sexta-feira, 22 de julho de 2011

Meia noite em Paris de Woody Allen: as badaladas da igreja faz Gil voltar no tempo.



Paris de Monet.
Ah, Paris… Difícil resistir ao encanto desta charmosa cidade. Imaginem poder voltar no tempo e conhecer pessoalmente Picasso, Hemingway, Dalí, Mondrian, Gertrude Stein, Luis Buñel, Scott e Zelda Fitzgerald? Ou quem sabe passear num carro antigo com Hemingway recitando, ao pé do ouvido, frases ácidas sobre o amor, o medo e a morte? Ficaram com vontade? Então é só assistir “Meia Noite em Paris”, 2011 (Midnight in Paris) e embarcar numa viagem pelo túnel do tempo em direção a Paris dos anos 20. Pela ótica de Gil (Owen Wilson), é possível vivenciar momentos fantásticos como uma conversa com Picasso e Gertrude Stein ou ver o jazzista norte-americano Cole Porter tocando piano e ainda, como em um bônus especial, a viagem lhe dará direito a uma passagem rápida num cabaré qualquer da “Belle Époque” para ver Toulouse Lautrec, Gauguin e Degas juntos. Imperdível !

Este Peugeot 184 Landaulet é o tunel do tempo 

“Meia noite em Paris” é mais uma obra prima de Woddy Allen que nos propõe  uma reflexão, mais filosófica do que histórica, a respeito do tempo, das conquistas e dos valores humanos. A “cidade luz” não é apenas pano de fundo da história: ela está lá, exposta, como uma encantadora personagem para contracenar com quem a visitar, em qualquer época. Fotografada por Darius Khondji e entoada por músicas de Cole Porter como “Let’s do it”, “You do something to me”  e outras do clarinetista Sidney Bechet, Paris ganha mais charme e encanto.
O Sheik Branco como em um sonho. Wanda se apaixonou por um personagem.
“Meia noite em Paris” me faz lembrar “O abismo de um sonho”, 1952 (Lo Scceico Bianco) de Fellini. O casal Ivan e Wanda vão passar a lua de mel em Roma e enquanto Ivan está preocupado com o encontro que terá com o papa, conseguido pela influência de seu tio, Wanda está ansiosa para ir ao encontro do personagem principal da fotonovela "O Sheik Branco". Wanda vai ao set de filmagem e vive um momento romântico ao lado do seu herói. Allen acredita no sonho e dá asas a ele enquanto que em Fellini a realidade é mais dura com Wanda que, após se decepcionar com o Sheik, tenta um suicídio improvável em um lago muito raso; ela volta arrependida para o marido. A história de amor de Allen é mais poética que a de Fellini.
Gil Pendler com sua noiva,  pensando em sua paixão nonsense por Adriana (Marion Cotillard)

Allen vai fundo e acredita na poética das imagens, dos sons e dos sonhos. Não tinha sentido nada parecido em seus filmes desde “A Rosa Púrpura do Cairo”, 1985 ( The Purple Rose of Cairo). É em tom de comédia, em diálogos bem preparados que Allen faz um paralelo interessante entre Gil Pendler, um escritor de roteiros de Hollywood com pretensão a se tornar escritor e o “pseudo-intelectual” Paul, representado por Michael Sheen. Paul parece viver preso a referências conceituais a respeito dos escritores, artistas e suas obras, enquanto que Gil quer vivenciar as experiências artísticas na sutileza, ao sentir a obra e seus realizadores. Bela crítica de Allen ao academicismo puro que acumula erudição apenas para despejar por ai sem propósitos. Gil é diferente de Paul, quer viver a arte, senti-la e se esbaldar num mundo fantástico e poético de uma noite em Paris chuvosa. Para mim ficou a sensação de que viver é estar lá de corpo e alma.
Bom Filme!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.


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