sábado, 11 de setembro de 2010

Nada nos é ideologia, pois tudo o é!


Ideologias... no sentido mais "Chauíano", que apesar de beber de Marx, acrescentada à brilhante análise de Lefort, desfecha-se perfeita ao século XX e XXI. Marx não os assistiu, mas seus ossos devem revirar-se no caixão.

No final da Segunda Guerra, com a vitória dos aliados, os ideais nacionalistas do Estado Novo perderam sentido, de certa forma, o que Boris Fausto apontou como uma das causas para a queda “pacífica” de Getúlio em 1945. Com os ideais de uma democracia resplandecendo sobre a ótica dos vitoriosos, a esperança de prosperidade econômica no protótipo dos EUA, a entrada do capital transnacional associado à elite nacional propiciaram, nos anos que seguiram, o surgimento de uma nova mentalidade cultural: o “americanismo”.

Claro que isso não foi apenas a nível cultural, mas sobre a cultura, Heloísa Hollanda afirmou que a cultura e a influência estrangeira (apesar de ter sentido amplo sobre a abordagem da autora, a frase refere-se ao cinema) havia adquirido “uma qualidade de coisa nossa, na linha de que nada nos é estrangeiro, pois tudo o é”. Essa frase muito bem elaborada marcou meu contato com seu texto, porque descreve a exata sensação do movimento nacionalista que, apesar de ter perdido força, não havia morrido: a década de 50, contra ponto da afirmação acima, houve um crescimento do movimento operário nas grandes cidades e organizações delineadas por algum objetivo em comum, normalmente em partidos, sindicatos, movimentos estudantis ou artísticos. Movimento que teve seu auge na década de 60, pouco antes de ser “detido de enxofres” (paráfrase de Hobsbawn) pelo golpe militar.

Bom, e o que isso tudo tem a ver com o título desse texto? Vamos lá! Foi exatamente no período mencionado acima que se iniciou a guerra ideológica entre direita e esquerda que, somada ao acentuado processo de industrialização de países em desenvolvimento e contínuo avanço tecnológico, configurou o cenário mundial para o movimento de expansão da mídia, permitindo então a consolidação de uma nova forma de dominação: a mídia passou a ser parte integrante do aparelho político mundial, e é reconhecida por muitos como um 4º poder do Estado Moderno! Com a intervenção da mídia e suas artimanhas de manipulação, o público passa a ver a realidade num reflexo distorcido e maquiado e essa foi a base da guerra ideológica do século XX e também das políticas emergentes do século XXI. Um filme de certa forma sensacionalista dirigido por Costa Gravas, O Quarto Poder (título original: Mad City, 1997) ilustra como a influência da mídia legitima, ou não, uma ideologia sobre a população.

E essa influência que a mídia tem sobre as pessoas, influência que vem aumentando consideravelmente nas 2 últimas décadas devido à expansão do alcance tecnológico, cada vez mais acessível indistintamente da classe social (aqui não importa a qualidade da tecnologia ou sua legalidade), aliada aos interesses das classes dominantes, fazem com que a nossa "realidade" política e econômica se torne cada vez mais "irreal". Daí, sobre os dias em que vivemos, parafraseando o que a autora expôs sobre a cultura dos anos 50, é possível fazer uma nova reflexão: se na década de 50, nada nos era estrangeiro, pois tudo o era; hoje, nada nos é ideologia, pois tudo o é!

Não há em meus texto nenhuma intenção ou interesse político em fazer apologia a um ou outro governo, porém questiono até que ponto pode-se considerar legítimo um poder baseado na manipulação e distorção da realidade e essa é a minha preocupação sobre os rumos da política, não apenas brasileira, mas dos rumos da conjuntura política e econômica mundial nesse período de incertezas. O que sabemos, se sabemos, e do que sabemos, o que é real? De todos as mudanças que estão por vir; de todas as crises (econômica, de recursos e ambientais) que o mundo está vivendo; de todos os governos que emergirão nos próximos anos; de todas as verdades e de todas as mentiras; apenas espero e desejo que a população realmente tenha seu lugar ao sol.




Yone Ramos Marques de Oliveira, teóloga e historiadora, escreve aos sábados, quinzenalmente no ContemporARTES.












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