Interioridade, vacuidade, liberdade …
Felicidade para além da alegria de boutique, para além do bem estar, felicidade vazia, felicidade diante das impossibilidades possíveis de serem desbravadas.
Contra a imaturidade inovacionista que as(os) sábias(os) medievais olhavam com desconfiança.
Contra as ideias e valores dogmáticos sólidos como pedras de gelo a derreter diante da tempestade contemporânea.
Contra a balbúrdia pós-moderna que tenta gaseificar valores e ideias e intoxica a humanidade com o veneno da pluralidade esquizofrênica.
Terrível prisão da linguagem, com suas deficiências simbólicas e incapacidade representantiva de transmitir a expressão do ser em sua plenitude.
Basta, estou cansada !
Da ilusão empirista radical, que tentou criar um ser humano factual, pragmático, concreto e que teve como característica o esvaziamento humano, seu apequenamento, sua redução aos fenômenos e aparências. Tirou-lhe a graça, a ternura, a volúpia, a loucura, a demência, o risco, as inverdades e no limite todos os ingredientes da criatividade. Criatividade perigosa das(os) subversivas(os) artistas.
Do misticismo debilizante, que nos afasta de nossas conquistas científicas e tenta no afogar num mar de obscenidades mentais.
Dos marxismos e dos liberalismos que são incapazes de nos levar à condição de libertas(os), e permanecemos presas(os) aos grilhões de um sistema capitalista que nos torna servas(os) do capital e da paranóia igualitária que enforca as possibilidades humanas, por mais absurdas que elas possam parecer.
Da vida comunitária opressiva, autoritária, prescritiva, ilusoriamente otimista, mesquinha.
De uma academia estéril, antro da incompetência, incapacidade e vulgaridade, que busca massificar a imbecilidade e os pacotes ideológicos, teóricos, culturais e científicos produzidos em outros tempos. Antro de uma burguesia bem comportada, alinhada e cheirosa, tomada por um câncer profundo que faz apodrecer qualquer célula que demonstre vida, vigor, paixão, tesão, diferença.
Do ativismo carente de reflexividade, assassino dos questionamentos impudicos, pretexto salvador de almas sofredoras e libertador de oprimidas(os) opressoras(es).
Em que diferem estes produtos intelectuais da teologia da Santa Igreja? Meros tapa-buracos metafísicos de uma sociedade que destronou o santo papa e em seu lugar colocou o cientista. Ambos cometeram crimes semelhantes, luxúria, opressão, dogmatismo e inquisição aos infiéis, loucos, não-científicos, pagãos.
É claro que a vida feliz é coisa para ingênuas(os). Desde o momento em que colocamos os pés nesta terra moribunda somos acometidas(os) de todas as enfermidades culturais que nos rodeiam. Já estão preparadas quase todas as nossas possibilidades de ações e suas respectivas repreensões. Nossos desejos, medos, sonhos, modos de vida ... metodicanente cauculados, sistematicamente planejados, excessivamente medicados, ostensiamente (des)organizados.
Ó por favor, livrai-me das(os) outras(os). Permita-me existir longe da contaminação social, da intersubjetividade artificial !
Não quero Democracia, Igualdade, Fraternidade, Verdade, Moralidade, Amizade ... quero apenas poder sentir este corpo no qual habito, esta pele que me cobre, este calor que emano ... quero sentir, eu mesma, o vazio profundo que há neste ídolo vão, com formas arredondadas e textura plástica, antes que ele se desmanche com o passar do tempo ... Sentir o vazio que tantos tentam preencher ... incapazes de perceber que nada pode ser mais belo do que um vazio profundo e sublime ... vazio que não é, mas pode ser e nunca será realmente ... pois é o vazio necessário para que possamos diariamente buscar dar um sentido momentâneo, saboroso e perigoso e que ao cair da noite, ao deitarmos nossos corpos em nossos macios sepulcros, possamos esvaziar-nos sem sentir a culpa, pelo vazio que nos é inerente.
Não quero ser penetrada culturalmente, deixem-me cultivar a castidade de uma viuvez prematura. Não me interessam os papéis deste espetáculo social fracassado. Essa vidinha cheia de tédio e máscaras brilhantes embebida pelo prazer frívolo e pelo orgasmo sem fluídos.
Não quero que me toque, quero que me veja, quero que se enoje, que me deseje, que me consuma secretamente, que me repudie, que não me compreenda, que me beije com ternura e seque as lágrimas de minha infelicidade diante da consciência da artificialidade das relações ...
E depois vou tomar um lambrusco, apreciar o crepúsculo de uma noite bela e nua diante dos versos sacros que leio silenciosamente.
Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do ABC. Integrante do grupo de pesquisa ABC das Diversidades. Bolsista de iniciação científica do CNPQ, no qual desenvolve pesquisa com o seguinte tema: Formação e atuação de entidades de representação LGBT no grande ABC: Impactos na formulação de políticas públicas.
2 comentários:
muito bom!
31 de março de 2012 às 13:36amei esse site é muito bem aqui quem fala é sabryna a filha do fernando seu primo querido
4 de abril de 2012 às 15:41beijos tchau!!!
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