quarta-feira, 22 de junho de 2011

Do Cinza ao Dark: Região do ABC?







Na terça-feira passada fui convidada à participar de um ciclo de palestras muito interessantes que possui como foco a troca de informações entre pessoas, sejam elas estudantes ou intelectuais, mas que tenham interesse em estudar a cidade de Santo André. Sempre me interesso em participar de coisas assim pois sei o quanto isto me auxilia para continuar minha investigação em relação ao que chamo do Cinza ao Dark.
Nesto último encontro assisti a palestra de Cecília Cardoso Teixeira de Almeida com um tema no mínimo instigante: Grande ABC paulista - O fetichismo da região. Cecília explicou que este tema foi sua tese de doutorado, problemática que começou a ser discutida entre professores que lecionam no Centro Universitário Fundação Santo André. A pergunta parece fácil de ser respondida mas não é. Afinal, existe a Região do ABC?
Foto: Brasão de Santo André foto: Brasão de Rio Grande da Serra foto: Brasão de Mauá

Esta pergunta sempre aparece quando vou escrever pois apesar de já ter utilizado o termo região nunca tive a total certeza de que estava correta. Ao delimitar meu objeto de estudo, que consiste no trecho da linha férrea entre LUZ-Rio Grande da Serra, as cidades Diadema e São Bernardo do Campo nunca se encaixavam porque a linha férrea não corta estes municípios. Ao estudar o segundo surto de industrialização de SP encontrei a linha férrea e seu entorno como o caminho mais fiel para se mostrar o quanto a mudança na forma de organização do trabalho promoveu mudanças drásticas na paisagem de bairros e cidades que possuem esta alternativa de transporte. Mas o problema em relação ao termo Região do ABC persiste.


Primeiramente Cecília explicou que o termo região no ponto de vista geográfico consiste em uma unidade de identidade. Desta forma sua tese é um confronto entre a ciência geográfica e o que diz respeito à dinâmica regional. A partir disso temos que analisar qual o processo que levou estes sete municípios distintos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Diadema, serem considerados uma região.

Como não poderia ser diferente Cecília iniciou seus estudos por um ponto comum com meu objeto: A transformação no perfil produtivo da então região, ou seja, a implantação do Toyotismo e a perda dos postos de trabalho no setor industrial decorrente desta ação. De fato estes sete municípios estavam em transformação, mas não em relação ao seu PIB, mas a paisagem de grandes indústrias como a G&E se transformaram em Shoppings, Hotéis ou ficaram como uma grande montanha de escombros. Na via férrea isto é latente, mas ocorreu também em cidades como São Bernardo e Diadema, casos que pela minha delimitação, estudo no máximo ao confrontar a opção ferroviária com a rodoviária e mesmo assim consigo encaixar apenas São Bernardo do Campo. Por isso eu também já me perguntei várias vezes se de fato esta região existe.

Mas ao utilizar da nova organização do trabalho, o Toyotismo, Cecília constatou que do ponto de vista geográfico o padrão de localização das fábricas não caracteriza os setes municípios como uma região. Fator que mesmo ao utilizar da via férrea como caminho também se chega à mesma constatação. Então não podemos afirmar que a região do ABC é região por ser considerada um conglomerado industrial.
foto: Brasão de Diadema foto: Brasão de São Bernardo do Campo

A partir disso Cecília investigou o que poderia ter ao menos forçado este termo, se não podemos levar em consideração a industrialização e suas mudanças na organização do trabalho e da produção, o que de fato levou estes sete municípios a serem considerados uma região? Uma das respostas pode estar relacionada ao surgimento do Consórcio Intermunicipal do ABC. Segundo ela estudar o surgimento do Consórcio é entender o quanto ele condensou estes sete municípios e impôs de certa maneira que estes constituíam uma região.

É necessário explicar que Cecília não utilizou como base geógrafos de viés tradicional ou apenas os dados do IBGE, critérios extremamente positivistas para analisar se existe a região do ABC. Segundo a própria Cecília: " As cidades-regiões redundam como resultado prático do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e de tudo que delas decorrem. As inovações-técnico científicas, as redes de comunicações e transportes, tendo o próprio neo-liberalismo como ideário, refundaram o papel dos Estados nacionais, incongruentes aos formatos traçados pelos procedimentos da anterior forma de regionalização".
Foto: Brasão de Ribeirão Pires Foto: Brasão São Caetano do Sul

Neste contexto Cecília explica que a partir da década de 90 os municípios precisavam se adequar aos novos ditos do capital e, primeiramente com cunho puramente ambientalista nasce o Consórcio Intermunicipal das bacias do Alto Tamanduateí e Billings. Em um primeiro momento o consórcio visava coordenar e articular as diversas prefeituras no que dizia respeito aos recursos hídricos. Mas como neste ano três das sete prefeituras estavam em poder do PT - Partido dos Trabalhadores- o consórcio já visava uma retomada do crescimento regional visto que haveria uma articulação melhor entre os prefeitos de um mesmo partido.

foto: logo do Consórcio, força motriz.

