A MORTE E O ADEUS
“My heart has broken into a million
dying stars on a dark, dark sky.
Neither comets nor planets shall
ever candle my night again”.
Naqueles dias em que o passado bate a sua porta e você finge que não ouve, mas ele o espreita pela janela, o que fazer?Partidas sem despedidas deixam um vulto em nossas vidas. Muitas vezes, as pessoas são levadas pela morte na calada da noite. Outras, a doença nos anuncia a chegada e não sei dizer se sofremos menos por diluir em um prazo maior ou se simplesmente morremos um pouco a cada dia de espera.
Outras despedidas são impostas pela vida. Uma amiga saiu do emprego onde trabalhava há sete anos. Não foram poucas as lágrimas. Quantos laços criados em um ambiente de trabalho em que passamos mais tempo do que com a própria família? As promessas de reencontros são muitas. O tempo é implacável e aos poucos o esquecimento se apodera das relações. Talvez um ou dois colegas continuem a se encontrar. Para onde vão os sentimentos e os laços desenvolvidos nesse período? Emoções divididas, fotos de momentos marcantes e palavras de incentivo ou consolo: tudo desaparece de um momento para outro e fica apenas a sensação de nevasca na alma. Um coração que recebe tantas pancadas acaba transfigurado no final da vida. Compreensível as pessoas que criam um escudo em novas relações.
Quem já sofreu com uma despedida, não deseja outras. Conheço pessoas que passaram a vida em uma mesma cidade, desde o nascimento até a morte. O resultado são relações fortes, apoio no infortúnio, popularidade e um sentimento de estar em casa: o conhecido nos conforta! Eu morei em tantas cidades desde a infância, cruzei e convivi com pessoas de diferentes localidades e etnias. Perdi de vista amizades importantes enquanto construía ninhos em novas florestas. Mudei de casas, escolas, cidades, países, cidades em outros países. Espero nunca mais ter que me mudar. Sinto que hoje nascem raízes de meus pés.
Com tantos deslocamentos, tenho amigos em lugares distantes e não é fácil encontrá-los pessoalmente. Algumas amizades perduram até hoje e quando nos encontramos parece que foi ontem a última vez que nos vimos, mesmo que tenha se passado meses ou anos. Não nos despedimos, apenas dissemos “até breve”. Outras pessoas desapareceram como grãos de areia em uma tempestade de deserto e hoje sequer sei como estão. Contatos perdidos não são lembranças jazidas. De vez em quando me lembro delas e me pergunto por onde andam, como estão de saúde, como foram tratadas pela vida... Sem o ritual do adeus, nunca superamos a dor da perda.
Além dos amigos e familiares, temos as despedidas dos amores. Algumas são extremamente afortunadas e caminham de mãos dadas desde a juventude até o sono final. Outras nunca sequer provam desse momento de fusão de almas, buscando eternamente por alguém que as ame, algumas vezes se contentando com relações doentias. Outras vezes, encontramos a pessoa perfeita, mas não temos sentimentos por ela – ou ela por nós -, ou temos sentimentos por uma pessoa que não é compatível. Perfeição não existe. Mas dentro da nossa imperfeição é possível encontrar alguém que se encaixe, compensando falhas e nos trazendo equilíbrio, paz e serenidade. Quando duas pessoas fazem mal uma à outra, o único remédio é a despedida. A não ser que haja motivação suficiente para mudar, o que raramente acontece.
Essa despedida é a mais difícil de todas: a que tem que partir de nós. Nesses casos, acenar de longe é permitir que a outra pessoa siga seu caminho e encontre a felicidade em outra ilha. Dizer adeus é dar a Deus quem queríamos que fosse nosso para sempre, pelo seu próprio bem.
“Adeus meus sonhos, adeus meus amores! Meus pobres versos, minha doce lira, desta vida insana, só vagas flores, breves ilusões e tristes mentiras”.
( Onofre F. do Prado)
( Onofre F. do Prado)
Simone Alves Pedersen nasceu em São Caetano do Sul, viveu anos no exterior e hoje mora em Vinhedo, SP. Formada em Direito, participa há três anos de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior. Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. Escreve para jornal, revista e diversos blogs literários. Mãe do Dennis e da Natalie, escreveu seu primeiro livro infantil em 2008, o “Vila felina” e não parou mais. Autora dos infantis Conde Van Pirado, Vila Encantada, Sara e os óculos mágicos, Coleção Pápum e Coleção Fuá. No Prelo encontram-se “A vila dos ecomonstros”, “A galinha que botava batatas” e “Cartilha sobre o meio-ambiente”. Para adultos lançou “Fragmentos & Estilhaços” e “Colcha de Retalhos” com poemas, crônicas e contos. Blog: http://www.simonealvespedersen.blogspot.com
2 comentários:
Pois é, Simone. Morar a vida inteira onde a gente nasceu, se fez raiz, ou espalhar aos 4 cantos nosso pólen, deixando por onde passamos um pouquinho de nós??? eis a questão.. eis a reflexão que vem do belo trasncorrer das suas palavras... como sempre muito inteligentes e fluentes!
29 de março de 2011 às 13:26Bjos do seu fã
Simone,
29 de março de 2011 às 22:17gostei muito de suas colocações. Confesso que algumas vezes me senti como você postulou. É interessante notar como a arte humaniza, nos torna mais sensíveis e como ela se relaciona estreitamente com a vida.
Espero ler seus livros, os peomas que escreve.
Abços
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