domingo, 8 de maio de 2011

A gente quer comida, diversão e ARTE

Nos últimos dias, por um acaso, encontrei muitas notícias sobre o Rock in Rio. Depois de uma pré-venda surpreendente - segundo a organização do festival, 100 mil ingressos foram vendidos antes que todas as atrações tivessem sido anunciadas -, ontem (7) os ingressos foram oficialmente colocados à venda. O preço do ingresso mais barato é R$190 (inteira).

Também essa semana, fiquei sabendo, pela Ana Paula Nunes, que também escreve aqui, sobre o Salão do Livro de Guarulhos, que termina hoje. Não moro na cidade, mas fiquei curiosa e corri para o site ver quem ia passar por lá. “As atrações” não deixavam a desejar (deixam um pouquinho de inveja em quem não pôde ir, isso sim) e, o melhor, a entrada, todos os dias, era gratuita.
Acho que as duas informações se misturaram na minha cabeça e me peguei pensando sobre o valor que aceitamos pagar pelas coisas.

Tudo bem, quando você paga para entrar em uma bienal, ou em uma feira de livro, a intenção é que você gaste mais lá dentro, fique encantado com aquele monte de estandes (e estantes) e compre livros que nem imaginava que existiam. Mas em um show, caso você resolva beber alguma coisa (e você provavelmente vai querer, depois de ficar lá horas esperando o show realmente começar, levando em conta a “pontualidade” brasileira), também vai gastar, pagando um preço absurdo, não justificável sob nenhum ponto de vista, por uma simples garrafinha de água.

Numa feira de livros, se você puder participar de um bate-papo com autor ou de uma sessão de autógrafos, vai ter uma experiência bem mais “próxima” com o artista do que na maioria dos shows. Você pode fazer uma pergunta (privilégio geralmente reservado a imprensa, no caso dos shows), fazer algum comentário inteligente enquanto ele assina seu livro (ou só dizer “adoro o que você escreve”, ele vai entender) e ainda tirar uma foto rápida, pra mostrar pra família. Num show? Se você conseguir um lugar onde não seja amassado por todos os lados, não leve um banho de cerveja e o som esteja bom, pode se dar por satisfeito (isso provavelmente não vai acontecer).

Feiras de livro e shows são, obviamente, duas experiências completamente diferentes. Na verdade, não são coisas que se deve comparar. Existem feiras e feiras, shows e shows. Talvez a graça do show seja exatamente os “perrengues” que vem com ele, talvez feiras de livro sejam o ponto alto da arte transformada em negócio, talvez não seja nada disso ou nada disso importe.

O que me levou a fazer a comparação entre show/feira literária foi um pensamento que cruzou minha cabeça enquanto lia sobre a venda de ingressos para o Rock in Rio e sobre o Salão do Livro de Guarulhos e que resolvi compartilhar. No final das contas, cantores, escritores, dançarinos, pintores, etc, são todos artistas Fiquei pensando em como já estamos acostumados e achamos normal pagar (ou achamos normal que seja cobrado, ainda que não possamos pagar) R$ 100 para assistir a um show, às vezes de menos de 2h e com playback, dependendo do “artista”. Mas, e eu falo por mim, não acho normal (e provavelmente não pagaria) pagar o mesmo para acompanhar, por igual período de tempo, um autor falar sobre seu trabalho (ou um pintor criar um quadro, por exemplo).

Em relação a algumas formas de arte, queremos o produto final. Em outras, queremos o “movimento”. Algumas vezes, como num show, pagamos pelo momento e (além dos eventuais hematomas) só voltamos para casa com a memória. É interessante pensar o quanto estamos dispostos a pagar por elas.


Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. É editora-assistente da Contemporâneos - Revista de Artes e  Humanidades.



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1 comentários:

Ana Dietrich disse...

Queridíssima, parabéns pela estréia na Contemporartes!!!! Vc. conseguiu unir o tom informativo do jornalismo com a leveza da crônica, informa, mas faz isso com deleite e prazer. Nós, leitores, ficamos aqui aplaudindo. bjs

9 de maio de 2011 às 12:50

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