A arte milenar do Origami contribuindo com a Ciência
Em primeiro lugar perguntamos: o que é o origami? É uma palavra de origem
japonesa onde ori significa dobrar e kami significa papel. Trata-se de uma
arte milenar oriental que, utilizando-se das dobras de papel, muitas formas e ideias
são extraídas desse contexto. Apesar do Japão levar consigo a patente de ser o
local originário do origami, existem rumores que ele pode ter surgido também na
China onde a história do papel é bem mais antiga.
A aproximação dessa arte com a matemática é
muito bem expressa no livro Wakoku Chiyekurabe, do autor Kan Chu Sen , publicado em 1721, que
traz a relação origami/matemática presente na apresentação de questões
envolvendo resoluções de problemas que exigem raciocínio matemático, utilizando
o origami como uma ferramenta significativa para sua compreensão.
Imagens do livro de Ken Chu Sen , 1721
Uma obra relevante nesse sentido também é o livro do autor T. Sundara Row,
o Geometric Exercises in paper folding,
(Exercícios geométricos em origami). Tal estudo foi publicado originalmente em Madras,
Índia, em 1893, sendo que foi editado em 1905 pela The Open Court Publishing Company e reeditado em 1996 pela Dover
Publications, Inc, New York. A intenção desse trabalho era mostrar a
possibilidade de construção de polígonos regulares por origami, e demonstrar
certas proposições geométricas com auxílio das dobraduras.
Quanto ao Brasil, os estudos sobre essa relação do origami com outras
disciplinas científicas, existe uma pequena bibliografia nacional sobre a
aplicação do origami no ensino de matemática. Imenes (1996) traz a construção
de polígonos, poliedros, ângulos e retas. Machado (1996) apresenta problemas
que envolvem técnicas de composição e decomposição de figuras geométricas.
Michel (1997) apresenta uma série de dobraduras de sólidos geométricos de fácil
execução. Rego, Rego e Gaudêncio Jr, (2004) apresenta em seu livro uma grande
variedade de atividades para o uso em sala de aula.
Atualmente, as técnicas do origami são motivo de pesquisa visando
aplicações em novas áreas de tecnologias e computação. Por exemplo, o método de
dobra de mapas criado por Koryo Miura (‘Folding Miura Ori Map”) é utilizado no
design de velas solares dobráveis e no projeto de painéis de satélites.
O origami, e suas seqüências de dobras, são
estudados na engenharia computacional, criando uma área de pesquisa conhecida
como computational origami. Ela é a intersecção entre a ciência da
computação e a matemática do origami, e desenvolve algoritmos que
resolvem problemas relacionados à dobragem de papéis.
Um dos primeiros softwares criados foi o
TreeMaker (1993) desenvolvido Robert Lang . Esse software realiza as marcações
base no papel, para depois as dobras serem feitas. Um exemplo do tipo problema estudado
com este software é o “problema dobre e corte” que consiste na criação de um
algoritmo onde se pode provar que qualquer forma poligonal, seja ela uma
simples estrela ou um dragão, pode ser feita ao dobrar um pedaço de papel na
seqüência correta e depois cortá-lo.
O problema dobre e corte foi solucionado por Erik Demaine (MIT), que
aplica essa técnica na Alemanha, no design de airbags para automóveis. Demaine
também pesquisa os dobramentos de proteínas com as técnicas de dobras.
Acredita-se que as proteínas possuem uma seqüência correta de dobras na sua
formação e que “dobras ruins” são responsáveis por certas doenças.
Robert M. Hanson é autor do livro Molecular
Origami : Precision Scale Models from Paper, onde modelos de papel são
criados com o intuito de auxiliar o estudo do arranjo dos átomos nas moléculas.
Ele também criou o programa de computador Molecular origami, onde é possível
imprimir várias estruturas moleculares em dobraduras de papel.
Em outras áreas do estudo da química o origami também é útil. Ligações
iônicas e covalentes podem ser representadas com modelos feitos com origami. O
livro Molecular Models with Origami de
Yoshihide Momotani, traz uma série de exemplos que representam moléculas: um
aldeído, uma ligação covalente e um modelo de DNA.
Os estudos dos movimentos feitos no origami também
são utilizados na robótica e na automatização de atividades com materiais
flexíveis: dobrar camisas e jornais. Lança-se mão dos movimentos realizados no origami
para a programação em computador deste tipo de automatização.
Através dos estudos e suas respectivas
publicações levantadas acima, temos a certeza de que o origami é uma
alternativa de grande valor para interessados no desenvolvimento intelectual. É
interessante encerrarmos esse artigo com as palavras utilizadas pela origamista
japonesa Tomoko Fuse e refletirmos sobre ela: “Todo origami começa quando pomos as mãos em movimento. Há uma grande
diferença entre conhecer alguma coisa através da mente e conhecer a mesma coisa
através do tato”.
Mirna
Valéria Coimbra Dias é graduada em Matemática pela UERJ e especialista
em Matemática Financeira e Estatística pela FACEL.
Marcus
Antônio Croce é Mestre em História pela UFF e doutorando em Economia
pela UFMG. Atualmente é professor titular da Faculdade Santa Rita (FASAR) e
prof. Substituto do Departamento de Economia da UFMG. e-mail de
contato dos colaboradores: mc1967@ig.com.br
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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