MARGARIDA DEMONÍACA
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MARGARIDA DEMONÍACA
A política cultural do governo Lula, desembaraçada pelo ex-ministro Gilberto Gil e continuada pelo Sr. Juca vem dando resultados bastante significativos ao longo desses oito anos - em que pese algumas queixas-sempre-queixas. Falamos em política cultural, como Albino Rubim, quando, dentre outros requisitos, “falamos em intervenções conjuntas e sistemáticas; atores coletivos e metas”.
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Uma das metas mais felizes para os dados à Arte de Talma é o Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz, que desde 2006 vem se consolidando como uma das principais ações de estímulo à produção teatral do país. Através do Myriam foi possível assistir em Campo Grande (MS) durante o 4º FESTCAMP a encenação de Apareceu a Margarida (1973), versão de João Lima e Arce Correia para o clássico de Roberto Athayde.
Clássico porque ao lado de Antígona, Medéia, Lady Macbeth, Nora, Ofélia, Julieta, Hedda Gabler, Blanche, Leonor de Mendonça, Berenice, Adelaide, Zulmira, Xepa, Branca Dias, Romana e Joana, dentre outras inumeráveis e fascinantes personagens femininas, Margarida surge e ressurge nos palcos brasileiros como uma das mais vibrantes delas. Margarida é metáfora de um autoritarismo caduco e claudicante; sua postura, hoje, é anacrônica, incoerente. Então, uma pergunta, por que montar esse texto hoje, em tempos tão diferentes? Qual poder ainda resiste nesse texto?
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Se as respostas fossem dadas apenas pela sua leitura, talvez, víssemos pouco sentido em sua montagem, mas quando assistimos Arce Correia na pele de Margarida. A questão é bem outra. Arce é um ator vibrante e inteligente porque opta pelo não travestimento da personagem, o que poderia cair em caricatura fácil. Assim propõe o jogo, a cumplicidade com o público reiterando a teatralidade da encenação. Arce é homem e extrai de Margarida essa força masculina, que a verticaliza como potência destruidora. Margarida-Arce é mais do que ameaçadora, é demoníaca. Margarida é um grande ganho para Campo Grande e para o Brasil.
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