quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vila ferroviária, Paranapiacaba.





No dia 04/05/2011, apresentei, por meio de textos e images, a Vila de Paranapiacaba para uma turma da Melhor Idade no projeto de extensão do Centro Universitário Fundação Santo André. Foi muito rico e satisfatório ver neles o anseio em apreender mais. Nesta coluna, divido com os leitores um pouco do que apresentei no dia.

A Vila de Paranapiacaba foi idealizada com intuito de atender as necessidades para a implantação da primeira ferrovia do Estado paulista: a Estrada de Ferro São Paulo Railway, projeto que visava ligar o oeste de São Paulo ao porto de Santos. Por volta de 1830, Alfred Mornay inicia os estudos de um projeto voltado para articular o porto de Santos com a zona produtora rural situada no oeste paulista, no entanto, não foi aprovado pelo engenheiro Robert Stephenson, filho de George Stephenson - o inventor da primeira locomotiva a vapor, que participou da construção da estrada de ferro entre Manchester e Liverpool, na Inglaterra, as primeiras estradas de ferro do mundo.

Somente, em 1856 foi concedida a construção pelo governo Imperial ao Barão de Mauá, Marques de Monte Alegre e José Antonio Pimenta Bueno, no entanto, não havia recursos financeiros para a sua consolidação. Foi então, que Barão de Mauá entregou ao engenheiro inglês especializado em construções ferroviárias James Brunlles e, de acordo com o interesse mercantil de escoamento preponderantemente o café e também as de fontes de energia, matérias-primas, extrativismo vegetal e mineral, voltados para a construção civil, também tinham interesses nos gêneros alimentícios e nos derivados de argila.

Esses insumos eram cultivados no interior paulista uma região de difícil acesso, portanto, com o intuito de escoar essas mercadorias para o Porto de Santos de forma mais eficaz, além do interesse de consolidar um mercado consumidor, foi autorizada à construção com o investimento inglês. Como no Brasil não havia “mão-de-obra qualificada” para tal trabalho foi necessário à vinda de engenheiros ingleses para a efetivação do projeto ferroviário.

Trecho da serra, sistema funicular. Acervo RFFSA

A escolha para estadia inglesa em terras brasileiras não foi escolhida aleatoriamente, a similaridade do clima desta região serrana com o inglês foi um dos determinante para que a constituição do distrito Vila Paranapiacaba, primeiramente denominado Alto da Serra, se torna a materialização deste advento histórico. De fato, toda a bagagem vinda destes engenheiros tiveram total influência para a construção desta Vila, que também foi selecionada devido a sua localidade, inicialmente, não tinha o planejamento de uma estação, posterior a esse fato ela era a ultima parada antes de chegar ao porto. Com o início da construção da estrada de ferro liderada pelo engenheiro inglês Daniel Makinson Fox, este adotou o sistema funicular devido o planalto paulistano localizada na Baixada Santista ser muito íngreme, com cerca de 800 m de altitude, havia uma maquina fixada a vapor por meio de cabos de aço tracionavam em quatro rotas as composições. Em 15 de maio de 1860, foi projetado um acampamento para os trabalhadores do sistema ferroviário e por causa da manutenção alguns deles tiveram que residir na região, naquele período era denominado: Alto da Serra.

De 1860 a 1861 entre 1884 a 1885, o café apresenta-se favorável, sendo o Brasil o principal país produtor mundial. Os superávits ajudaram o país a se equilibrar e os novos empréstimos eram destinados ao desenvolvimento interno, principalmente as estradas de ferro.

Grota funda, com 90 metros de altitude.

O primeiro trecho da ferrovia paulista ficou pronto em 1864 e, em 16 de fevereiro de 1867, foi inaugurado o sistema funicular, inicialmente com duas viagens por dia. Este primeiro sistema foi denominado Serra Velha, funcionou no período entre 1860-1899. Devido à expansão da economia cafeeira e dos interesses de atender o mercado agro-exportador, a estrada de ferro foi um meio fundamental para a circulação de mercadorias, este sistema tem como objetivo articular Santos – São Paulo – Jundiaí. A introdução do sistema ferroviário facilitou o desenvolvimento do comércio e da produção agrícola no interior de São Paulo. Os operários ainda tinham a moradia provisória, viviam acampados.

Acampamento e ferrovia. Foto de Militão.



Foto de Militão, acampamentos no patamar e ao fundo uma serrabreque.

