quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Etnomusicologia; o desafio de repensar os sons e as musicalidades da contemporaneidade


Os sons dos povos, das ruas, do nosso cotidiano. Os sons indígenas que ainda persistem em soar suas culturas, como os Kariri-Xocó que praticam o Toré em uma comunidade em Cotia na Grande São Paulo,  ou o batuque do tambor que caminha mundo afora adquirindo variações e incorporando os costumes dos lugares por onde passa e fica. 
As manifestações culturais paulistas  trazem  sons do norte e nordeste do país, como o Bumba meu Boi do Grupo Cupuaçu no Morro do Querosene, como o Samba de Bumbo de Santana do Parnaíba. Na cidade cinza, buzinas, serras elétricas, freios de ônibus, aviões, helicópteros, motocicletas apressadas, dividem espaço com a música angolana, com as flautas peruanas, com o samba de raíz de Raquel Trindade, com o maracatu,  com as bandas de pífaros, com o chorinho, com a música judaica....  nossa Grande São Paulo tem muitas, muitas e diversas sonoridades..... 


"As maiorias geográficas foram transformadas em minorias culturais desglobalizadas pela diferenças, pela desigualdade e pela desconexão." 
Canclini

Aluna do grupo de estudos em Antropologia Sonora da FAC FITO, Rosemeire Cassiano Pereira, na Aldeia dos Kariri- Xocó em Cotia  (Trabalho de Campo -  Etnomusicologia )

Raquel Trindade em Embú


“A cultura não é uma Arca de Noé embalsamada”
 Canclini

Sons que ouvimos aqui e ali, sons de nossas raízes culturais, arranjados e rearranjados, renascem na contemporaneidade...

Quem somos?
 Precisamos saber quem somos, quais são nossas raízes culturais, o que agregamos, o que mudamos conhecendo estas musicalidades, estes sons que nos trazem memórias de lugares, de nossos ancestrais, da cultura que ainda se esconde pelos quatro cantos do mundo. As diversidades sonoras de etnias variadas não tocam no rádio e nem são vistas na TV. Quem conhece os sons do Brasil como os dos Povos da Amozônia, da América Latina,   do Mediterrâneo? Do "resto do mundo"?  World Music? É o termo que sobrou para nós que não somos europeus e nem norte- americanos? Quando a escola dará oportunidade aos alunos de conhecer os sons do mundo? Quando estes sons estarão nas emissoras de TV, nas rádios, nas praças, nas ruas?

Carlinhos Antunes - Orquestra Mediterrânea

Carlinhos Antunes - Orquestra Mundana

Mawaca - pesquisa sonora de etnias variadas
Marlui Miranda - trabalho de valorização, ampliação e divulgação das sonoridades e musicalidades indígenas
Mídia de massa que massifica a cultura popular, que dá voz a quem já tem demais.... A cultura polular não está na mídia.
É preciso ter espaço e oportunidade para repensar as musicalidades e estudá-las.  Esta é uma das maiores preocupações do grupo de pesquisa em Antropologia Sonora da Faculdade de Música da FAC FITO, o qual coordeno há dois anos. Ligado à cadeira de Etnomusicologia e composto por músicos de formação erudita e popular  com vivências diferenciadas, o grupo realiza produções em vídeos e fotografia a partir de discussões sobre os sons e as musicalidades de variadas etnias que ainda estão vivas e atuam dentro do nosso universo contemporâneo.  
Néstor Canclini - antropólogo argentino que vive no México e estuda hidridismo cultural e processos de globalização em países em desevolvimento.
Tiago de Oliveira Pinto - Etnomusicologista, pesquisador brasileiro do
Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha, Berlin
O estudo da disciplina Etnomusicologia utiliza-se de bases teóricas e vai à campo. Para o trabalho de campo o grupo é subdividido em subgrupos para que possam escolher os temas que mais os inspiram, sons que estão aos seus arredores, nos seus universos de possibilidades. É no cotidiano que encontram muita cultura escondida, naquilo que lhes parecia comum, familiar e sem importância.
A idéia central é trazer um olhar contemporâneo sobre manifestações sonoras  que vivenciamos em nossas vidas, porém não ouvimos nas rádios. É preciso trazer uma consciência identitária para os músicos e não músicos deste nosso  grande e rico Brasil. Acordar o gigante é acordar o povo que desconhece o próprio país e as bases da cultura brasileira.
 Baseado em teóricos como Tiago de Oliveira Pinto, no tratamento da disciplina em si, e em Néstor Garcia Canclini, nos estudos de cultura em processo de  Globalização, a proposta é avaliar como a música contemporânea se vale de culturas mais fechadas e tradicionais para compor o cenário musical atual. Este estudo perpassa pelo processo de Globalização do mundo atual, em que a cultura predominante ainda é a do dominador, de quem tem mais poder e capital.
Afinado com a proposta transdisciplinar dos estudos culturais, Canclini afirma que não é mais suficiente valer-se só da sociologia, ou só da antropologia ou, ainda, só da comunicação, para entender o fenômeno avassalador da globalização. É preciso ir além dos saberes compartimentados, questionando antigas conclusões disciplinarmente isoladas  buscando, no tempero dos vários jeitos de olhar, outras respostas, ou melhor, outros questionamentos, como ele enfatiza na epígrafe do seu livro Diferentes, desiguales e desconectados (2004):
"Se não conheces a resposta, discute a pergunta", citando Clifford Geertz ( 2004:12).
Perguntas de Canclini para pensarmos:

