segunda-feira, 4 de abril de 2011

2 Poemas de Viviane Mosé!





DOIS POEMAS DE VIVIANE MOSÉ

por Altair de Oliveira

Apresentamos hoje 2 deliciosos poemas da filósofa, psicanalista e poeta capixaba Viviane Mosé, radicada no Rio de Janeiro desde 1992, que se tornou bastante conhecida entre nós após apresentar o quadro Ser ou não Ser, no programa Fantástico (Rede Globo), onde numa linguagem simples ela traduzia para o dia a dia alguns dos mais intrincados assuntos da filosofia.



Independentemente do curriculum impressionante da poeta, o que nos comoveu primeiramente nela foi a própria leitura de seus poemas. Tem como ver neles o sentimento da própria vida pulsando, um testemunho de quem realmente vive com a intensidade necessária para deixar com arte as marcas de seus espantos nas palavras. A poeta bate bola, (um bolão eu diria!), entre Filosofia, Psicologia e Poesia, estas três oficinas de libertários, de loucos e de sonhadores, sem nenhum tratado assinado com a verdade. E, com a força e a simplicidade de suas palavras, ela consegue extrair daí uma beleza que, ainda que triste, é bem mais aceesa ecompromissada com a vida do que o último lançamento literário exposto e festejado no mais recente “Salão da Palavra.”



Bem melhor que falar de nossas várias impressões sobre seus poemas é poder ter o prazer de degustá-los e também poder ouvir um pouco da poeta falando sobre alguns de seus assuntos. Uma boa leitura e uma semana grandiosa para todos vocês.




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Quem é Viviane Mosé?:


É capixaba e vive no Rio desde 1992. É psicóloga e psicanalista, especialista em “Elaboração e implementação de políticas públicas” pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio -Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação. Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam, o livro Beleza, feiúra e psicanálise (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos, Assim Falou Nietzsche (Sette Letras, UFOP, 1999). Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.





Como poeta, publicou seu primeiro livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no Rio, Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão ( 2001), ambos reeditados pela Record em 2006 e 2007. E Desato (Record, 2006). Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria com o artista plástico Daniel Senise. Seus poemas foram tema da Coleção Palavra, de estilistas de O estudio Costura, que desfilou no Fashion Rio de 2003. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio de Murilo Salles, (2008). Tem alguns de seus poemas musicados, é parceira da cantora Martinália em duas músicas, “Contradição” e “Você não me balança mais”, que foram gravadas por ela e por Emílio Santiago, em seu último disco. Participou de diversos eventos de poesia como a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, Feira do Livro de Fortaleza, Feira do Livro de Porto Alegre, Festival de Inverno de Ouro Preto, Festival de Teatro de São José do Rio Preto, Rio Cena Contemporânea, Festival Carioca de Poesia, Bienal Internacional de poesia de Brasília, entre outros.


Atualmente é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento e apresenta diariamente na Rádio CBN, junto com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéu, em um dos programas de maior audiência da rádio, o Liberdade de Expressão. Ao mesmo tempo, como palestrante e consultora, dedica-se a pensar os desafios das novas lideranças e as novas relações de trabalho na sociedade do conhecimento. (Dados biográficos transcritos do site da poeta).





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O QUE ELA JÁ DISSE:





Sobre o Tempo e o Poema: "O tempo não se cristaliza. Ele é sempre adiante. E o poema, por ser vazio, aberto, por não ser um conceito, é uma moldura vazada onde o tempo flui. Então o poema é um tipo de retrato do tempo. Um retrato móvel, indefinido. Acho que todo bom poema é um ato de amor com o tempo. Ou um namoro. Ou um tipo qualquer de relação. O poema nos permite ver o tempo no espelho. E não a nós mesmos. É mais ou menos assim que penso." - Em entrevista ao poeta Rodrigo de Souza Leão /autores/rodrigosouzaleao.shtmlpara o site "Balacobaco".





