segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Poeta Paraense Max Martins!













Um Pouco sobre o poeta Max Martins


por Altair de Oliveira





Esta semana apresentamos um pouco da poesia do grande poeta paraense Max Martins (1926-2009), autodidata, que surgiu na literatua na década de 50 com o seu livro de poemas "O Estranho" em 1952 e, a partir daí, dedicou toda sua vida à poesia, sendo incorporado aos grandes nomes da vanguarda literária e tendo produzidos contundentes versos de rara beleza na poesia contemporânea.





É curioso observar que Max Martins concluiu apenas o ensino primário, mas que o gosto ao estudo, sobretudo o estudo da poesia fez com que ele sempre se portasse no mundo como um aluno apaixonado da arte da palavra. Inicialmente incentivado pelo professor Francisco Paulo do Nascimento Mendes (o Chico Mendes), o poeta, que já gostava dos autores românticos e parnasianos da biblioteca de seu pai, passou a interessar-se pelo autores modernistas (Mário e Oswald de Andrade, Drumond e Murilo Mendes). Surge desta influência o seu primeiro livro "O Estranho".



Na década de 50, o poeta foi convidado a participar de um grupo de estudos literários, liderado pelo professor Chico Mendes, do qual participava nomes como Benedito Nunes (grande amigo do poeta), Mário Faustino, Ruy Barata, Paulo Plínio Abreu e o americano Robert Stock, que na época morava em Belém . O grupo se reunia no terrace do Central Café para a leitura e discussão de ensaios literários e apresentação e indicação de autores e dos movimentos literarios de vanguarda. Daí surgiu o amor e o primor do poeta pelas palavras que, já a partir de seu segundo livro "O Anti-Retrato" (1960), ele passou a demonstrar.





Batante conhecido e celebrado no Pará, o poeta teve seus poemas traduzidos e publicados em países como Estados Unidos, França e Alemanha e fez várias oficinas, leituras de poemas e palestras sobre poesia, inclusive nas universidades americanas de Columbia, St. Louis e Rolla, em 1987. No entanto Max Martins, devido talvez à omissão da crítica literária acadêmica e jornalística do centro do país ou à miopia avançada que o nosso mercado editorial costuma ver a poesia, tem sua obra pouco divulgada nacionalmente, o que é realmente lamentável.






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O que já disseram dele?





"Com ele a palavra sempre atinge o além do possível. Uma palavra qual esfera esquiva, cuja superfície se compõe com o movimento de muitas passadas. A cada passo, giram-se os significados e despoja-se o signo dos sentidos habituais, automatizados, para que germinem outros campos semânticos. A mão que move as arestas, os espelhos as faces dos verbos move-se com cautela, apesar de impor-se inquieta e persistente; incontrolavelmente insatisfeita. Em sua faina, tudo que ressoe a significado conta. Todas as maneiras de dizer o verso, qualquer impostação vocabular. Tudo ao derredor participa de sua lavra, de sua fortuna poética para que se conjugue à colheita a diversidade e o múltiplo. Forma, disposição da grafia, cor, ritmo, sonoridade, disjunção e conjunção de elementos significativos, o espacejamento que se dota de valor, a palavra em sua integridade ou o fragmento, às vezes farrapos de palavras, prefixos que ganham o mundo sozinhos desmembrados de seus radicais; colagens, grafismos, o desenho, a visualidade, a imagem, um tudo compósito preenche os espaços da página em branco sob as flexões dos dedos de Max Martins, este poeta paraense para quem a construção, a fruição da poesia é ato vital, jamais a gesticulação do banal e passageiro." Amarílis Tupiassu, doutora e professora de Literatura da Universidade da Amazônia - UNAMA.






O que ele disse que a poesia é:







"Eu não sei, busco saber o que seja. Pergunto para ela... A poesia é sempre uma dúvida. Começa que a palavra que a gente tem a ilusão... mente a si mesmo de que a palavra é a coisa, mas nunca é a coisa. É como diz o mestre zen budista: Não confunda a lua com o dedo apontando para a lua."







Livros Publicados:



- "O Estranho" - 1952; "Anti-Retrato" - 1960; "H'Era"- 1971; "O Ovo Filosófico" - 1976; "O Risco Subscrito" -1980; "A Fala entre Parênteses" - 1982 — em parceria com o poeta Age de Carvalho; Caminho de Marahu, 1983; "60/35" - 1985; "Não para Consolar"; "Poesia Completa" - 1992; "Para Ter Onde Ir" - 1992; "Colmando a Lacuna" e "Poemas Reunidos (1952-2001) - 2001.



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ALGUNS POEMAS




A CABANA





É preciso dizer-lhe que tua casa é segura
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira
E que tua casa não é lugar de ficar
mas de ter de onde se ir.



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A FERA



Das cavernas do sono das palavras, dentre
os lábios confortáveis de um poema lido
e já sabido
voltas
para ela - para a terra
maleável e amante. Dela
de novo te aproximas
e de novo a enlaças firme sobre o lago
do diálogo, moldas
novo destino
Firme penetra e cresce a aproximação conjunta
E ocupa um centro: A morte, a fera
da vida
te lambendo





Poemas de Max Martins, In: "Para ter Onde ir" - 1992





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A FALA ENTRE PARÊNTESIS
- 6 -



Já não há mais sonhos Lá e amamos rastros
gastos no asfalto onde se arrasta a asa, resto
pútrido de um vôo que exalto e cito, excita-me
contra a parede e ex'ala a vício
fala entre parêntesis
(Negro,
negro pêlo caligráfico
que recobre selvagem o sexo escrito,
sinuoso grafito gravado no muro:
O SONHO ACABOU
O carro-olho velocíssimo. Os girassóis
lançando-se obscenos aos fachos de luz,
faro luminoso. Na estrada. Seguimos)





Poema de Max Martins, In: "A Fala Entre Parêntesis" - 1982





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RASURAS



"Um buraco sem fundo cheio de palavras " - Hakuin



Meu nome é um rio
Meu nome é um rio que perdeu seu nome
Um rio
nem sim
nem não
Nenhum
Somenos correnteza
Água masturbada em vaus
peraus
em po
luído orgasmo entre varizes
Sêmen sem mim
Mesmice
Onde está meu nome Lá neste rio de lama sem memória e
rumo?
Neste amarfanhado leito de inchada falha?
Meu nome é um rio cotoco - um Ícone

De barro
barroco
Um rio que só se-diz
Seduz-se
Se afaga e afoga
em ego e água: Aquário
Meu nome é um rio tapado
(poço)
E aqui se quebrantou meu nome
sua viagem e osso
É esta a sua fissura? E o seu rosto é este
escuro
atrás da porta
espelho
exposto à febre
à fera de si mesmo?
Ensimesmado
meu nome é um rio que não tem cura






Poema de Max Martins, In: "O Risco Subscrito" - 1980




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Para Ler mais sobre Max Martins:







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Ilustrações: 1- foto do poeta Max Martins; 2- outra foto do poeta Max Martins; 3- aquarela do pintor Rubens Guerchman; 4- quadro do surrealista Reneé Magritte.




Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.

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