sexta-feira, 19 de agosto de 2011

“A Árvore da Vida”: Das origens aos dias de hoje; o perdão, o amor e a dor caminham juntos para todo o sempre.

Cartaz do filme


“Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”
Charlie Chaplin.

Brad Pitt ( ótima interpretação)


Imagens e sensações. Cores e formas exuberantes pulsam na tela. Eis que a grandeza do universo se sobrepõe ao homem. O filme Árvore da Vida (Tree of Life, 2011) tem um apelo imagético denso. O diretor, Terrence Malick, recorre à imagens do Big Bang para divagar sobre a beleza da vida  e sobre a implacável morte. Estas imagens cósmicas (a là Discovery Chanel ) são fortes o suficiente para afastar o espectador de pensamentos lógicos ou racionais, abrindo assim caminho para experimentar emoções profundas. Quem embarcar e tiver vontade de seguir esta idéia, irá se deslumbrar. A era dos dinossauros também tem lugar no filme, que transcorre essencialmente entre dois tempos: anos de 1950 e a contemporaneidade. As cenas do mundo atual, representada por Jack adulto (Sean Penn), é de uma selva de pedras e concreto: vidros,  ferros, elevadores panorâmicos, horizontes de prédios, são sempre mostradas em ângulos baixos, deixando o céu como contra plano.  Há um paralelo interessante entre a Terra, suas estruturas cósmicas e físicas e a origem da vida dentro do útero, a criação de um ser que nasce e vive momentos de felicidade junto à família. Ele testa as variações de grandeza do sentir, da experiência, pendulando entre a percepção micro, familiar, para uma panorâmica, representada pelo universo. 

A família de Jack

Um mar de imagens referenciais para inserir o público numa espécie de viagem macro em direção à mãe natureza. Magia da natureza que alterna fogo e geleira; a vultuosidade dos movimentos largos do espaço se contrapõe com a magia miúda da concepção humana no meio líquido, que mais tarde se transformará em corpo e vida. Com isso, o espectador se entrega ao sensorial, entrando na história de Jack e de sua família. Vida e morte, a Graça e a Natureza. 

Jack adulto (Sean Penn)

O som do filme é quase sempre em a voz-off sussurrante, fazendo par com uma excelente trilha sonora assinada por Alexandre Desplat que inclui Fugas de Bach, Schumann, Brahms e outros clássicos eruditos.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme estréia no Brasil com este estimado prêmio ao seu favor e ainda Brad Pitt, Sean Penn e Jéssica Chastain no elenco. Somado a isso, há o amado e odiado diretor, Terrence Malick, que arremata  o desejo de ir ao cinema ver “A Árvore da vida”. O diretor, famoso por fazer filmes profundos, tem no currículo poucas e marcantes produções: “Terra de Ninguém” (1973), “Cinzas do Paraíso” (1978), “Além da Linha Vermelha” (1998) e “Um Mundo Novo” ( 2005). No final das contas, o público ficou dividido; alguns se entregam as divagações de Terrence e outros, decepcionados,  saem no meio do filme. 

"Pai. Mãe. Vocês estão sempre lutando dentro de mim. Sempre estarão."
( Jack)
A luta entre a graça e a Natureza

Esse desconforto de alguns pode provir da história não linear, com tempos e espaços múltiplos que muitas vezes parecem não se alinharem por falta de amarras. Mas essa é uma das grandes características do filme, a forma fragmentária para contar a história de Jack e sua família. Foi necessário editar 365 horas de imagens para 2 horas e pouco, trabalho destinado a uma grande equipe de co-diretores como: Hank Corwin, Jay Rabinowitz, Billy Weber, Mark Yoshikawa e o brasileiro Daniel Rezende. Filme grandioso e ousado, ligado intimamente às características de Terrence, criador tanto de emoções como de decepções. O trailer não condiz inteiramente com o filme e este pode ser um dos fatores de estranhamento, pois o filme não tem a mesma “levada” do trailer. 


Frase do início do filme: “Existem duas maneiras de viver: A maneira da Natureza e a maneira da graça”. O caminho da graça é da entrega ao outro e da natureza é o egoísmo. Estas duas máximas orientam todo o filme que percorre estes limites opositores e contrários que estão encarnados nos personagens.  É preciso uma boa dose de paciência e predisposição para encarar as 2 horas e pouco de filme. Quem conseguir assisti-lo e entender o propósito, que pode ser muitos, vai ver que esta frase, citada sussurrada, tem muito a ver com o perdão, o amor, a vida e a morte. Explicar o inexplicável é impossível mas é possível sentir o inexplicável, é por este viés que o filme ganha contornos mais interessantes.
Gostei do filme e como sempre Brad Pitt está impecável no papel do severo pai de família da década de 1950. Uma pena que Sean Penn apareça tão pouco e que em alguns momentos o filme cai de ritmo e faz com que os menos avisados caiam fora do cinema. O que fica foi uma frase dita pelo pai de Jack: “Um dia você vai cair e chorar. E vai entender todas as coisas”.
Bom filme!!! Vale muito a pena conferir!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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