terça-feira, 22 de junho de 2010

José Saramago e a arte da palavra




Queridos leitores, como vocês devem saber, no último dia 18 de junho, morreu na ilha de Lanzarote (Ilhas Canárias) um dos maiores escritores da Língua Portuguesa: José Saramago.



Este homem foi o primeiro e, até o momento, único escritor de Língua Portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura, obtendo, desta forma, um amplo reconhecimento acerca de sua escrita. Saramago recebeu muitos outros prêmios, além de ter presenciado a adaptação de algumas de suas obras para o cinema, como é o caso de Ensaio sobre a cegueira (1995), filme este, dirigido pelo reconhecido cineasta brasileiro Fernando Meireles e de A Jangada de Pedra (1986), levada a cabo pelo realizador holandês George Sluizer.

Provindo de família pobre, José Saramago estudou somente até completar um curso técnico, com vistas a conseguir um emprego e ajudar à família. O contato com literatura e leitura de obras literárias acontecia após Saramago chegar do trabalho e se dirigir à Biblioteca Nacional de Lisboa.

Alguns estudiosos da obra deste escritor, como Carlos Reis, dividem as obras saramaguianas em três fases: a primeira delas compreende o período da publicação de Terra de Pecado em 1947 até o ano de 1977 no qual é lançado Manual de Pintura e Caligrafia. Entre a publicação de uma obra e outra, houve uma lacuna produtiva de romances, a qual muitos atribuem uma espécie de preparação, amadurecimento de escrita. A segunda fase compreende Manual de Pintura e Caligrafia (1977) e vai até Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991). Esta fase é marcada, principalmente, por um caráter questionador da História, das “verdades” históricas difundidas pelo Estado e pela Igreja. Os romances que compreendem esta fase possuem uma escrita que funciona como critica social e, além disto, a característica marcante de Saramago nestas obras é “substituir o que foi pelo que poderia ter sido” (SARAMAGO, 2002, p. 14).

A chamada terceira fase se inicia com a publicação de Ensaio sobre a cegueira (1995) e compreende os romances publicados até a atualidade. Nestas publicações, José Saramago iniciou um novo ciclo de escrita, no qual predomina o caráter reflexivo em relação à vida humana, às relações que o homem estabeleceu entre si e com o mundo que o rodeia.



É importante ressaltar que este autor, em seus romances, trouxe à tona discussões importantíssimas acerca da História de Portugal, da verdade histórica, questionou entidades como o Estado e Igreja, refletiu sobre a condição do homem. Enfim, foi um intelectual de alta relevância no mundo moderno e de grande atuação na vida social e política de seu país.

Dentre os romances saramaguianos que li, recomendo a vocês alguns, com os quais poderão usufruir de toda genialidade criativa do Nobel português, como Memorial do Convento (1982), O ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989), Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio sobre a Cegueira (1995), As Intermitências da Morte (2005), A viagem do Elefante (2008), Caim (2009).

Falar acerca da escrita de Saramago não é nada fácil, devido à vasta produção deste autor, além da variada gama de assuntos retratados. No entanto, ficam grafadas acima minhas singelas considerações sobre os escritos deste artista, além de uma breve homenagem.










Rodrigo C. M. Machado é Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e, neste momento, pesquisa a representação dos corpos na poesia de António Botto.

0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.