quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Como o casamento entre o blues e o country fez nascer o rock n’ roll



Os Estados Unidos na metade do século XX refletia uma situação peculiar. Enquanto a Europa estava se reorganizando após dois conflitos mundiais, a América do Norte tinha uma produção industrial de proporções vertiginosa, isso se refletia na sociedade americana que elegia o “american way life” como slogan. Uma realidade propagada vitoriosa baseada numa política ufanista elaborada pela doutrina de segurança nacional. Nesse universo de crescimento da economia americana, o negro americano seguia sua rotina de exclusão, miséria e preconceito racial. Ele continuava vivendo em guetos e ocupava a principal parcela da massa que trabalhava em indústrias do país, principalmente nos estados sulistas que contaram com mão-de-obra escrava no passado. Se o preconceito em nada diminuíra dos tempos em que seus antecedentes trabalhavam em lavouras de algodão, sua cultura mantinha-se forte e expandia-se através da música, seja ela o gospel, ballad ou o rythm ‘n’ blues.

O Blues traduzia o dia-a-dia sofrido dos negros americanos

Com o surgimento de guetos próximos a indústrias nas regiões norte e oeste dos Estados Unidos todo um comércio consolidou-se em volta dessas comunidades. A partir daí, uma segmentação de mercados da música popular americana começou com o surgimento de casas especializadas para divulgação e consumo de canções negras. Na época, os gêneros blues e country ainda eram vistos como estilos de música para negros, periféricos ou caipiras, respectivamente. Tal visão se dava pelas letras das canções estarem associadas aos valores depreciados pela sociedade americana como jogo, bebida e sexo. As músicas que começaram a ganhar espaço no mercado branco e elitizad ao ter uma divulgação maior foram o gospel e o ballad. A primeira era praticada pelos negros evangélicos, dentro de suas igrejas em uma forma própria que unia o tom melancólico e suplicante de origem africana com a harmonia tipicamente branca. Já a segunda tinha características semelhantes da primeira, porém a conquista dos ouvintes brancos se dava porque seu ritmo era mais atenuado e a melodia vocal, continha diálogos cantados em solo.
A música country era consumida pelo público branco 

A
estagnação do mercado fonográfico comercial no ano de 1953 não iria frear o impulso das gravadoras independentes que apostaram no rythm ‘n’ blues para alavancar sucessos. A invasão negra ocorreu porque diversos artistas brancos passaram a interpretar canções de músicos negros, a maioria cantada com alterações nas letras para que o público branco pudesse aceita-las. Um dos precursores dessa mistura de estilos é o cantor Bill Halley. O sucesso do cantor com o público branco, jovem e, que tinha maior poder aquisitivo, permitiu que fossem prensados discos de rock em massa para atender a demanda dessa classe social, assim como este público passou a ser o impulsionador de programas radiofônicos como o inovador “Rock and roll party”, em 1952, apresentado pelo disc-jockey e publicitário Alan Feed.
Chuck Berry: um dos pais do novo gênero musical

Nessa época a expansão das rádios independentes seria tão grande que na lista dos mais vendidos, 20% das vendas pertenciam ao estilo que aos poucos ganhava forma na mescla de rythm ‘n’ blues, country e blues. O rock ‘n’ roll, nome batizado por Alan Feed, passou a transformar gravadoras pequenas como a Sun Records, Atlantic e Jubilee em verdadeiras minas de ouro. Assim, no decorrer da década, as gravadoras comerciais e de maior porte passam a contratar os astros nascentes das gravadoras independentes e com isso o mercado fonográfico adotou de vez o estilo rock ‘n’ roll e com ele as primeiras estrelas do novo gênero musical: Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Gene Vincent, Johnny Cash, Roy Orbinson, Fats Domino e o pioneiro Bill Halley.

Marcelo Pimenta e Silva é graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Bagé/RS. Como pesquisador atuou por três anos no Núcleo de Pesquisa da História da Educação, pela Urcamp, tendo produzido diversos trabalhos multidisciplinares. Tem como temas de pesquisa a imprensa alternativa brasileira; a contracultura e suas implicações na sociedade brasileira, além de temas como o ativismo na cibercultura. Conta com experiência em colunas sobre cultura, em jornais, em sites e em revistas. Atualmente, trabalha com jornalismo, assessoria de imprensa e pesquisa free-lance, além de cursar pós-graduação em comunicação mercadológica na Fatec Senac de Pelotas/RS.  

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