Com a expansão do cultivo do café, rapidamente, torna-se preciso ampliar a ferrovia, assim em 1896 inicia-se a construção da estrada férrea e como também foi construída a casa do engenheiro-chefe, conhecida Castelinho e a Vila Martim Smith, com casas de madeira e telhados em ardósia estilo arquitetônico inglês para os trabalhadores da empresa, uma região com um planejamento urbano projetado pela companhia. Para atender a população regional e por sua localidade ser estrategicamente moldada para atender os interesses do escoamento das mercadorias pela ferrovia, este distrito foi fragmentado numa construção de duas áreas ou núcleos, uma vila pertencia à companhia S.P.R.: a Vila Martim Smith e o outro a Parte Alta conhecida também como Morro, a qual era voltada para comerciantes desde 1860, para atender a população que morava nesta região, os trabalhadores, em sua maioria, imigrantes portugueses que não queriam sair da vila mesmo depois de aposentados.


Anúncio publicado no jornal O Estado de São Paulo em 26/8/1892

O Segundo Sistema Funicular foi inaugurado em 1900, em outubro começou a funcionar e foi entregue ao público em 28 de dezembro de 1901, denominado também como Serra Nova. Para tracionar as composições nas subidas e decidas entre Raiz da Serra (Piaçanguera) e o Alto da Serra era preciso desmembrar os conjuntos dos vagões, que eram conduzidos pela a locomotiva Locobreque, por volta de 10 km e no caso de uma precisão a locomotiva se prendia a um cabo de tração no centro dos trilhos, este cabo que rebocava o conjunto, para descer a Locobreque e vagões prendiam-se para equilibrar e não cair. Formado com cinco rampas com 2 km de distancia e cada uma com sua maquina está a vapor fixa.


"Serra Nova" e "Serra Velha". Foto de Militão.

A companhia S.P.R. operou até expirar o prazo da concessão em 13 de outubro de 1946 e ser de posse da Estrada de Ferro Santos – Jundiaí.

Antiga Estação Alto da Serra. Arquivo publico do Estado de SP

“Com o sistema aderência-cremalheira, desapareceu o primeiro plano inclinado construído na década de 1860. O Segundo Plano Inclinado continuou em atividade até 1982, sendo então desativado comercialmente. O mesmo, de 1896 a 1990, mais ou menos, no trajeto que corresponde à ligação do Quinto Patamar na Vila de Paranapiacaba com o Quarto Patamar, na Grota Funda, foi operado, precariamente, por funcionários de uma entidade civil denominada ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária). O mesmo se dava aos fins de semana, apenas para atender fins turísticos. Paranapiacaba, portanto, pode ser considerado patrimônio de interesse internacional pelos seus famosos sistemas funiculares de cabos de aço que tracionavam os trens: o primeiro, inaugurado em 16 de fevereiro de 1867, e o segundo, em 28 de dezembro de 1901.” Prof. Issao Minami, Departamento de Projeto FAUUSP


Trabalhadores da SPR. Acervo RFFSA

"Paranapiacaba é tipicamente uma vila construída por uma empresa, para a instalação e controle da vida dos seus funcionários. /.../ A Vila de Paranapiacaba é um conjunto urbanístico. O seu valor excepcional não está na qualidade do projeto arquitetônico ou urbanístico, com traçado relativamente simples. A excepcionalidade está no fato de que nós nunca tombamos no Brasil, locais de trabalho e locais de habitação do povo. /.../ a importância desse exemplo, é a de um conjunto urbanístico representativo de um ciclo histórico do Brasil e um dos primeiros casos, se não o primeiro, de uma vila que foi construída para trabalhadores brasileiros, e que é representativa desta parcela da população, da vida urbana brasileira que nunca foi reconhecida." (Nestor Goulart Reis Filho, 2004)

E até o próximo mês,

Soraia O. Costa graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Pesquisadora e documentarista do projeto "Transformação sensível, neblina sobre trilhos" sobre a memória social e o patrimônio ferroviário na Vila de Paranapiacaba - apoio institucional CUFSA, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Ministério de Cultura e Educação MEC/SEsu. Integrante do Movimento Artístico de Ocupação Urbana.

4 comentários:

Soraia O Costa disse...

Conforme apontamento de um leitor referente ao termo utilizado no começo do texto "apreender", gostaria de esclarecê-lo com a citação do educador Paulo Freire: “O professor aprende ao ensinar e o aluno ensina ao apreender”.

11 de maio de 2011 às 12:05
McGigliotti disse...

na legenda do viaduto da grota funda, o correto seria 90m de altura.

7 de novembro de 2013 às 22:56
McGigliotti disse...

na legenda da quarta foto, o correto seria serrabreque, pois esse funicular era o primeiro sistema funicular da serra e a locobreque somente rodava no segundo sistema funicular.

7 de novembro de 2013 às 22:58
Soraia O Costa disse...

Corrigido.
Muito obrigada @McGigliotti!

22 de novembro de 2016 às 18:07

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