sábado, 24 de julho de 2010

Da Metamorfose à Metamorfossa


Hoje falarei um pouco de A Metamorfose, de Franz Kafka:

Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais: contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a sua criação literária foi feita com o intuito de não parecer bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; e ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais.

Sua obra está marcada por uma ruptura interior alimentada pela sua confusa identidade: um judeu tcheco que escrevia em alemão. Ao longo de toda a sua obra, Kafka entrega-se à exploração do seu universo interior.


Uma de suas obras em especial, com a primeira edição datada em 1915, reproduz a sensação do homem moderno que virou o inseto insignificante das grandes cidades. Como quase todas as suas obras, A Metamorfose é alicerçada no realismo, mas tem uma inclinação à metafísica e nela há uma síntese entre uma racional lucidez e um forte sabor irônico.

É interessante perceber que mesmo quase um século depois de ser publicada, tal obra trata de questões que ainda são muito presentes e exerce sua influência. Um bom exemplo disso é uma música da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acajú. A música de que falo faz referência tanto a esse livro de Kafka como ao poema "José", de Drummond. Ressignifica ambos em uma evidente critica a atual política brasileira, na forma de uma melodia alegre e divertida:

E agora, Gregório?
de Leonardo Bursztyn


Quando acordou, Gregório Samsoniti
Tinha se tornado um horrível sanduíche
De frango compactado
De frango com aliche

Nem em seus mais terríveis pesadelos
Tinha picles no lugar dos cotovelos
E justo ele
Que tinha um futuro promissor
Como herdeiro de uma gigante do setor
De bolsas, malas e maletas

E agora, Gregório?
Não vou poder comparecer a seu velório
Não vou poder comparecer
E agora, Gregório
Não vou poder comparecer a seu velório
Não vou poder comparecer
Que final mais inglório
Numa lixeira de praça
Uma lixeira de praça
Praça de alimentação
Praça de alimentação

O caso de Gregório não foi isolado
Era sanduba de bacana pra todo lado
Se é bom pra você
Imagine pra mim
Ver o seu deputado devorado
Com alface e gergelim

Quem era foda
Se food
Quem era foda
Se food
Acabou-se a mamata

Seu Nestor
Celebrando
O fim da mamata
Seu Nestor e os incríveis previdenciários
Celebrando
O fim da mamata

Para conhecer mais do trabalho artístico dos autores dessa "Metamorfossa" (como eles mesmos denominam), acessem o site oficial da banda. Nele é possível ouvir gratuitamente todas as músicas da banda. Os que já conhecem confirmarão quando digo que são de ótima qualidade.

Enfim, humildemente espero que tenham apreciado o que escrevi e voltem a me ler mais vezes. Até! =]

Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Já trabalhou com layout, diagramação e revisão de texto de sites e jornais. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.

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