·      O que nos faz comuns?
·      O que nos faz diferentes?
·      O que é ser latino- americano?
·      Globalização globaliza ou desglobaliza?
·      Identidades são essências ou processos?
·      Quais os paradoxos?
·      Que conflitos movem as culturas contra as culturas?
·       E os indivíduos contra os indivíduos? etc

Para Canclini, precisamos evoluir para pensar a diversidade globalizada não mais como multicultural - o antigo caldeirão de raças e etnias catalogadas meramente por sua diferença - mas como intercultural. E explica: 

“Interculturalidade remete à confrontação e ao entrelaçamento, ao que sucede quando os grupos entram em relações e intercâmbios". Multiculturalidade, diz ele, apenas " supõe a aceitação do heterogêneo; interculturalidade implica que os diferentes são o que são em relações de negociação, conflito e préstimos recíprocos" ( 2004:15).

Pressuposto prático:
·      Repensar e avaliar as manifestações musicais das etnias contemporâneas;
·      Buscar o estudo historiográfico, social, antropológico e suas manifestações musicais destas etnias;
·      Partir do presente, do que nos cerca, sons que ouvimos no cotidiano, na Metrópole

Neste proprósito, nosso grupo, no segundo semestre de 2011, realizou muitas discussões teóricas e trabalhos de campo. O resultado está nas  produções, vídeos e fotos de várias etnias e comunidades que vivem em São Paulo.
O blog da Faculdade de Música da FAC FITO logo estará no ar ao mesmo tempo que está sendo incorporado ao grupo LEPCOM,  ganhando um fôlego maior. Quero que todos os leitores usem e abusem dele, divulgando a música negligenciada pelas mídias, aquela que pulsa dentro de cada um de nós.
Quero agradecer a todos meus alunos do segundo semestre da Faculdade de Música da FAC FITO  que participaram das nossas dicussõs e práticas de campo.
Hoje, vou postar  o vídeo dos músicos e pesquisadores, alunos da FAC FITO, integrantes do nosso grupo de estudos:
Carlos Ramon P. Montagner, Danilo Nakayama, e Luiz Fernando:


Tema:  A música dentro da cultura inca.

Bom vídeo!!!!!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

2 comentários:

Danilo Nakayama disse...

Professora Katia obrigado por postar nosso video, é uma honra para todos do grupo, pois foi feito com muita dedicação!

20 de dezembro de 2011 às 14:49
Ramon Montagner disse...

Katia fiquei honrado de ter nosso vídeo neste site.Obrigado pelos ensimamentos e conversas.bejão

20 de dezembro de 2011 às 23:17

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