Postes, bares e igrejas
Postes, bares e igrejas
“Ontem me disseram que um dia eu vou morrer
Mas até lá eu não vou me esconder”
Arnaldo Baptista
Mas até lá eu não vou me esconder”
Arnaldo Baptista
O horizonte da paisagem devora o homem.
Eduardo caminha sem direção, passos leves guiam seus pés que vão chegando a lugares novos.
Noite. A escuridão da cidade inunda seus pensamentos que se fazem vivos neste momento.
Ontem aquele prédio tombou, a luz acabou, a internet caiu.
Hoje mais uma esquina é recortada pelo medo, poluição visual, encontros vocálicos, desespero.
Eduardo segue em frente e vê os postes, bares e igrejas. Postes sujos edificam a luz que ilumina a cidade, religiosamente brilhante e ativa. Bares quase vazios, com almas perdidas que buscam refúgio, o desgaste do balcão, das cadeiras, das mesas. Igrejas diferentes: tradicionais e antigas, com sacristão e cálice, alternativas e recentes, com câmeras de TV, resquícios de garagem.
Nos olhos de Eduardo o cinza de outros olhos. De um tempo contrastante, globalizado e febril, com evoluções tecnológicas, com googles e googles de informação e com um imenso vazio.
Uma praça no meio do nada. Ali naquele lugar singelo, de encantos e horrores, senta-se Eduardo. Ali ele reflete e vê que suas paixões sugam, invadem suas entranhas, fazem transbordar uma forte tempestade no vale deserto do seu coração.
“Une chanson d’amour...”
“El dia que me quieras...”
Ilusão.
Eduardo contempla a noite, contempla a praça. O mendigo do lado de lá quer comida, o homem da outra rua quer outro homem, o homem dessa rua quer uma mulher, a mulher dessa rua quer outra mulher, a mulher daquela rua quer um homem. A criança do prédio quer um novo amigo no Orkut.
E Eduardo quer o quê?
Eduardo que voar! Quer expandir seu horizonte. Quer subverter a transitória e efêmera vida que passa correndo naquele ônibus, que vira manchete de jornal, no rádio, na TV, na internet. Não quer a vida apenas como um eufemismo para preparação pra morte. Quer ela plena!
É apenas um delírio. Nada de novo no front. Sonhos, verdades e crenças são apenas ilusões que se esvaem no cinza concreto do cotidiano? Há mistérios (caóticos ou bons) reservados pra quem busca, pra que vive humanamente sua intrínseca mesquinhez e infelicidade, mas ao mesmo tempo sua feroz vontade e subjetividade.
Um lambido de cachorro nos pés de Eduardo, gotas de chuva na sua cabeça. A chuva cai e molha a praça. Molha o mendigo, o cachorro, molha os postes, bares e igrejas.
Eduardo caminha sem direção, passos leves guiam seus pés que vão chegando a lugares novos.
Noite. A escuridão da cidade inunda seus pensamentos que se fazem vivos neste momento.
Ontem aquele prédio tombou, a luz acabou, a internet caiu.
Hoje mais uma esquina é recortada pelo medo, poluição visual, encontros vocálicos, desespero.
Eduardo segue em frente e vê os postes, bares e igrejas. Postes sujos edificam a luz que ilumina a cidade, religiosamente brilhante e ativa. Bares quase vazios, com almas perdidas que buscam refúgio, o desgaste do balcão, das cadeiras, das mesas. Igrejas diferentes: tradicionais e antigas, com sacristão e cálice, alternativas e recentes, com câmeras de TV, resquícios de garagem.
Nos olhos de Eduardo o cinza de outros olhos. De um tempo contrastante, globalizado e febril, com evoluções tecnológicas, com googles e googles de informação e com um imenso vazio.
Uma praça no meio do nada. Ali naquele lugar singelo, de encantos e horrores, senta-se Eduardo. Ali ele reflete e vê que suas paixões sugam, invadem suas entranhas, fazem transbordar uma forte tempestade no vale deserto do seu coração.
“Une chanson d’amour...”
“El dia que me quieras...”
Ilusão.
Eduardo contempla a noite, contempla a praça. O mendigo do lado de lá quer comida, o homem da outra rua quer outro homem, o homem dessa rua quer uma mulher, a mulher dessa rua quer outra mulher, a mulher daquela rua quer um homem. A criança do prédio quer um novo amigo no Orkut.
E Eduardo quer o quê?
Eduardo que voar! Quer expandir seu horizonte. Quer subverter a transitória e efêmera vida que passa correndo naquele ônibus, que vira manchete de jornal, no rádio, na TV, na internet. Não quer a vida apenas como um eufemismo para preparação pra morte. Quer ela plena!
É apenas um delírio. Nada de novo no front. Sonhos, verdades e crenças são apenas ilusões que se esvaem no cinza concreto do cotidiano? Há mistérios (caóticos ou bons) reservados pra quem busca, pra que vive humanamente sua intrínseca mesquinhez e infelicidade, mas ao mesmo tempo sua feroz vontade e subjetividade.
Um lambido de cachorro nos pés de Eduardo, gotas de chuva na sua cabeça. A chuva cai e molha a praça. Molha o mendigo, o cachorro, molha os postes, bares e igrejas.
Contribuição do leitor Rogério Arantes Luis, nascido em 1992, em São Gonçalo do Sapucaí-MG, graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cursa também disciplinas na Faculdade de Comunicação da UFJF. Tem textos e poemas publicados.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
2 comentários:
Parabéns pela elaboração e pela publicação do texto, Rogério!
6 de abril de 2011 às 10:08Este texto é brilhante: É possível entrar nele e sentir uma certa nostalgia quando ele acaba... bravíssimo, meu primo!!! Tenho muito orgulho de você...
18 de abril de 2011 às 22:59Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.