Memória do cangaço na “palavra cantada” de Sérgio Ricardo no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (parte 1)
A Comunidade Sonora, através das ondas eletromagnéticas do pensamento, materializada nessas linhas, continua sua programação normal. Sintonize aí direito o Mhz da nossa estação no seu dial. Hoje vocês vão ficar (atenção, aumentem o volume!) com um texto que foi publicado no 1º Simpósio de História Oral e Memória, o GEPHOM 2010. Na seqüência da primeira parte desta publicação, vocês continuem ligados pois tem a programação do Seminário Vozes da Globalização - Módulo III - Identidades e Religiões (com direito a certificado presencial de horas).
Memória do cangaço na “palavra cantada” de Sérgio Ricardo no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (parte 1)
Cícero F. Barbosa Jr.[1]
O tempo de Glauber
Trazer à tona a memória do cangaço por meio da análise do filme de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (filmado entre 1963 e1964) representada entre outros elementos, pela canção de Sérgio Ricardo e letras do próprio Glauber. Na busca de retratar o drama social nordestino, a trilha sonora expressa por meio da “palavra cantada” – aglutinadora de lembranças e memórias – a proposta revolucionária do Cinema Novo e resume as questões do messianismo (na figura de Sebastião) e do cangaço (principalmente com Corisco). Um filme cheio de uma selvagem beleza que na época excitou a todos com a possibilidade de um grande cinema nacional (VELOSO, 1997, p.99).
Glauber Rocha tinha apenas 24 anos quando lançou Deus e o diabo na terra do sol em nossos cinemas em 1964, meses depois do Golpe de Estado que derrubou o governo de João Goulart e que colocou no poder o marechal Castelo Branco, período que iniciaria a Ditadura Militar e somente se encerraria em 1985.
No elenco do filme, nomes como Othon Bastos, Maurício do Valle, Geraldo Rey, Yoná Magalhães, entre outros. Foi considerado por muitos como o principal trabalho do cineasta e um dos que melhores representam a estética do Cinema Novo. Sendo reconhecido internacionalmente em festivais, conquistando o prêmio de melhor diretor em Cannes e sendo indicado a Palma de Ouro. Isso acontecia mesmo o Cinema Novo assumindo uma forte recusa ao que era produzido pelo cinema industrial:
“era um terreno do colonizador, espaço de censura ideológica e estética. Foi a versão brasileira de uma política de autor que procurou destruir o mito da técnica e da burocracia da produção, em nome da vida, da atualidade de criação. Aqui, atualidade era buscar uma linguagem adequada às condições precárias e capaz de exprimir uma visão desalienadora, crítica, da experiência social. Tal busca se traduziu na ‘estética da fome’, onde a escassez de recursos técnicos se transformou em força expressiva e o cineasta encontrou a linguagem em sintonia com os seus temas”(XAVIER, 1985, p. 14).
Uma época em que o cinema ainda não era visto como parte de uma industrial cultural, conquista que se efetivará concretamente na economia do país durante a década de 1970, com “a implementação de uma política institucional ditada por agências governamentais voltadas para o mercado e centralizados pelo regime” (ABREU, 2006, p. 16).
Glauber Rocha também usou para compor o filme, além da peça do Sartre, lendas populares para mostrar outro aspecto do drama nordestino:
Manoel, vaqueiro miserável, mata o patrão e parte com a mulher em busca da salvação mística aos pés do Santo. Perdendo o Santo, segue em busca da verdade e acaba cabra de um cangaceiro. Morrendo o cangaceiro perde a fé em tudo, enlouquece, larga a mulher e corre para um mar entrevisto em delírio libertário (ROCHA, 2004, p. 141).
Glauber então escreveu algumas letras para Sérgio Ricardo musicar e interpretar. As músicas seguem basicamente o roteiro do filme: 01. Abertura; 02. Manuel e Rosa; 03. Sebastião; 04. Discurso de Sebastião; 05. A Mãe; 06. Antonio das Mortes; 07. Corisco; 08. Lampião; 09. São Jorge; 10. Monólogo; 11. A Procura; 12. Reza de Corisco; 13. Perseguição/Sertão Vai Virar Mar.
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Seminário Vozes da Globalização - Módulo III - Identidades e Religiões (com direito a certificado presencial de horas)
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Apoio
Associação Cultural Morro do Querosene
Realização:
Casa da Palavra - Escola Livre de Literatura
Prefeitura Municipal de Santo André
Local - Praça do Carmo, 171, Santo André - SP.
Sábado das 10h30 às 12h30
31 de julho a 25 de setembro de 2010
1. | 31/07 | Nancy Cardoso Teóloga e Profa. Dra. Universidade Severino Sombra - RJ | O sexo dos anjos: identidades de gênero e religiosidade |
2. | 07/08 | Cláudio Willer escritor | Poesia e Ocultismo. |
3. | 14/08 | Fernanda Lopes Torres Doutora em História da Arte/ PUC - RJ | Michelangelo e a “busca ansiosa de Deus na alma humana” |
4. | 21/08 | Vanessa Molnar historiadora e poeta | A literatura libertina do século XVIII. Marquês de Sade contra a religião |
5. | 28/08 | Micheliny Verunsckh escritora | Religiosidade e Erotismo na Poesia Contemporânea. |
6. | 11/09 | Verah D’Osún escritora | Religião africana – faces do candomblé |
7. | 18/09 | Ana Maria Dietrich Historiadora e Profa. Dra. Universidade Federal do ABC Profa. Colaboradora do Mestrado em História - Universidade Severino Sombra (RJ) | Judeus e o anti-semitismo moderno: a continuidade na descontinuidade |
8. | 25/09 | William Martins Historiador e Prof. Dr. Universidade Severino Sombra - RJ | Modelos e práticas de santidade feminina na época colonial |
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