Alguns poemas de Rudinei Borges
[Meninos da Sétima Rua]
Tenho saudades do que é breve
e vai para além dos barcos.
Esvai com a alvorada.
Saudades do menino cálido,
que se perdeu nos campos
entre o cais e o beco
e a tenra ilusão dos fósseis.
Saudades daquele menino:
amante das ruas,
andarilho das tardes.
O meu menino.
Eu mesmo.
[Nascimento de Maria Fernanda]
Não tenho razões
para ser
maior que o tempo.
Nem menor
que o instante vago.
Sou apenas o vento
e estou onde quero
como se não quisesse nada.
[Nascimento de Thiago Gonçalves]
Tenho que prenunciar o cais,
as mulheres grávidas,
o pasto e a cerca.
O ombro dos pais
quando é tempo de colheita.
A mão das mães
diante do fogão à lenha.
Tenho que prenunciar a tarde.
[Catedral de Sant’Ana]
Quem é livre
quando calam os sinos
e os candelabros?
Quando a manhã parte
levando os montes?
Ninguém é livre
quando não ama
a intensidade da chama.
Só é livre
a alma branda
quando a paixão doma
a carne
e as marés lentas
tocam cítaras.
[O poeta]
Parece estar mais próximo do outro mundo. Está. Quando dorme a profundeza do sono o poeta rompe a porta das coisas e vai às ilhas que ninguém conhece.
Vê na flor não o que a flor não é. Vê na flor o singelo encanto e furta das pétalas a luz do dia.
A lamparina acesa atravessa a madrugada. Junta o alfarrábio e o tinteiro à escrivaninha. Tece metáforas em silêncio como se contasse segredos a ninguém.
Consigo já não pode. Nem com os demais.
Chora aqueles que perderam a amada.
Sente na mão a dor das chagas,
porque nele todas as dores se encontram.
Nasce a poesia.
E o poeta devolve às pétalas
a luz do dia
tecida em palavras.
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