domingo, 17 de julho de 2011

Pronome não definido


Recentemente eu li uma notícia na Globo.com que me fez refletir sobre assuntos que debatíamos muito durante as aulas de Sociologia na faculdade e que de alguma forma se encaixam nas minhas recentes pesquisas sobre a questão do gênero. 


A notícia era sobre um casal canadense pais de um bebê de quatro meses, mas que preferiram não revelar o sexo da criança. Depois de uma busca pela internet descobri numa reportagem da Revista Época, outro caso divulgado pela mídia semelhante. Um casal sueco, pais de uma criança de dois anos de idade ainda não tinham revelado o sexo da criança, apenas amigos ou familiares mais próximos que ajudaram a cuidar do bebê é que sabiam essa informação.

De acordo com a matéria, os pais de Pop resolveram adotar esse comportamento acreditando que o gênero é uma construção social, e assim sendo, optaram por não forçar a criança a um gênero que a moldará sociologicamente. O bebê veste-se tanto com vestidos quanto com calças compridas, sendo ele que escolhe a roupa ou o penteado que quer usar. Dessa maneira, os pais acreditam que caberá a ele decidir se é homem ou mulher e no tempo dele.

A notícia também foi postada em um fórum e foi muito interessante perceber nos tons dos comentários feitos pelos usuários o quanto a relação de gênero é um assunto muito polêmico. Muitos ainda se referem como a “natureza feminina” e a “natureza masculina”, tornando o assunto muito mais biológico do que social. E sempre quando vejo uma inversão de valores, quando vejo um problema social sendo apresentado como algo biológico lembro de algo que meu professor sempre fala. A questão biológica é muito mais definitiva, ela é dada, não aceita mudanças. No âmbito social, apesar de complexo, há possibilidades de alterações.

Assim, esse discurso biológico extremamente perigoso, mas que ainda hoje se apresenta  como senso comum, é uma ideologia que impede mudanças socioculturais. Apesar de perceber o quanto é errôneo pensarmos na identidade feminina e masculina como algo biológico. Não estou aqui defendendo a postura adotada por esses pais, afinal a questão é muito mais complexa do que simplesmente supormos que ao deixarmos uma criança escolher suas roupas e penteados estaremos acabando os conflitos da relação de gênero.



Ana Paula Nunes é jornalista e pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo - USP. Escreve aos domingos, quinzenalmente, na ContemporARTES.

1 comentários:

Márcia Mura disse...

Pensar como se constui o discurso social de ser homem e ser mulher é necessário desconstruir a formatação social que se dá ao longo da nossa construção dentro desses papéis definidos por meio de códigos sociais que nos vão sendo introjetados. Isso eu aprendi com meu professor de História na época da graduação, graças a ele passei por um processo de deformação social, tenho em vista que a educação é uma formatação, um espaço de organização e distribuição de discursos sociais. Foi assim que eu e minhas amigas do mesmo centro de pesquisa nos definíamos de não mulher - para construir um contra discurso do ser mulher. Hoje depois de tantos anos acabamos nos resignificando e na interação do discurso e contra discurso percebemos a necessidade de relativarmos todos esses discursos, mas o importante é não acreditar numa natureza das coisas do ser mulher, do ser homem, de tudo...

30 de julho de 2011 às 13:36

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