quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MUITAS MULHERES EM UMA SÓ

Este poderia ser um subtítulo para Cindy Sherman, fotógrafa norte-americana nascida em 1954. Ela estudou no Buffalo State College entre 1972 e 1976, direcionando o seu interesse para a fotografia que considerava como o meio de expressão apropriado à sociedade, dominada pelos meios de comunicação. As suas fotografias são retratos dela própria em vários cenários e segundo vários estereótipos de mulher - uma série de personagens e encenações cujas fontes são retiradas da cultura popular, designadamente de velhos filmes, telenovelas e revistas sensacionalistas.

Sua carreira  aborda uma das preocupações mais recentes de muitas artistas feministas: o fato de que a imagem tradicional da mulher ocidental: doce, sexy, servil foi moldada pelas necessidades e valores do sexo masculino. Tais imagens - dizem as feministas contemporâneas, que dominam o mundo das "grandes obras" -  refletem o poder de controle do "olhar masculino". Cindy desconstrói estereótipos de gênero  daqueles projetados pelo corpo coletivo da "grande arte" e pelo fenômeno moderno da televisão, revistas pornográficas e outros meios de comunicação.

Fotografias de estúdio brilhante da década de 1970 apresentam a própria artista em poses e roupas que chamam a atenção para o corpo como um objeto de política ou sexual, e ela recria estereótipos comerciais que zombam dos papéis subservientes que as mulheres têm como a "mulher pequena", a femme fatale, a boneca, a "pinup" ou a adolescente apaixonada.

Com a sua série dos anos 80, Film Stills, Sherman rapidamente ocupou um lugar de destaque no mundo da arte internacional. Enquanto estes trabalhos iniciais estão imbuídos de fortes sentimentos de introspecção e sensualidade provocatória, as fotografias que marcam o final da década de 80 possuem elementos de horror e decadência. No início dos anos 90, cria uma espécie de caricaturas de personagens históricas que retrata numa série intitulada History Portraits. A esta seguiram-se séries relacionadas com o sexo, com o horror e com figuras monstruosas. Alguns dos seus trabalhos fazem parte das colecções da Tate Gallery em Londres, da Corcoran Gallery em Washington e dos museus nova iorquinos MoMA, Metropolitan e Brooklyn.


Coração aos pedaços, após um divórcio em 1994 

Como uma colegial tipicamente americana

Estrela de cinema dos anos 40

Ensaio para a Revista Harper's Bazar

Uma cinderela debochada

Cindy como o deus Baco

A viajante

Uma velha senhora


Uma dona de casa desastrada

Cindy decide morrer

Mas sua produção não pára por aí, Cindy Sherman continua ativa, criando novas personagens, sempre auto-retratos, e chegou a fazer experimentos como cineasta em alguns filmes como "Office Killers", e claro, dando nó nas cabeças de psicanalistas, críticos de arte e todos aqueles que procuram entender e explicar suas imagens, já que dificilmente se consegue enquadrá-la em um estilo ou escola. A fotógrafa-camaleão conseguiu criar uma linguagem única e inimitável.

                                                    
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Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.



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