terça-feira, 8 de junho de 2010

Sophia de Mello Breyner Andresen: Revolução e Luta.


Olá, Leitores do Bar ContemporARTES! Depois de quatro meses sem escrever aqui na revista, retorno agora em uma nova coluna. Estava a pensar a respeito do que eu poderia conversar com vocês aqui, previamente aviso que falarei acerca de Literatura e, nada melhor do que começar com pé direitíssimo, com minha amada poeta, Sophia de Mello Breyner Andresen.

Esta artista foi uma escritora portuguesa de contos e poemas, que dentre outras coisas, teve uma importante participação política em seu país - Portugal -, seja pela luta empreendida contra o regime ditatorial “Salazarismo”, ou ainda por ter se tornado deputada em sua pátria.

A atividade literária desta grande poeta se pautou pelas idéias de justiça, liberdade e integridade moral. Sophia foi a primeira mulher a receber o mais importante prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, O prêmio Camões, em 1999, além de muitas outras congratulações por seus escritos.

As informações apresentadas acima são importantes, uma vez que apresentarei a vocês um poema desta revolucionária mulher, o poema “Revolução”:

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro ínicio
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

27 de Abril de 1974

Este poema, como a data ao seu fim indica, foi escrito muito recente em relação à Revolução dos Cravos que depôs o regime ditatorial em Portugal – o que se deu no dia 25 de Abril de 1974. Por esse motivo, o valor simbólico e histórico imbuído nestas poucas frases é incomensurável.

A poeta, com seu senso de justiça e liberdade, compara o momento que o país vivia a uma casa limpa, pronta para o ato de recomeçar, renovar, ou mesmo receber novos moradores e idéias. Esta casa se encontra de “portas abertas”, não só para a liberdade de escrita e do falar, mas sim para tudo que de alguma forma contribuísse para a reconstrução que seria necessária naquele momento.

Este novo momento é marcado pelo recomeçar, pelo deixar os males no passado, reiniciar a vida “sem mancha nem vício”, em um tempo novo que marca o início de um novo governo, de uma nova vida, na qual todos terão o direito e dever de juntos lutarem para apagar as manchas vivenciadas no passado.

Se o mar é um elemento que impulsiona em direção ao encontro com as verdades e com as mudanças, e que foi indispensável para o crescimento de Portugal enquanto nação e para seu desenvolvimento econômico no momento pós-revolução, este mar deveria se rebelar no interior dos portugueses, a fim de que com a mesma ânsia de conquistas a partir dele almejadas no passado, todos pupessem navegar por mares desconhecidos por si e em si mesmos em busca da construção de um país mais justo.

Portugal deveria ser também “Como uma página em branco/ Onde o poema emerge”, uma página que possibilita aos escritores alçarem vôos nunca imaginados, se superarem, se surpreenderem com a capacidade de transformar que a palavra encerra. O começar do zero figuraria como altamente necessário, não somente para a reforma de um país em ruínas, como também para apagar os erros passados causados pela colonização massacrante em relação a outros países, no caso da Revolução dos Cravos uma colonização repressiva e cruel, principalmente, em relação às Colônias portuguesas na África.

A arquitetura necessária para se erguer uma habitação, seria necessária, naquele momento, para reerguer Portugal, os Portugueses, a identidade destes e de certa forma apagar o imaginário de grandeza que se desfez com a perda das últimas colônias.
Essa minha breve e pequena leitura deste poema consegue mostrar minimamente a grandeza desta mulher, de sua escrita, de seu amor às pessoas e à pátria. Garanto a vocês leitores que a obra de Sophia Andresen é muito mais rica, enigmática e consegue tocar o leitor quanto à sensibilidade exprimida pelos poemas.

Encontrar obras desta autora aqui no Brasil não é fácil, confesso que durante quatro meses procurei um livro dela intitulado “O Nome das Coisas”. Solicitei a uma amiga que o trouxesse de Portugal, no entanto, um dia em busca pelos sebos encontrei a obra que tanto queria. O melhor de tudo é que meu livro amado é da primeira edição portuguesa, exatamente de 1977. Fiquei bastante contente.

Outro problema encontrado na aquisição de livros desta autora é também o alto valor pelo qual são vendidos. O importante é que ao encontrarmos e degustá-los somos tocados em nosso íntimo e levados a questionar nós mesmos, o mundo, enfim, não tenho mais palavras para descrever a emoção que sinto ao ler os poemas de Sophia Andresen.

Os leitores que se interessaram pela vida e obra desta poeta podem acessar o site que possui muitas informações sobre ela e também poesias.









Rodrigo C. M. Machado é Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e, neste momento, pesquisa a representação dos corpos na poesia de António Botto.

1 comentários:

Daniel Vecchio disse...

Mais do que um conjunto de leis ou mera troca de cargos políticos, a evolução de um revolução é aquela que atinge o interior de nós mesmos, sentindo o balanço do mar, sentindo o cheiro perigoso do cravo e retirando da própria casa os tijolos rachados. Obrigado à Sophia e a voçe Rodrigo por compartilhar sua leitura e a revolução de seus sentimentos conosco.

8 de junho de 2010 às 11:17

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