quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

127 horas, de tensão, introspecção e superação


Cartaz do filme.

Quantas vezes você teve a oportunidade de ver imagens de um cânion nas telas do cinema? Já pensou em viver uma aventura num cânion em Utah? Então é bom se preparar pois o que vem a seguir são cenas de pura emoção. 127 horas é emoção, introspecção e muitos, muitos primeiros planos do protagonista que posa para uma câmera digital e faz dela sua cúmplice perfeita. 

A imagem de Aron pela câmera
Sexta passada, dia 18, cheguei às 21:10 da Faculdade, nada especial para fazer. Ah, claro, pensei logo: posso ir ao cinema. Rapidamente olhei o que ainda poderia ver naquela hora da noite e lá estava, 127 horas. Vi o trailer e corri para o cinema na sessão das 22: 40.
Sem saber muito bem a respeito do filme, pois não havia lido nada sobre, fui apenas com o trailer em minha mente. Parecia algo de aventura. Demorou alguns bons minutos para eu perceber do que se tratava o filme. Ah, Danny Boyle como diretor, me lembrei de ter visto outros filmes dirigidos por ele como, Quem quer ser um Milionário?, romântica história de superação e A praia, filme impressionante e tenebroso com Leonardo de Caprio. No decorrer da sessão fiquei encantada com as imagens do cânion, enormes fendas numa paisagem ocre infinita. O personagem principal, um engenheiro que adora passar seus fins de semana explorando montanhas. 

Cânion em Utah
O filme começa com ares de aventura e vira um viagem existencialista, propondo ao espectador uma entrada para dentro da mente do personagem principal, seus desejos, arrependimentos, delírios, medos e superação. O clima de aventura do início, logo dá lugar a um intrigante jogo de lentes e câmera digital. Lentes que aparecem nos olhos de Aron, o protagonista, quando criança, substituídas por pequenas e gelatinosas lentes de contato quando adulto. A câmera digital que Aron carrega é uma personagem cúmplice que divide e compactua com sua fatídica dor.
O uso e abuso das câmeras subjetivas não são novidades no cinema; já há algum tempo elas são ótimas companheiras dos personagens, um exemplo disso foi o pioneiro A Bruxa de Blair, que usou, abusou e abusou mais um pouquinho das câmeras portáteis e digitais. O que impressiona em 127 horas é que apesar de ser passado em um cânion, há uma tentativa de dar ao filme uma “pegada” urbana, com algumas cenas em telas divididas em três mostrando pessoas aglomeradas nas cidades. Copiando um pouquinho de Peter Greenaway, o mestre das telas subdivididas, esse recurso dá ao filme uma sensação de modernidade. Outro fato interessante são algumas lembranças do protagonista que parecem saídas de um comercial de isotônico. Fiquei deslumbrada com essas misturas referenciais e confesso que o filme encantou-me por esse e por outros motivos: a atuação de James Franco, cômica, sutil e muito leve; pelas imagens do cânion e pela coragem e vontade de viver de Aron. Saí do cinema com uma sensação leve, sublime e otimista sobre a vida e os homens, e claro com uma certeza: a câmera de Aron foi sem dúvida uma coadjuvante incrível. 


Aron, o real 


Depois, pesquisando sobre o filme fiquei sabendo que ele tem 8 indicações para o Oscar, inclusive de melhor ator e melhor filme e que, dia 18 de fevereiro, o dia que fui vê-lo, era sua estréia. O filme é uma adaptação do livro escrito pelo montanhista Aron Ralston, Between a Rock and a Hard Place, publicado pela Atria Books em 2004 e ainda sem tradução para o português brasileiro. Em 2003, o alpinista norte-americano Aron Ralston, 27 anos, fazia trekking pelo Parque Nacional Canyonlands, no estado de Utah, quando caiu numa fenda e teve o braço preso por uma rocha. Uma historia real com ânsia de virar filme.
Adaptar literatura para o cinema é um grande desafio. É preciso transformar palavras em imagens, não aquelas que aparecem em nossas mentes quando estamos lendo; precisa ser mais que isso, é preciso transformar escrita em imagens incríveis, relevantes para o espectador. É necessário conversar com o espectador, passar as emoções, ver o tempo que cada imagem deve durar, que música o espectador deve ouvir quando essas imagens são mostradas. E muito importante, quem serão os atores que viverão essa historia. O roteirista e o diretor passam muito tempo pensando em como transformar aquele livro de memórias em imagens e sons para o cinema.

A criatura e o criador 
Por esse motivo quando assisto um filme de adaptação de um livro sei que para ficar bom é preciso muita sensibilidade. Palmas para o produtor Christian Colson, parceiro de Boyle em seus projetos, para o próprio Boyle, que viu no livro de Aron Ralston um filme em potencial e para Simon Beaufoy, pela sua adaptação do roteiro.
O ator escolhido por Boyle para viver Aron foi o americano de 32 anos James Franco, que possuí um currículo extenso, com participações em torno de 30 filmes. Aron se destacou no cinema pela atuação na trilogia Homem Aranha, encenado Harry Osborn, personagem que contracena com o homem aranha.
Recontar uma história que já repercutiu em jornais e que já foi contada em um livro exige criatividade para fazer render o seu potencial. Com uma produção razoável e uma linguagem a la reality show, o filme promove um pensamento profundo a respeito da solidão, da auto confiança, da vontade de viver e superação dos limites. Deste filme meio “moral da historia” ficam algumas lições: primeira - a natureza é grandiosa e imprevisível, é preciso respeitá-la; Segunda - saia sozinho, mas sempre diga a alguém onde foi; Terceira e última, porém não menos importante - se você tiver uma câmera, filme sempre, mesmo que seja sua própria morte.
Vale muito a pena conferir 127 horas, mas saibam.... em alguns momentos é necessário fechar os olhos ou ter a coragem de vivenciar cenas explícitas de muita atitude. Atitude, é essa a palavra do filme.

Bom filme!




Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na UNIP nos Cursos de Comunicação e na FPA no curso de Artes Cênnicas, é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

1 comentários:

Gota disse...

Não assisti o filme ainda, por isso ainda não sei bem o que falar dele.
Sei da história que inspirou o filme e sinto-me renovada quando penso nela, mesmo com o pouco que sei.

Viver não é fácil para ninguém, somos forçados a diversos tipos de provação, outras escolhemos fazer parte livremente. Mesmo escolhendo estar disposto a tomar uns "safanões" de uma boa provação todo aventureiro sabe que nunca se pode prever todas as coisas que irão "cair sobre ele" durante a aventura. Mas o bom aventureiro está disposto a aprender e superar seus limites.

Gosto de pensar na vida como uma expressão, que nem é da minha língua nativa: I took my chances and I survived!! Ou seja, só considero uma vida aquela que existe e tenta ir sempre além, não como uma vaca doida correndo em direção a cerca, mas como uma aventureira buscando a sua mais nova aventura - consciente do perigo mas sem medo de sofrer e se superar. Eu sei que o fim da expressão diz que vivemos no final e que no final mesmo tudo morre, mas isso só prova para mim que devo arriscar sempre. Se o fim é certo para que se preocupar com ele, vivo tentando enquanto e durando até quando durar.

25 de fevereiro de 2011 às 15:39

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