quarta-feira, 18 de maio de 2011

Narrar o inenarrável - experiência da Semana de História em UFJF



Corrida essas férias quadrimestrais da UFABC. Pulando de um estado a outro, de Paraná da Ilha do Mel a Minas dos amigos de Juiz de Fora, de Minas a Rio de Janeiro com banca de qualificação de aluno, do Rio a São Paulo que me recebeu com esse frio estarrecedor, meus dedos quase congelam agora ao digitar. 
Em Minas, participei da XXVIII Semana de História dando a conferência Preconceito, Racismo e Antissemitismo da Segunda Guerra aos dias de hoje na última quinta-feira (12) e em Santo André, ontem (16), coincidentemente, participei de outra Semana de História, essa organizada pela Uniabc, na qual falei sobre a Tropicalização do Nazismo, o tema de meu doutorado. Foram experiências ótimas - ter novamente contato com os historiadores ou futuros - responder suas inteligentes indagações. Em Minas, reencontrei os "contemporâneos de Juiz de Fora", o grupo que me apoia na edição da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades na qualidade de editores-assistentes. O olho no olho foi bom para planejar novos sonhos e alçar novos vôos.
  Auditório da UFJF/ 12.05.2011. Conferência sobre antissemitismo

Das duas conferências, me marcou em especial a discussão sobre memórias traumáticas e essa pretendo resumir aqui. Como nominar o inominável e narrar o inenarrável? Difícil, quase impossível para os sobreviventes dos campos de concentração. Em primeiro lugar, a experiência por si só é traumática o que dificulta a narrativa. Complica-se ainda mais porque a espécie de terror vivido foi tal que não se conseguia narrar o que foi  tão duramente experimentado por esse grupo. Ainda mais faltava-se a escuta. Quem porventura escutasse não tinha códigos suficientes para desvendar a essência da mensagem. Como escreve Primo Levi: "por que o sofrimento de cada dia se traduz constantemente em nossos sonhos, na cena sempre repetida da narração que os outros não escutam?" A consequência disso foi os sobreviventes voltarem calados para suas casas. Aquilo tudo não seria narrável por palavras.


O antissemitismo pode ser entendido como um catalizador do movimento nazista. Entender a especificidade do genocídio judeu significa pensar a morte em grande escala, em escala de indústria. Um mal estar do homem moderno. Não pensá-lo somente a partir da matança nos campos, mas a partir de toda uma Política de Estado que foi arquitetada com o objetivo de minar um grupo de seres humanos da face da terra. Lembrando rapidamente a cronologia, em 1933, com a ascensão de Hitler, começam os boicotes econômicos aos judeus, 2 anos depois, em 1935, são promulgadas as leis de Nuremberg que propunham separar - com arcabouço legal - os chamados arianos de não-arianos. Em 1938, acontece a Kristallnacht, noite dos vidros quebrados. Nesse momento, muitos judeus foram assassinados e sinagogas destruídas. O genocídio acontece como uma continuidade dessa política.
Walter Benjamin ao analisar a experiência das narrativas dos sobreviventes diz que pode acontecer um declínio da experiência (Verfall der Erfahrung), daí então, se observa o silêncio no lugar da memória.
Hoje em dia, felizmente, são muitos os projetos que visam o registro dessas narrativas. Não podemos deixar de dar sua devida importância lembrando do perigo, sempre latente, das correntes revisionistas e negacionistas.

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Exposição Contemporartes 14X Artes se encontra agora do Instituto de Artes da Universidade Federal da UFJF (Juiz de Fora/MG). Visitem!



Fotos da reunião dos Contemporâneos em Juiz de Fora em 11 de maio de 2011









Com muito pão-de-queijo para espantar o frio da noite, foram definidos vários projetos para as duas revistas, entre eles, a definição dos temas dos próximos dossiês e um evento para lançamento do próximo nr.



Ana Maria Dietrich é editora-chefe da Contemporâneos-Revista de Artes e Humanidades e coordenadora junto a Rodrigo Machado da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural. Profa. Dra. Adjunta da UFABC.

1 comentários:

Márcia Mura disse...

PARABÉNS ANA! bOM SABER DE SEUS CAMINHOS TRILHADOS FALANDO EM CAMINHOS ESTOU DE VOLTA A USP PASSEI NO DOUTORADO.
ABRAÇOS

25 de junho de 2011 às 17:03

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