Recordando Gonçalves Dias
Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão em 1823 e faleceu nas
proximidades de seu estado natal em 1864. Cursou Direito na Universidade de
Coimbra, regressou ao Brasil onde lecionou Latim e história da pátria e
trabalhou para o governo.
É o primeiro poeta a se identificar com a causa romântica, com a
sentimentalidade do seu povo e a consolidar o Romantismo no Brasil; muitos
atribuem o fato de ele ser mestiço de pai português e mãe cafuza, um dos fatos
principais da sua defesa do índio e da sua busca da igualdade perante aos
europeus.
Sua obra é composta de poesias, romances e teatro.
Sua lírica constituía-se de ideias e visões da tradição medievalista, com a
contemplação panteísta e sentimento religioso, no sentido da associação de Deus
à natureza; lirismo pessoal que concilia a sua experiência sentimental com seu
o ideal amoroso revestido de significação autobiográfica. Cândido (2000, p. 71)
classifica sua poesia indianista – que obteve grande destaque na produção deste
autor - como “antevisão lírica e épica das nossas origens, revigorando as
intenções nacionalistas”.
A poesia indianista ou Americana foi uma poesia através da qual o autor
buscou promover o tema nacional. Através desta poesia, Gonçalves Dias procura
revelar um tipo de visão em relação ao índio diferente da que os portugueses
haviam antes pintado para o restante do mundo. Ele procura passar uma visão geral do índio como um ser
belo, fantástico. Seu verso incorpora o detalhe pitoresco da vida americana ao
ângulo romântico.
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Gonçalves Dias passa a dar importância à beleza dos indígenas e até a
mostrá-los como seres ainda mais belos que os europeus, tanto é que em seu
poema "Marabá", podemos notar que marabá- uma mulher de sangue branco e índio- se
questiona a todo tempo acerca de sua beleza, pois nenhum índio a queria
desposar, sofre por ter sangue branco, por não ter as características físicas
dos índios (Cândido, A.2000). Com isso, o poeta contrapõe os
ideais europeu e indígena, mostrando como os traços indígenas e seus ideais de
beleza diferem do ideal clássico branco(RONCARI, 2002, P. 379).
Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feiúra
Não sou de
tupã?
-meus olhos são garços, são cor das safiras.
-É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
-Meus loiros cabelos em ondas se anelam.
Jamais um guerreiro da minha arasóia
Me
desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou
Marabá.
No poema "Juca Pirama" Gonçalves Dias obtém o máximo de seus recursos expressivos, sobretudo pela força das imagens e pela riqueza e variedade dos ritmos. Este poema nos oferece todos os elementos do indianismo: lutas, coragem, defesa de honra, o heroísmo cavalheiresco revivido no selvagem idealizado e fala também de um elemento- antes posto pelos europeus de forma erronia - que seria o ritual antropofágico. O autor mostra que para os índios morrer em um ritual como esse é simplesmente honroso, porque somente os guerreiros fortes, espertos e viris que têm o privilégio de sofrerem tal ritual (Amaral, 2000.p. 123).
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos- cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
[...]
-Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
-Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças.-
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
Este, sim, que é o meu filho muito amado!
Juca Pirama é um poema indianista
de Gonçalves Dias de notável sucesso e notavelmente poetizado. Nele, o eu -
lírico canta a história de um jovem guerreiro da tribo Tupi que é capturado
pelos índios Timbiras e por causa de sua bravura, coragem, vai sofrer um ritual
de antropofagia, mas na angústia de deixar seu pai desalentado ele mostra
fraqueza e pede para ser solto. Assim os Timbiras o soltam, mas seu pai fica
triste ao saber que seu amado e bravo filho fraquejou, após saber de tal fato o
velho índio levou o jovem de volta a tribo dos Timbiras, para que fosse morto e
acusou-lhe de covarde.O filho vendo isso atirou-se à luta com tal bravura, que
o chefe Timbira reconheceu seu direito
de morrer.
Referências
Bibliográficas
AMARAL, Emília ...[et AL].Português: novas palavras:literatura,
gramática, redação. São Paulo:FTD, 2000.
CANDIDO.Antonio,
1918- Formação da literatura brasileira:
momentos decisivos. 6 ed. Belo Horizonte. Editora Itatiaia Ltda, 2000
RONACARI,
Luiz. Literatura brasileira: dos
primeiros cronistas aos últimos românticos. 2 ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2002.
Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.
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