sábado, 3 de março de 2012

Recordando Gonçalves Dias




Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão em 1823 e faleceu nas proximidades de seu estado natal em 1864. Cursou Direito na Universidade de Coimbra, regressou ao Brasil onde lecionou Latim e história da pátria e trabalhou para o governo.
É o primeiro poeta a se identificar com a causa romântica, com a sentimentalidade do seu povo e a consolidar o Romantismo no Brasil; muitos atribuem o fato de ele ser mestiço de pai português e mãe cafuza, um dos fatos principais da sua defesa do índio e da sua busca da igualdade perante aos europeus.
Sua obra é composta de poesias, romances e teatro. Sua lírica constituía-se de ideias e visões da tradição medievalista, com a contemplação panteísta e sentimento religioso, no sentido da associação de Deus à natureza; lirismo pessoal que concilia a sua experiência sentimental com seu o ideal amoroso revestido de significação autobiográfica. Cândido (2000, p. 71) classifica sua poesia indianista – que obteve grande destaque na produção deste autor - como “antevisão lírica e épica das nossas origens, revigorando as intenções nacionalistas”.
A poesia indianista ou Americana foi uma poesia através da qual o autor buscou promover o tema nacional. Através desta poesia, Gonçalves Dias procura revelar um tipo de visão em relação ao índio diferente da que os portugueses haviam antes pintado para o restante do mundo. Ele procura passar uma visão geral do índio como um ser belo, fantástico. Seu verso incorpora o detalhe pitoresco da vida americana ao ângulo romântico.
“Indianismo não significa apenas tomar como tema e assunto da literatura o indígena e os seus costumes.” Muitos achavam que bastava falar de índios ou relatar histórias em que estes estivessem presentes para que se fizesse uma literatura indianista ou americana, na realidade, para essa nova poesia o indígena surgiria como um ser acima do europeu, pelo fato de não ter sido contaminado pelos males da civilização. Escrever a poesia indianista implicava na construção de uma nova visão e um novo ponto de vista em relação ao índio, como uma realidade cultural e ética distinta da população europeia, essa lírica foi feita - feita por excelência - por um poeta mestiço de formação européia, Gonçalves Dias, “seu talento residia na capacidade de colocar à disposição dessa nova visão tudo o que aprendera de melhor: a cultura européia e  a sua tradição poética”(RONCARI, 2002,p.376 – 377).
Gonçalves Dias passa a dar importância à beleza dos indígenas e até a mostrá-los como seres ainda mais belos que os europeus, tanto é que em seu poema "Marabá", podemos notar que marabá- uma mulher de sangue branco e índio- se questiona a todo tempo acerca de sua beleza, pois nenhum índio a queria desposar, sofre por ter sangue branco, por não ter as características físicas dos índios (Cândido, A.2000). Com isso, o poeta contrapõe os ideais europeu e indígena, mostrando como os traços indígenas e seus ideais de beleza diferem do ideal clássico branco(RONCARI, 2002, P. 379).

Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
                       Acaso feiúra
                       Não sou de tupã?

-meus olhos são garços, são cor das safiras.
-É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
-Meus loiros cabelos em ondas se anelam.

Jamais um guerreiro da minha arasóia
                       Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
                       Que sou Marabá.


No poema "Juca Pirama" Gonçalves Dias obtém o máximo de seus recursos expressivos, sobretudo pela força das imagens e pela riqueza e variedade dos ritmos. Este poema nos oferece todos os elementos do indianismo: lutas, coragem, defesa de honra, o heroísmo cavalheiresco revivido no selvagem idealizado e fala também de um elemento- antes posto pelos europeus de forma erronia - que seria o ritual antropofágico. O autor mostra que para os índios morrer em um ritual como esse é simplesmente honroso, porque somente os guerreiros fortes, espertos e viris que têm o privilégio de sofrerem tal ritual (Amaral, 2000.p. 123).

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos- cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.

[...]

-Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
-Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças.-

O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
Este, sim, que é o meu filho muito amado!

 Juca Pirama é um poema indianista de Gonçalves Dias de notável sucesso e notavelmente poetizado. Nele, o eu - lírico canta a história de um jovem guerreiro da tribo Tupi que é capturado pelos índios Timbiras e por causa de sua bravura, coragem, vai sofrer um ritual de antropofagia, mas na angústia de deixar seu pai desalentado ele mostra fraqueza e pede para ser solto. Assim os Timbiras o soltam, mas seu pai fica triste ao saber que seu amado e bravo filho fraquejou, após saber de tal fato o velho índio levou o jovem de volta a tribo dos Timbiras, para que fosse morto e acusou-lhe de covarde.O filho vendo isso atirou-se à luta com tal bravura, que o chefe Timbira   reconheceu seu direito de morrer.

Referências Bibliográficas

 AMARAL, Emília ...[et AL].Português: novas palavras:literatura, gramática, redação. São Paulo:FTD, 2000.
 CANDIDO.Antonio, 1918- Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6 ed. Belo Horizonte. Editora Itatiaia Ltda, 2000
RONACARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.


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