Memória do cangaço na “palavra cantada” de Sérgio Ricardo no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (parte 2)
Hoje vocês vão ficar (atenção, aumentem o volume!) com a 2a. parte do texto que foi publicado no 1º Simpósio de História Oral e Memória, o GEPHOM 2010.
aqui tem a primeira parte: http://revistacontemporartes.blogspot.com/2010/07/memoria-do-cangaco-na-palavra-cantada.html
Trazer à tona a memória do cangaço por meio da análise do filme de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (filmado entre 1963 e1964) representada entre outros elementos, pela canção de Sérgio Ricardo e letras do próprio Glauber. Na busca de retratar o drama social nordestino, a trilha sonora expressa por meio da “palavra cantada” – aglutinadora de lembranças e memórias – a proposta revolucionária do Cinema Novo e resume as questões do messianismo (na figura de Sebastião) e do cangaço (principalmente com Corisco) dentro do filme.
Glauber Rocha tinha apenas 24 anos quando lançou “Deus e o diabo na terra do sol” em nossos cinemas em 1964, meses depois do Golpe de Estado que derrubou o governo de João Goulart e que colocou no poder o marechal Castelo Branco, período que iniciaria a Ditadura Militar e somente se encerraria em 1985. No elenco do filme, nomes como Othon Bastos, Maurício do Valle, Geraldo Rey, Yoná Magalhães, entre outros. Foi considerado por muitos como o principal trabalho do cineasta e um dos que melhores representam a estética do Cinema Novo. Sendo reconhecido internacionalmente em festivais, conquistando o prêmio de melhor diretor em Cannes e sendo indicado a Palma de Ouro.
O filme é uma livre interpretação da peça teatral O diabo e o bom Deus, de Jean-Paul Sartre. Repercutiu muito bem entre os cineastas estrangeiros: Fritz Lang disse, depois de ver o filme: “é uma das mais fortes manifestações cinematográficas que já vi”. Enquanto Luis Buñuel declarou: “é a coisa mais bela que vi nos últimos anos” (SILVA NETO, 2002, p. 258).
Por meio dessas narrativas orais, o objetivo é discutir a História do tempo presente e a linguagem cinematográfica, utilizando como referencias metodológicas Marc Ferro e Marcos Napolitano para entender a linguagem fílmica, as canções aplicadas dentro da narrativa e o dialogo das letras com as imagens no conteúdo do filme.
Podemos ressaltar desse estudo de que não se trata na verdade de uma reflexão sobre o cangaço, mas que por meio dele podemos abrir uma discussão sobre o momento da política brasileira do período. O que está presente na película é uma voz de resistência.
Mestrando em História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, bacharelando em Letras na Universidade de São Paulo, possui graduação em História pela Universidade Ibirapuera (2001). Atualmente leciona na Rede de Ensino do Governo do Estado de São Paulo, também participo como professor da atividade de extensão universitária na Escola Livre de Literatura de Santo André/SP. Email: cicerofbj@gmail.com.
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