sábado, 30 de abril de 2011

Renovando a Arte: o movimento Aldravista



Em 2000, foi lançado em Mariana, interior de Minas Gerais, o Jornal Aldrava Cultural, que marca o início do movimento aldravista. O objetivo dos artistas que aderiram à produção da Arte aldravista era (e é) a criação de uma arte mais livre, sem as amarras impostas pela academia ou pela crítica elitista. Esta forma artística buscava (e busca) criar e ousar na produção de novos conceitos nas artes plásticas.
Segundo J.B Donadon-Leal (que é um dos artistas aldravistas): “Aldravismo vem de aldrava, termo que designa o utensílio com o qual se bate nas portas para que estas sejam abertas. Assim, o aldravismo pode ser caracterizado pela arte que chama atenção, que insiste, que abre portas para as interpretações inusitadas dos eventos cotidianos, em relatos daquilo que só o artista viu.[1]
A explanação feita acima deixa claro que a produção aldravista se debruça sobre o leitor, ou seja, é uma produção que, visa o contato com o receptor, aquele que lê, que sente, que interpreta, cria expectativas e que, realmente, dá vida à Arte. Dentro desse contexto, vale ressaltar que os poetas e artistas participantes desse movimento têm um importante papel social, uma vez que vão de casa em casa, batem às portas, pedem para entrar e ao penetrar nas casas, levam consigo a arte, a poesia. Eles levam poesia às casas das pessoas, semeiam a arte Aldravista nos lares e proporcionam às pessoas o desfrutar da poesia e, porque não, formam novos leitores.
“Arte aldravista é metonímica, pois não tem a pretensão de mostrar uma totalidade; contenta-se em apresentar um indício, uma metonímia.[2]” O grupo aldravista criou uma nova forma poética, chamada aldravia que “Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração[3].” Exporei abaixo alguns poemas produzidos pelos artistas aldravistas:
do sexo[4]
/
corpo
pelo
corpo
//
alma
pela
alma
///
Vibrar
:
todo
sexo
sabe
a bênção do amor
que o gratifica
e
o crime do estupro
que o bestifica
:
Deixem-no saudável
!
Outro poema aldravista:
iluminura
ferro retorcido
exposto a agruras
pendurada letra
bordada inicial
a
aldrava
a brava
abra[5]
O erotismo em Andreia Donadon Leal:

dança de estrelas
brinde na noite
céu enluarado
eu e você
efêmero sopro
de sedução[6]
E, por fim, a poesia de J. S Ferreira:
Meu
São Gonçalo
do Rio Abaixo[7]:
I- (Da infância)
Nasci na rua direita
defronte à igreja do rosário
Minha mãe dizia que eu
cabia na palma de sua mão.
Hoje, o movimento iniciado em 2000 no interior de Minas Gerais, no berço do arcadismo, expandiu-se e possui adeptos em todo o Brasil , como também no exterior. Há a produção de artes visuais, poesias, contos, crônicas, charges, além do desenvolvimento de projetos culturais e educacionais, que já são reconhecidos em todo território nacional. O desenvolvimento desta nova forma artística e dos projetos sociais de incentivo à leitura proporcionaram o recebimento de prêmios importantes como o prêmio VivaLeitura em 2009. Com destaque também para o quadro de Déia Leal intitulado “O irreversível”, exposto no C.S.S Vera – Escultura, em Granada na Espanha, hoje a tela faz parte do acervo permanente do Museu Internacional de Artes Plásticas, em Durango, México.
O Jornal Aldrava Cultural possui uma versão online também. Nele encontramos muita Arte, poesia e tudo sobre o Aldravismo. Para acessá-lo, clique no link abaixo e boa leitura!
Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras , com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.










[1] DONADON-LEAL, J. B. O que é Aldravismo. Disponível em: http://www.jornalaldrava.com.br/pag_quem_somos.htm. Acesso em 29. abr. 2011
[2] Idem. ibidem
[3] DONADON-LEAL, J. B.Aldravia – nova forma, nova poesia. Disponível em: http://www.jornalaldrava.com.br/pag_aldravias.htm. Acesso em 29.abr.2011
[4] BICALHO, Gabriel. do sexo. In:BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.17.
[5] DONADON-LEAL, J. B. “Iluminura”. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.76.
[6] LEAL, AndreiaDonadon. “dança de estrelas”. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.87.
[7] FERREIRA, J.S. Meu São Gonçalo do Rio Abaixo. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.120.

2 comentários:

Hilda Lacerda disse...

Amei, tudo muito lindo.Parabéns!

15 de abril de 2016 às 21:05
EvaldoArte disse...

Aldravia nos faz repensar e reinventar a arte, permite o telespectador descobrir um novo sentido no olhar do artista!

6 de outubro de 2020 às 22:20

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