O Fórum permamente de discussões de Santo André surge em 1991 em que participavam comerciários, sindicalistas e industriais, frentes que de fato precisavam discutir o deveria ser feito, visto que as novas necessidades do capital os atingiam de forma direta. Este Fórum passa a forçar o tratamento de um problema comum de acordo com os sete municípios, sem que os indivíduos que compõem esta tal região se colocassem como membros, enfim pouco sabemos o que levou a sermos conhecidos como região do ABC, mas é nítido que não partiu de uma identidade efetiva entre as cidades.
foto: Região do ABC. Afinal, ela existe?


Isto é real pois quem mora em um dos municípios já ouviu diversas "piadinhas" entre as cidades. Por exemplo é muito comum moradores de Santo André fazerem piadas de moradores de Mauá, chamá-los de caiçaras ou algo do gênero. E quem é de Mauá diz que Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não existem. Moradores de São Bernardo do Campo fazem piadas com moradores de Diadema, moradores de Jáh. São Caetano do Sul é colocado como cidade modelo, mas para quem vive na divisa entre São Caetano e Santo André reclama do "empurra" que existe entre as cidades, por se tratar de uma área extremamente carente. Mas a verdade é que existem muitos moradores de São Bernardo do Campo que nunca foram à cidade de Rio Grande da Serra e moradores de Santo André que não conhecem a Vila de Paranapiacaba. Em termos de identidade é correto afirmar que de fato não nos tratamos ou nos colocamos na vida cotidiana como região.

Este imposição ficou mais nítida quando o Governo do Estado cria um decreto de "Produtividade e de Competitividade" com o estabelecimento de Câmaras regionais, e em 1997 instalou-se a Câmara do Grande ABC. O que isto significa? Ora, nada mais prático do que obter indicadores econômicos favoráveis por meio de disputas entre os municípios.

Na realidade constatamos que a Região do ABC existe, pelas próprias palavras de Cecília: "Ora, os pilares que a sustentam decorrem diretamente da lógica produtiva, porquanto a meta imposta ás cidades de ultrapassar a performance de seus arredores; as ações em acordo somente teriam lugar quando acenadas vantagens concretas e significativas que àquelas conquistadas de modo individualizado".


Cecília Cardoso Teixeira de Almeida é Doutora e atualmente leciona na Pós-Graduação no Centro Universitário Fundação Santo André. Agradeço de coração sua dedicação em tratar de um tema tão complexo e que nos auxilia a entender melhor o dinamismo de nossas relações.


O evento é um Programa de Ação Educativa e Cultural

Local:Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa
Rua Senador Fláquer, 470 - Centro -Santo André
Informações das próximas palestras: 4438-9111/4436-3457
museu@santoandre.sp.gov.br

E fica a pergunta a todos os moradores destes sete municípios, afinal você se considera morador da Região do Grande ABC? ou apenas de sua cidade específica? Comentem!













2 comentários:

Ju disse...

Acredito também que o rotulo adotado a região do ABC foi decorrente do crescimento industrial e dos 3 nomes das cidades, até mesmo porque para diferenciar-se da regiao metropolitana de São Paulo que tbem estava em crescimento, era preciso diferenciar-se. Mas hoje em dia, estas siglas somente nos remetem a facilidade de encontrar a regiao nos mapas disponiveis na rede. As piadas e brincadeiras que escutamos sobre estas regioes ainda sim nos diz a falta de respeito mutuo do ser humano, esquencendo que fazem parte de uma sociedade em crescimento - indiferente da região adotada como moradia. Eu me considero uma paulistana, pois nasci em São Paulo(Bras) me criei e vivi ateh os 20 anos na divisa entre Santo André e São Paulo e agora escolhi como morada o proprio centro de São Paulo. Existente ou não, a região ABC me formou como pessoa e sobrevivi as piadas dos ditos paulistanos que o ABC não passava de uma cidade do interior muito proximo a região metropolitana de São Paulo, onde só existiam caipiras, indíos e qquer outro adjetivo pejorativo...

22 de junho de 2011 às 09:51
Soraia O Costa disse...

Marina,

Muito obrigada por compartilhar!

27 de junho de 2011 às 14:33

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