sexta-feira, 5 de agosto de 2011

“Serge Gainsbourg – O homem que amava as mulheres” uma cinebiografia essencial



É possível fazer filmes sobre a vida de um artista sem torná-los exaustivos e chatos, para que isto aconteça  é  preciso que o realizador tenha coragem para deixar de lado alguns fatos e ir direto ao que lhe interessa. A mão pesada do diretor irá aparecer, e isso é bom pois o espectador terá uma visão parcial porém honesta do realizador e de seu objeto, no caso a personalidade em questão. O filme de Joann Sfar “Serge Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres”, (Vie Héroique, 2010)  que está em cartaz em São Paulo desde o dia 07 de julho, é um destes casos. O filme conta uma história interessante e nada enfadonha da vida do orelhudo, magricela e ousado, que se auto-intitulava "cabeça de repolho", compositor, ator, cineasta e escritor, Serge Gainsbourg. Não é nada fácil fazer uma cinebiografia. Pessoas públicas não possuem vida privada e sim midiática, são muitas informações vindas de muitos meios distintos com enfoques variados como: jornais, revistas, livros, artigos e programas de televisão. O diretor e/ou roteirista precisa entender, depurar e principalmente escolher aquilo que vale a pena ser contado e mostrado em mais ou menos 130 minutos de filme. 
Eric Elmosnino como Serge/Lucy Gordon como Jane Birkin/Laetitia Casta como Brigitte Bardot



Joann Sfar acerta ao nos contar aquilo que mais lhe encantava na vida de Serge Gainsbourg: Fazia boa música, amava as mulheres e por  último porém não menos importante, era um fumante inveterado.  Sfar, quadrinista francês, coloca em cena dois Serges: Gainsbourg, tímido, introspectivo e Gainsberre (uma espécie de alter ego) destrutivo, beberão e mulherengo. Estes dois Serges, quase antagônicos, funcionam como   contrapondos lúdicos que arejam a trama. 
                                 Eric Elmosnino como Serge/Lucy Gordon como Jane Birkin


Momentos da vida real de Serge

Há cenas memoráveis como a que Serge e Jane cantam “Je t’aime moin non plus” nus em uma banheira, ou quando Serge entoa “Aux Armes et caetera” versão reggae para “A Marselhesa" (hino francês) em público. Nestas cenas fica evidente a beleza de uma cinebiografia:  Criar com referênciais meio “à la vonté” episódios marcantes da vida de um artista. É por este viés que o filme sobre Gainsbourg é uma aula de cinebiografia para inglês, brasileiros e para quem mais quiser, ver e aprender  a contar histórias de artistas sem caretices dispensáveis.

Gainsberre (uma espécie de alter ego) destrutivo, beberão e mulherengo


A história é contada de forma linear, alguns  flashbacks  incrementam a trama dando algumas pitadas referenciais a respeito de Serge criança. Estas cenas são viagens lúdicas em direção aos medos e aos anseios deste francês, filho de judeus russos emigrados para a França na Revolução de 1917. É possível vivenciar a precocidade de Serge para a arte, para as mulheres e também para o cigarro.
O filme tem como eixo central as relações de Serge com o pai e com as mulheres (Brigitte Bardot e Jane Birken), este triângulo orienta, organiza e "segura" a história fazendo com que ela seja verossímil e não despenque para o descrédito. O pai queria que Serge fosse pianista, como ele, e lhe ensinou o ofício. Apesar das intrigas de Serge criança com o pai, era para os braços dele que corria quando estava em dificuldades. A casa do pai está na trama como um lugar seguro para onde Serge sempre poderia voltar.
Vale muito a pena assitir esta cinebiografia recheada de cenas sensuais e encatadoras. O que ficou para mim: Cinema é magia e encanto num mundo à parte  repleto de possibilidades!!! Ótima cinebiografia.
Bom filme!!!
Serge e Brigitte (mundo real)
Serge e Jane,  muito sensuais ( mundo real)
Serge e Brigitte Bardot ( Affaire)
Casamento entre a Bela e o Feio


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega

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