CURITIBA NA MIRA DE UM FLANÊUR
"As fotografias gostam de caçar na escuridão de nossas memórias. São infinitamente menos capazes de nos mostrar o mundo que de oferecê-lo ao nosso pensamento" (Etienne Samain)
Uma mostra de cento e vinte imagens - uma pequena parcela da produção imagética de Synval Stocchero - que são porém fundamentais para compreender a expansão urbana de Curitiba a partir de meados da década de 50 do século passado. Stocchero fotografou a cidade entre 1940 até 2007, poucos meses antes de seu falecimento, e esse material foi reunido numa exposição organizada pela diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba que permanece até o dia 04 de dezembro deste ano.
Cartaz da Exposição.
O trabalho do Patrimônio Cultural começou em 2009 com os originais deixados pelo fotógrafo que foram disponibilizados por sua família. Integrado ao acervo daquela entidade a Coleção Synval Stocchero, enriquece o patrimônio formado por importantes coleções já preservadas. "Com ações como essa, a Fundação Cultural reafirma seu compromisso com a difusão do patrimônio cultural da cidade e traz à apreciação pública, material inédito de um legado que, certamente, promete ainda muitas descobertas", afirma a historiadora e pesquisadora Maria Luiza Baracho.
Rua XV, centro vital da cidade, hoje destinado para pedestres.
Ela é uma das responsáveis por organizar a exposição Curitiba na Mira do Fotógrafo, que está em cartaz há quase um ano no Salão Paranaguá do Memorial de Curitiba.
Nas paredes é possível observar um primeiro lote de 120 imagens em preto e branco de um acervo de mais de 400 obras realizadas entre 1940 e 2007 selecionadas pelo próprio Stocchero – feitas, a maioria, do alto dos edifícios e dos aviões.
Verticalização da cidade, década de 50
Através de suas lentes ele registrou as grandes transformações urbanísticas vividas pela Curitiba das décadas de 50 e 60, principalmente, a efervescência das ruas centrais como a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro. “Ele começou a fotografar em um período muito interessante da cidade, quando se iniciava o processo de verticalização, logo após a Segunda Guerra Mundial”.
Desfile no centro da cidade, década de 50.
“Ele nos procurou alguns anos antes do seu desaparecimento, para propor uma exposição só com suas fotos aéreas. Começou a selecionar material, mas na época tivemos várias dificuldades, inclusive de calendário, e não pudemos organizar a mostra”, conta a pesquisadora, que acabou fazendo amizade com o fotógrafo e, com apoio de sua família, selecionou os originais. “As fotos revelam o olhar do fotógrafo sobre o próprio trabalho, o que ele achava mais interessante”.
Alagamento na avenida Cândido de Abreu
Nascido em Itaperuçu, no Paraná, Stocchero veio, aos 3 anos, com a família para Curitiba. Seu gosto pelas fotos aéreas teve início aos 18 anos, quando passou a servir na Aeronáutica. “Na base aérea, começou a fazer suas primeiras fotos no avião”, conta a pesquisadora, para quem as imagens selecionadas pelo fotógrafo para compor a exposição, produzidas nos anos 50 e 60, podem ser vistas como a sequência de uma rota de vôo.
Fachada da Biblioteca Pública do Paraná
Stocchero também subia no alto dos edifícios, em obras ou já finalizados, como o extinto Hotel Eduardo VII, na esquina da Praça Tiradentes, para registrar panoramas urbanos. “Mas as fotos também mostram uma Curitiba vista por quem caminha. São fotografias do cotidiano, de carros passando, pessoas atravessando rua, eventos como uma parada militar e uma corrida de lambreta”.
Stocchero ao centro no início da carreira.
O fotógrafo foi profissional de jornais como a Gazeta do Povo, por um curto período, no início da década de 50, o Estado do Paraná e a Revista Panorama. Também fazia fotos de estúdios e publicitárias. “Era o tempo em que os fotógrafos eram chamados nas casas para fazer retratos”. Mas, sobretudo, Stocchero clicava de forma independente as transformações da cidade.
Stocchero tinha três paixões reveladas em centenas de imagens que realizou até pouco antes de morrer, em fevereiro de 2008: a família, o Clube Atlético Paranaense e a cidade de Curitiba. Quatro, na verdade, se contarmos a mais óbvia, a fotografia. Para Synval Stocchero "registrar Curitiba era quase um compromisso que ele tinha com ele mesmo".
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Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
Contato: izabel.liviski@gmail.com
1 comentários:
Ao lado do Synval Stocchero, no banco está José Darcy dos Santos (meu pai), com quem teve amizade até o final de seus dias. Ver Curitiba Antiga no Facebook.
18 de setembro de 2012 às 23:49Eu também tenho o original desta foto. O outro amigo deles é o Fialla.
Att
Ivan Linzmeyer Santos
Curitiba Antiga
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