quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tragédia na Noruega: perigo da extrema direita?


Mais uma vez recorro a esse canal para refletir sobre os chamados distúrbios da contemporaneidade frente ao novo acontecimento que vem sendo amplamente divulgado pela mídia nacional e internacional: a tragédia da Noruega, que aconteceu na última sexta-feria 22, na Ilha de Utoya, próxima Oslo. Atentados a bomba e tiroteio fizeram 93 vítimas. Os atentados são atribuídos a força da extrema direita e alguns artigos já fazem a relação entre os acontecimentos e a oposição a União Européia, a globalização e a ideologia multiculturalista. O suspeito Anders Behring Breivik se descreve como um "nacionalista", mas já há suspeitas que ele se enquadre no movimento do fundamentalismo cristão e portanto, tenha ligação com o chamado "terrorismo de direita".

Ainda há muito a ser investigado, mas a meu ver, tal acontecimento realmente tem ligação com esse estado de contemporaneidade que produz alguns tipos de indivíduos que tem comportamentos patológicos. No entanto, tudo isso não apaga - em termos individuais - a patalogia/ distúrbio de toda a sociedade ocidental que ainda não aprendeu de fato a lidar com as mudanças bruscas que se fazem a partir das rupturas de paradigmas da compreensão e concepção de mundo: o tempo e o espaço. O primeiro se acelera e fragmenta vertiginosamente enquanto o segundo torna-se geograficamente diferente com os novos espaços virtuais e encurtamento de distâncias. Não sou pessimista com as novas tecnologias, no entanto, as mudanças que elas proporcionam devem ser refletidas no âmbito das sociedades com toda a seriedade. A frequencia que estamos assistindo tais tragédias está sendo muito intensa. Algo deve  ser feito e teremos, obrigatoriamente, como passo inicial parar e refletir.
Nesse caso em específico, até onde vão as investigações o suspeito norueuguês Anders agiu sozinho. Sozinho - mas potencializado pela tecnologia. Ou seja, realmente o potencial destrutivo de novas tecnologias deve ser pensado.  Se unirmos esse potencial com o grau de violência, insatisfação e lutas das minorias temos um barril de pólvora. Foi-se o tempo que a chave da destruição estava nas mãos de estados (Guerra Fria) e todos ficavam apreensivos com o armamento nuclear e possibilidade de uma terceira grande guerra. Hoje tal potencial pode estar na mão do mais reles mortal e, de uma hora para outra, abreviar a vida de milhares de seres humanos.

Estava aqui a ler o depoimento do primeiro ministro norueguês Jens Stoltenberg que classificou a tragédia como a pior desde a segunda guerra. Como estudiosa do fenômeno da Segunda Guerra Mundial, não gosto de comparar um acontecimento beligerante que envolveu tantos países e teve o saldo de 45 milhões de mortos com a tragédia da Noruega. Diferentes tempos, razões, estímulos. O barril de pólvora - antes o expurgado nacionalismo - é outro. Acredito que hoje a pluralidade de pensamento que a democracia propõe aliada com as forças hegemônicas econômicas tem resistência em movimentos minoritários - alguns com perfil político extremamente agressivo como os grupos da extrema-direita. Mas, a probabilidade de tais grupos  chegarem a um governo de estado é mínimo. O que podemos contar é com isso que nossos olhos estão assistindo estarrecidos: ataques isolados como esse da Noruega. Para se defender deles - pensando nos estudos sobre terrorismo e sua fenomenologia - é algo extremamente complexo, pela multiplicidade de alvos e pulverização de espaços.
No entanto, é algo que devemos começar a fazer.

No artigo do Estadão, citando o jornal norueguês Aftenposten, fica evidente a fraqueza numérica e organizacional do "inimigo" da direita, embora haja a menção do perigo de uma articulação internacional, o que para mim também deve ser mais um elemento da análise (também facilitado pela globalização).

"O medo é aumentado pela mistura potencialmente explosiva de recessão econômica, aumento do racismo e um sentimento anti-islâmico ainda mais forte.
A polícia norueguesa notou um leve aumento da atividade de grupos extremistas de direita no ano passado e previu que ela continuaria a crescer este ano.
Mas sugeriu também que o movimento seria fraco, sem um líder e tinha pouco potencial de crescimento.
Embora membros do movimento de extrema direita norueguês tenham cometido ataques no passado, eles são historicamente uma comunidade pequena, segundo grupos que monitoram a atuação de neonazistas.
O escritor sueco falecido Stieg Larsson era um destes especialistas. Na década de 1990 ele criou a publicação anti-racista Expo, após o aumento da violência causada por tais grupos.
Entrevistado para um documentário que eu fazia à época, ele me disse que a Suécia era o maior produtor da chamada música White Power e outros instrumentos de propaganda racial, com um movimento neonazista crescente e violento.
Por outro lado, os neonazistas noruegueses eram desorganizados e caóticos, disse ele, citando o exemplo de encontros organizados pela extrema direita sueca, que contaram com uma pequena presença de visitantes noruegueses".



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Amanhã, na UFABC - Campus Sigma, às 16h, acontece o 8o encontro do Café com PP com a discussão do tema Inovação. A entrada é gratuita e será conferido certificado. Mais detalhes abaixo.











Ana Maria Dietrich é editora-chefe da Contemporâneos-Revista de Artes e Humanidades e coordenadora junto a Rodrigo Machado da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural. Profa. Dra. Adjunta da UFABC.

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