domingo, 1 de abril de 2012

GUMÉSIA

         


GUMÉSIA
                                                 
                                                     
                                                                  por diego rezende

sejam mãos rústicas de calos, secas do calor, úmidas de banho e torpor
mãos sujas de terra, oleosas de creme, finas de febre e inspiradas por tinta
mãos que abraçam, mas que também puxam o gatilho
mãos dadas que passeiam e formam uma roda de canto
são as mesmas que estrangulam e o pranto plantam

pensemos a cultura como uma metáfora bipolar
simbolizada por nossas mãos
mãos que estendidas glorificam a deus ou a hitler,
que com a testa formam uma até breve ou um ritual militar,
mãos que balançadas significam um desdém ou um adeus dará

mães com mãos que acariciam
mãos de mães que abandonam seus filhos

mãos nossas, tão humanas quanto paradoxais, tão doces quanto mortais
como uma faca que nos permite cortar maças, gargantas e pulsos
como uma espada de ambos cortes e uma moeda de maniqueísta sorte

como nossas mãos é a cultura,
que nos permite voar,
que constrói aviões e folclores,
que rondam o imaginário popular

todavia porém,
essa também cria racismos, homofobias e machismos
xenofobias e fascismos
etnocentrismos e fundamentalismos

não asilais nada como absoluto ou incorrigível
tudo tende a dialeticamente mudar,
do alheio faz-se o mim
façamos do verbo ser o verbo estar,
entendamos que o mundo não é, mas está sendo, assim

assim...
oh! assim...

assim como um sim compulsivamente singelo
assim sobre mim singelamente nu
assim mientras ella fluye
assim, assim, assim, não!


não como os cumes ambíguos dessa poesia de merda
nem com essas petúnias malditas com cheiro de morte

eu? eu vou-me embora para gumésia
porque lá eu sou amante do príncipe
ensino piano jazz para a duquesa
bebo com as anarquistas
e finjo escrever poesia










Diego Rezende. Embriaga-se de cinema e vinho tinto para não sentir o fardo concebido pela espontaneidade teatral do cotidiano do curso de Comunicação Social na UFJF.

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

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