Letras (Rio Grande/RS).


MARCA-PÁGINA DA VIDA



A história sobre assalto à mão armada não saía do seu pensamento. - A bolsa ou a vida?, indagou o ladrão. - Qualquer uma, as duas estão vazias mesmo!; retrucou a vítima.

Era assim que Aline se sentia ultimamente: insípida, desmotivada, perdida, sem perspectiva, fútil. Perdeu o encanto por tudo, não conseguia mais ver poesia em nada.

Para esfriar a cuca, resolveu passear lá no Iguatemi Campinas. Roupas, sapatos, bijuterias, maquiagem – coisa alguma a satisfazia; os problemas persistiam, martelando a sua cabeça. Quando caiu em si, estava em frente à Livraria Cultura. Imóvel como uma estátua, pensou por alguns segundos e resolveu entrar. Toda desorientada, passou cambaleando por entre as prateleiras até chegar aonde estavam os livros de seu interesse. Sem querer, uma pisada em falso e um esbarrão forte levam ao chão o famoso Caderno H, textos de Mário Quintana publicados na imprensa.

Ali sobre o piso de madeira, em forma de “V” ao contrário (Λ), com a capa e contracapa para cima, a obra revelava-se: de um lado, o título em letras pretas manuscritas a pincel atômico, e, do outro, uma foto p&b de Mário com olhar absorto, datada de 1973. Tudo sobre um fundo alaranjado.

Assustada, meio sem jeito e curiosa, Aline abaixou-se e pegou-o em suas mãos. Virando-o com cuidado, notou que, graças a um marca-página, o livro estava aberto na página 28. Mais curiosa ainda, começou a correr seus olhos pelos escritos, quando, de repente, fixou-os sobre o famoso Poeminho do Contra: Todos esses que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão... eu passarinho.

Extasiada pela sensibilidade, força de expressão e olhar crítico do poeta, repetiu-o várias vezes em voz alta como se estivesse se libertando de tudo aquilo que estava atravancando o seu caminho.

Sentindo-se livre, leve, solta, Aline deu asas à imaginação e saiu dali voando, feito um passarinho Quintaniano. Aí, sim, seus dias novamente se encheram de poesia, marcando para sempre cada página da sua vida.



Geraldo Trombin. Publicitário e membro do “Espaço Literário Nelly Rocha Galassi” – de Americana/SP (desde 2004), lançou em 1981 o seu livro “Transparecer a Escuridão”, produção independente de poesias e crônicas. Com 140 classificações conquistadas em inúmeros concursos realizados em várias partes do país, tem trabalhos editados em 50 publicações.

3 comentários:

Rosana disse...

Geraldo Trombin, realizador de prosas poéticas de humor refinado, daqueles sabedores de boa literatura. Sempre prazerosa leitura.

18 de maio de 2010 às 10:46
Cris Dakinis disse...

Sinto a maior honra em ser sua amiga. Geraldo é criativo e sabe escrever para encantar :)
Premiadíssimo e talentosíssimo!

18 de maio de 2010 às 16:03
Carlos Bruni disse...

Acompanhar a trajetória do Geraldo, é aprender um pouco mais nessa intrincada e teimosa arte de escrever.

20 de maio de 2010 às 14:43

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