Série Breves Biografias: ARMAZÉM COMPANHIA DE TEATRO
A Armazém Companhia de Teatro, que pode ser considerada um dos mais importantes nomes do teatro contemporâneo brasileiro, vem desenvolvendo uma forma de fazer teatro muito interessante que tem cativado uma grande quantidade de público.
Seu trabalho de pesquisa teatral é tão sério que faz de seus espetáculos um convite à reflexão, ao olhar diferenciado do mundo e de como os seres humanos lidam com questões aparentemente simples, porém imbuídas de uma complexidade que passa despercebida devido ao ritmo frenético do cotidiano. E isso é colocado em cena, certas vezes, de uma forma tão sutil que o público pode nem perceber, graças à forma como exploram a fantasia. Entretanto, os questionamentos surgem e a platéia, em sua maioria, sai do teatro pensando de forma diferente, encantada com o trabalho dos atores. Para Paulo de Moraes, “o teatro não é um lugar para relaxar, mas para se energizar. O público precisa sair de lá com um outro espírito”.
Paulo de Moraes, diretor da companhia, vivenciou um aprendizado como ator no Grupo Delta (que fez história nos anos 80 em Londrina), o que contribuiu como experiência para que ele construísse uma visão ampliada da cena contemporânea e tivesse base para desenvolver seu próprio trabalho teatral.
Em 1987, Paulo reuniu um grupo de 20 jovens do curso de teatro que ministrava para alunos de um colégio de 2º grau em Londrina e montou o espetáculo Aniversário de Vida, Aniversário de Morte. Na época, o nome escolhido para o grupo foi Companhia Dramática Bombom Pra Que Se Pirulito Tem Pauzinho Pra Se Chupar. Mais tarde, com o elenco mais reduzido e selecionado, surgiram outros espetáculos como: Périplo – O Ideograma da Obsessão (1988), A Construção do Olhar (1990) e Alabastro (1991). Como o nome do grupo era muito complicado, ele foi modificado para Armazém Companhia de Teatro, numa alusão aos antigos barracões que usavam para os ensaios e apresentações, numa região antiga da cidade.
A companhia vai se desenvolvendo crescentemente, o que pode ser atribuído à sua audácia estética, ao trabalho árduo e constante (feito com disciplina), à vontade dos integrantes em ter o teatro como um sentido para suas vidas (pois muitos deixaram escola, trabalho e família para se dedicar, de corpo e alma, ao teatro) e a determinação em manter um espaço próprio, que fosse estável e seguro, além de conceitualmente alternativo, para ensaios diários e apresentações, onde o grupo pudesse se libertar dos moldes tradicionais do teatro.
O diretor tinha como objetivo elaborar uma linguagem própria, por meio de pesquisas constantes, exigindo dos atores posturas originais, o que, segundo ele, os levariam a ser autênticos criadores de uma narrativa corporal rica e ousada.
A primeira sede do grupo, ainda com o primeiro nome, era um barracão alugado em Londrina, chamado de Lugar, que já tinha sido um ringue de patinação, cervejaria e local para realização de rinhas (brigas de galo). Por volta de 1993, se mudaram para um segundo galpão com cerca de 450 metros quadrados, pé-direito alto, mais espaçoso que o anterior, mas também alugado e mantido pelos membros da companhia, os quais vendiam carros, moto, ou até atrasavam o aluguel de casa em prol da “arte dos palcos”. Além disso, desde os tempos do Lugar, o grupo oferecia cursos de iniciação teatral, alugava o espaço para desfiles e shows (trabalhando também com a produção desses eventos), e também faziam de temporadas de espetáculos.
A Ratoeira é o Gato estreou em abril de 1993 em Londrina, inaugurando o Teatro Armazém. É um marco na história da companhia, pois lançou o grupo nacionalmente e rendeu à Patrícia Selonk o Prêmio Mambembe 1994 de Melhor Atriz, por seu desempenho como o bufão Falstaff. Nesta montagem Paulo coloca em cena toda a sua pesquisa de linguagem teatral, mostrando o mecanismo de funcionamento interno da violência urbana e seu desenvolvimento no seio da sociedade contemporânea, com um espetáculo que atingia profundamente o público.
A companhia ganhou grande projeção com A Ratoeira é o Gato, foi quando começou a excursionar fazendo temporadas por grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, além de participar de festivais de teatro pelo país. Foi então que chegaram a conclusão de que Londrina tinha ficado muito pequena para o trabalho teatral que eles haviam desenvolvido.
Enquanto amadureciam a idéia de se transferirem para o Rio de Janeiro a companhia continuava ensaiando, criando e produzindo seus espetáculos em Londrina, mas viajando com os mesmos para diversos centros culturais do país. O elenco estável, formado por Patrícia Selonk, Marcos Martins, Simone Mazzer, Simone Vianna e Narlo Rodrigues, que pertenciam à companhia praticamente desde o começo, foram bases de sustentação para essa nova empreitada que estavam programando.
Foi ainda dentro desse contexto que montaram os espetáculos A Tempestade (1994), Édipo (1995), Out Cry (1997), Sob Sol em meu Leito após a Água (1997) e Esperando Godot (1998), alguns dos mais importantes espetáculos do país.
Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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