Criação literária: um processo autobiográfico?
É claro que muito já foi dito a respeito do processo de criação do texto literário; não se pode ler uma obra pensando apenas como um reflexo do próprio autor, porque se assim o fosse, o que seria a literatura se não um simples recontar de próprias experiências, um mero espelho que refletiria apenas as próprias memórias? Não, definitivamente, literatura é muito mais do que isso.
Por outro lado, não deixo de perceber que, muito do que escrevo diz sobre o que sou, o que leio, o que ouço, o que gosto e, enfim, revela a matéria de que sou constituída. Sendo assim, quando leio uma obra e me reconheço nela, é porque, de alguma forma, aquilo que leio está me lendo também.
Por outro lado, não deixo de perceber que, muito do que escrevo diz sobre o que sou, o que leio, o que ouço, o que gosto e, enfim, revela a matéria de que sou constituída. Sendo assim, quando leio uma obra e me reconheço nela, é porque, de alguma forma, aquilo que leio está me lendo também.
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Isso tudo me faz pensar que, se por um lado, não devemos restringir a literatura às experiências pessoas de cada autor, por outro, essas mesmas experiências devem ser consideradas como elementos fundadores da criação literária. E não é só no campo das letras que essa questão se aplica; há que se considerar também a música, as artes plásticas, a arquitetura e tantas outras formas de expressão.
Será que Cazuza, ao compor suas músicas com letras ousadas e com um certo teor de ousadia, somado às diversas críticas sociais e políticas, de alguma forma, não estaria demonstrando seu próprio posicionamento diante da sociedade brasileira, diante da vida?
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É claro que, como leitores, sabemos o lugar da literatura. Não olhamos para uma obra, apenas com os olhos de quem procura conhecer a pessoa que escreve. Contemplamos a obra para que, através da ficção, do relato memorialístico, possamos construir nossa própria idéia do que seja o estilo do autor e, quem sabe, numa dessas entrevistas que vira e mexe eles nos contemplam, a gente possa descobrir que uma paisagem, um acontecimento, um personagem, foi fruto de uma experiência rica e verdadeiramente pessoal. E isso tudo para quê? É simples; para descobrir que, além de nos sentirmos acolhidos pela obra que escolhemos ler, possamos ser também lidos por aquele que escreve e, quem sabe, estabelecermos um diálogo com o livro (ou com o compositor, ou com o pintor) que diz, artisticamente, aquilo o que nós realmente sentimos. E como nos adverte Jorge Luiz Borges (2004), “toda literatura é, finalmente, autobiográfica”.
Referência Bibliográfica
Livro. Disponível em: HTTP://www.cavacosdascaldas.blogspot.com. Acesso em: 12/11/11.
Thaís Fernanda da Silva é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa. Estuda feminismo e questões de gênero na Literatura.
E-mail: thaisfsilva@ymail.com
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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