GUMÉSIA
GUMÉSIA
por
diego rezende
sejam mãos rústicas de calos, secas
do calor, úmidas de banho e torpor
mãos sujas de terra, oleosas de
creme, finas de febre e inspiradas por tinta
mãos que abraçam, mas que também
puxam o gatilho
mãos dadas que passeiam e formam
uma roda de canto
são as mesmas que estrangulam e o
pranto plantam
pensemos a cultura como uma
metáfora bipolar
simbolizada por nossas mãos
mãos que estendidas glorificam a
deus ou a hitler,
que com a testa formam uma até
breve ou um ritual militar,
mãos que balançadas significam um
desdém ou um adeus dará
mães com mãos que acariciam
mãos de mães que abandonam seus
filhos
mãos nossas, tão humanas quanto
paradoxais, tão doces quanto mortais
como uma faca que nos permite
cortar maças, gargantas e pulsos
como uma espada de ambos cortes e
uma moeda de maniqueísta sorte
que nos permite voar,
que constrói aviões e folclores,
que rondam o imaginário popular
todavia porém,
essa também cria racismos, homofobias
e machismos
xenofobias e fascismos
etnocentrismos e fundamentalismos
não asilais nada como absoluto ou
incorrigível
tudo tende a dialeticamente mudar,
do alheio faz-se o mim
façamos do verbo ser o verbo
estar,
entendamos que o mundo não é, mas
está sendo, assim
assim...
oh! assim...
assim como um sim compulsivamente singelo
assim sobre mim singelamente nu
assim mientras ella
fluye
assim, assim, assim, não!
não como os cumes ambíguos dessa poesia de merda
nem com essas petúnias malditas com cheiro de morte
eu? eu vou-me embora para gumésia
porque lá eu sou amante do príncipe
ensino piano jazz para a duquesa
bebo com as anarquistas
e finjo escrever poesia
Diego Rezende. Embriaga-se de cinema e
vinho tinto para não sentir o fardo concebido pela espontaneidade teatral do
cotidiano do curso de Comunicação Social na UFJF.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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