Sobre a Pscicanálise: "A psicanálise é uma atividade clínica que exerço há bem mais de dez anos. Acho que o que mais aprendi em consultório foi conviver com a dor. Sem dramas. Sem novelas mexicanas. No mais as histórias humanas são muito parecidas umas com as outras. " - na supracitada entrevista ao poeta Rodrigo de Souza Leão.





Sobre O que é mais importante para ela: "Transformar a intensidade em signo. É o mesmo que viver. Viver é transformar a vibração em palavra, signo. O que importa é manter os poros abertos para continuar sentindo. A coisa mais importante do mundo é ser um filtro. Recebo o tempo inteiro da vida." - Em entrevista a Ramon Mello, no site Click21.





Livros de Poemas de Viviane Mosé:



- "Escritos" - Poemas - Editora Imã - 1990 -Esgotado; "Receita para lavar palavra suja" - Coletânea de Poemas escolhidas pela autora - Arteclara - 2004; "Desato" - Poemas - Editora Record - 2006; "Toda Palavra" - Poemas -Editora Record - 2008; "Pensamento chão" - Poemas -Editora Record - 2007.





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OS DOIS POEMAS





VIDA/TEMPO





Quem tem olhos pra ver o tempo


soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele


soprando sulcos?


O tempo andou riscando meu rosto


com uma navalha fina


sem raiva nem rancor


o tempo riscou meu rosto com calma


(eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes


acho que ganhei presença)


Acho que a vida anda passando a mão em mim.


A vida anda passando a mão em mim.


Acho que a vida anda passando.


A vida anda passando.


Acho que a vida anda.


A vida anda em mim.


Acho que há vida em mim.


A vida em mim anda passando.


Acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo


na verdade faz tempo


mas eu escondia porque ele me pegava à força


e por trás


um dia resolvi encará-lo de frente e disse:


tempo se você tem que me comer


que seja com o meu consentimento


e me olhando nos olhos


Acho que ganhei o tempo


de lá pra cá ele tem sido bom comigo


dizem que ando até remoçando.





Viviane Mosé, In: "Pensamentos do chão – poemas em prosa e verso" Ed, Record





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TUDO O QUE VEJO





Era tarde nas janelas da sala,


Um gosto de tarde que eu queria lamber.


Tenho vontade de lamber as coisas que gosto,


Mesmo as que não gosto costumo lamber sem querer.


Às vezes com a língua mesmo.


Molhada e escorrida.


Outras vezes uso a língua da palavra,


Quando tem cheiros ruins


Ou asperezas estranhas ao paladar de minha pessoa,


Ou por nada mesmo por gosto


Passo a língua nas coisas que vejo


E passo as coisas que vejo pra língua.



Um Poema de Viviane Mosé.





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Um pouco mais sobre Viviane Mosé:





Para saber um pouco mais sobre esta excelente poeta, sugerimos conferir uma entrevista dada a Ramon Mello no site Click21 (veja abaixo) e ver também um vídeo de uma palestra sua no programa Café Filosófico (Rede Cultura) onde a poeta, entre outros temas, fala do "poder da palavra" e declama alguns poemas seus:





- Entrevista a Ramon Mello, no site click21: http://wwwb.click21.mypage.com.br/Myblog/visualiza_blog.asp?site=clickinversos.myblog.com.br&primpost=w06Eui2TTo7Ry73OxjS18101520378IRYHH3H0PF&inframe=T - Vídeo "O que pode a palavra", no programa Café Filosófico: http://vimeo.com/8230433 - Veja também o site de Viviane Mosé: http://www.vivianemose.com.br/






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Ilustrações: 1- foto da poeta Viviane Mosé; 2- foto da capa do livro "Escritos", de Viviane Mosé; 3- outra foto de Viviane Moisé; 4- capa do livro de poeams "Pensamento Chão".





Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.





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