sábado, 28 de abril de 2012

Eros e amor em Kostantinos Kaváfis

      

Olá leitores da ContemporARTES. Hoje resolvi apresentar a vocês alguns poemas de um poeta que descobri há uns dois anos ou que me foi apresentado nessa época. O importante mesmo é o fato de ele ter uma escrita tão peculiar, tão envolvente, com poemas que exploram o corpo e o erotismo de maneira, ao mesmo templo, explosiva e contida. Enfim, um poeta que deve ser lido aos poucos, com muito cuidado para não deixar escapar nenhum dos prazeres sensoriais que a poesia oferece.
O poeta de quem falo é Kostantinos Kaváfis, nascido em Alexandria (Egito) em 1863, mas considerado grego, uma vez que pertencia à numerosa colônia helênica, que floresceu nessa cidade mediterrânea. O que deve ser ressaltado na biografia deste, considerado o maior nome da poesia no idioma grego moderno, é que em sua poesia conhecida figuram somente 154 poemas, reelaborados durante toda sua vida. Dentre as instituições questionadas por ele figuravam a cristandade, o heterossexualismo e o patriotismo.
É interessante ressaltar que na poesia de Konstantinos Kaváfis há poemas de cunho claro e altamente homoerótico, constituindo, desta maneira, um arrojado projeto de escrita em uma época em que a homossexualidade era altamente rechaçada (o que talvez hoje tenha se atenuado, mas, ao menos no Brasil, não mudou de maneira considerável). Vamos aos poemas:
TUMBA DE EURÍON

Aqui, neste soberbo monumento,
Todo feito em mármore de Siene,
No meio de tantos lírios, de tantas violetas,
O belo Euríon jaz. Era rebento
De Alexandria e só contava vinte e cinco anos.
Pelo seu pai, de velho tronco macedoniano,
E, por sua mãe, dos alabarcas descendia.
Aluno de Aristoclito, com ele estudou Filosofia;
Cursou Retórica com Paro. Em Tebas aprendia
As Sacras Escrituras. De um nomo fez a
História: Arsinoé. Pelo menos isso dele nos restou,
Mas o de maior valor se foi: sua beleza
Apolínea, verdadeira epifania.
(KAFÁFIS, 2006, p. 155)

TUMBA DE IASIS

Iasis aqui jaz.
 Esta grande cidade não tem efebo
 por sua beleza mais renomado.
Admiravam-me os sábios; e os frívolos também,
os simples. A mim me davam igual agrado

os dois. Mas como Hermes ou Narciso me haviam sempre de supor,
os excessos gastaram-me, mataram-me. Viandante,
se és alexandrino, não hás de censurar. Conheces o ardor
de nossa vida: que febre, que luxúria inebriante.
(KAVÁFIS, 2006, p. 66)


LEMBRA, CORPO...

Lembra, corpo, não só o quanto foste amado,
não só os leitos onde repousaste,
mas também os desejos que brilharam
por ti em outros olhos, claramente,
e que tornaram a voz trêmula – e que algum
obstáculo casual fez malograr.
Agora que isso tudo perdeu-se no passado,
é quase como se tais desejos
te entregas – e como brilhavam,
lembra, nos olhos que te olhavam,
e como por ti na voz tremiam, lembra, corpo.
(KAVÁFIS, 2006, p. 174)

Ao contrário do que venho fazendo anteriormente em meus escritos nesta coluna, hoje, não analisarei os poemas, deixarei que cada um dos leitores possa usufruir de toda a poesia e sensualidade que emanam dos versos e poemas apresentados.
Os que gostarem dos versos, devem ter em mente que nos poemas de Kostantinos Kaváfis há também uma grande intertextualidade com a cultura grega, com os clássicos gregos como A Ilíada e Odisseia. Há mais elementos que devem ser descobertos ao longo das leituras. E um notícia ótima é que há traduções e publicações dos poemas deste grande poeta aqui no Brasil – o que nem sempre é fácil de encontrar.
Referência Bibliográfica:
KAVÁFIS, Konstantinos. Poemas. Trad. José Paulo Paes. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2006.

Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.

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