sexta-feira, 6 de maio de 2011

O garoto de Liverpool






 “(...) qualquer imagem de qualquer época, mesmo que seja manipulada, pode ter seu valor enquanto documento. (...) Todas as imagens tem uma função. (...) A Elite pensante, em qualquer geração ou situação, corre um perigo muito grande. O de torcer o nariz para o que seja popular. (...) o ruim, na pior das hipóteses, nos ajuda a discernir o que é melhor”.


Leon Cakoff, in Os Filmes da Minha Vida, São Paulo: Imprensa Oficial, 2010
Aaron Johnson (Kick-Ass)  como Jonh Lennon
Os filmes cinebiográficos sempre esbarram de cara em um problema genuino: ninguém em sã consciência poderia pensar em relatar  toda a vida de uma pessoa em apenas um filme. Mesmo existindo livros bons de biógrafos dedicados para os roteristas se basearem, um filme sempre será um filme, com as limitações próprias do meio. Então, o cinema, para dar uma contribuição importante, quando se compromete com uma obra biográfica, deve apresentar um recorte, ou seja, dar  prioridade a uma época, a um evento ou a uma fase na vida da personalidade da qual o filme se propôs a tratar.
Lennon e seu primeiro Violão (Imagens do filme)

Algumas experiências de cinebiografias produzidas no Brasil, não conseguiram deslanchar  pois eram extensas, monótonas ou novelescas demais, sem propósitos bem definidos, como foi o caso de: Villa Lobos, uma vida de Paixão ou Olga. O recorte é necessário e imprencidível pois é melhor trabalhar com um foco no Story Line do que tentar dar conta de  toda uma vida. É provável que o melhor filme biográfico brasileiro da atualidade seja Cazuza, apesar de mostrar um Cazuza um pouco afetado demais; porém nós, espectadores, podemos nos emocionar com algumas músicas entoadas no filme e com a coragem de Cazuza ao enfrentar suas dúvidas, inquietudes e até mesmo sua doença.
Mimi, tia e mãe adotiva (imagens do filme)

O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy, 2009), dirigido por Sam Taylor-Wood, estreou no Estados Unidos dia 8 de outubro de 2009, véspera da comemoração de 70 anos de nascimento de Jonh Lennon, e conseguiu um recorte interessante. O filme retrata a vida de Jonh entre seus 15 e 20 anos, época em que descobriu o rock n' roll, formou sua primeira banda The Quarrymen e conheceu Paul McCartney e George Harrison. O roteiro, escrito por Matt Greenhalgh, nos apresenta a fase na vida de Jonh em que ele descobre  a música e seus primeiros contatos com os instrumentos musicais, privilegiando também sua adolescência conturbada. Todos sabem a história dos Beatles mas quase ninguém sabe a história de Lennon antes dos Beatles. Um fato relevante em relação ao protagonista é que Aaron Johnson, de Quebrando tudo (Kick-Ass ), fez o papel de Jonh Lennon, apesar de não possuir nenhuma semelhança física com ele. Assitindo ao filme, por alguns instantes procurei a semelhança entre ambos, depois gostei de sentir essa forma distanciada de encarar o personagem. Diferente do que aconteceu no filme Cazuza, que em alguns instantes poderia se fazer uma pequena confusão entre personagem e ator. Para mim, isso mais incomodava do que ajudava em Cazuza, fato que não se repetiu em Garoto de Liverpool.
As irmãs: Julia, mãe e Mimi, Tia ( imagens do filme)

O filme foi  baseado no livro Imagine This: Growing Up With My Brother John Lennon, escrito por Julia Baird. Jonh parece fadado a viver relações conflituosas com as mulheres que fizeram parte de sua vida: Sua mãe bilógica Julia (Anne Marie-Duff) não o criou, sua tia Mimi, que o criou (Kristin Scott-Thomas) o tratava com frieza e tinha ciúmes dele com sua própria mãe e mais tarde na vida real, Yoko Ono, casamento que gerou muita polêmica.
Vale a pena assistir ao filme pela impecável representação da época, pelas atuações dos atores e para saber mais sobre Lennon antes dos Beatles. Portanto, não esperem muitas músicas e imagens dos Beatles.
Acredito nas palavras de Leon Cakoff que citei acima, os filmes biográficos tem um potencial histórico inegável e este é uma bela representação da vida de Lennon.

Bom filme!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na FPA no curso de Artes Cênicas e na UNIP nos Cursos de Comunicação.

1 comentários:

Unknown disse...

Eu discordo com a Kátia em um ponto: Aaron se parece sim com Lennon garoto, muitíssimo pouco, porém o suficiente para evocar sua imagem e para distanciar a interpretação do ator da figura tão marcada de John Lennon.
O filme é maravilhoso!

8 de maio de 2011 às 17:46

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