sexta-feira, 10 de setembro de 2010

MARGARIDA DEMONÍACA



MARGARIDA DEMONÍACA
A política cultural do governo Lula, desembaraçada pelo ex-ministro Gilberto Gil e continuada pelo Sr. Juca vem dando resultados bastante significativos ao longo desses oito anos - em que pese algumas queixas-sempre-queixas. Falamos em política cultural, como Albino Rubim, quando, dentre outros requisitos, “falamos em intervenções conjuntas e sistemáticas; atores coletivos e metas”.

Uma das metas mais felizes para os dados à Arte de Talma é o Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz, que desde 2006 vem se consolidando como uma das principais ações de estímulo à produção teatral do país. Através do Myriam foi possível assistir em Campo Grande (MS) durante o 4º FESTCAMP a encenação de Apareceu a Margarida (1973), versão de João Lima e Arce Correia para o clássico de Roberto Athayde.


Clássico porque ao lado de Antígona, Medéia, Lady Macbeth, Nora, Ofélia, Julieta, Hedda Gabler, Blanche, Leonor de Mendonça, Berenice, Adelaide, Zulmira, Xepa, Branca Dias, Romana e Joana, dentre outras inumeráveis e fascinantes personagens femininas, Margarida surge e ressurge nos palcos brasileiros como uma das mais vibrantes delas. Margarida é metáfora de um autoritarismo caduco e claudicante; sua postura, hoje, é anacrônica, incoerente. Então, uma pergunta, por que montar esse texto hoje, em tempos tão diferentes? Qual poder ainda resiste nesse texto?

Se as respostas fossem dadas apenas pela sua leitura, talvez, víssemos pouco sentido em sua montagem, mas quando assistimos Arce Correia na pele de Margarida. A questão é bem outra. Arce é um ator vibrante e inteligente porque opta pelo não travestimento da personagem, o que poderia cair em caricatura fácil. Assim propõe o jogo, a cumplicidade com o público reiterando a teatralidade da encenação. Arce é homem e extrai de Margarida essa força masculina, que a verticaliza como potência destruidora. Margarida-Arce é mais do que ameaçadora, é demoníaca. Margarida é um grande ganho para Campo Grande e para o Brasil.


Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

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