segunda-feira, 2 de abril de 2012

Luis Fernando Verissimo: poesia em forma de prosa?



Há quem diga que só existe poesia em poemas... A lírica é responsável pela poesia, quase sinônimos para uns. Contudo, defendo que há poesia onde se pode colocá-la. Seja na pintura do artesão da esquina, seja no filme experimental sobre Florbela Espanca ou, seja na prosa, no nosso caso, do gaúcho Luis Fernando Verissimo.

Sem acentos, como prefere e já postulou em entrevistas, Verissimo é um dos cronistas mais requintado e, quiçá, um dos mais lidos na contemporaneidade. Já circularam diversos emails que continham textos em seu nome, e alguns, já foram levados tão a sério que foi tema de pergunta ao escritor. Lembro-me de uma entrevista em que fora perguntado a ele acerca do texto, e ele questionou sobre de quem era a autoria. Irreverente, lembro ainda desse repórter dizer que ele não vê problemas com isso, pois os textos circulam e ganham proporções que a literatura merece.

Entre seus livros que destaco, está um que contém crônicas de um teor de literariedade gigante, falo de Mais comédias para se ler na escola. Já faço a ressalva, para se ler na escola, no trabalho, no parque... para se ler em qualquer lugar. Para que possam ter o gosto do que falo, trago um trecho da obra, com a crônica “Atitude suspeita”. 
"Sempre me intriga a notícia de que alguém foi preso “em atitude suspeita”.  É uma frase  cheia  de  significados.  Existiriam  atitudes  inocentes e atitudes duvidosas  diante da vida e  das coisas  e  qualquer um de nós  estaria sujeito a, distraidamente, assumir uma atitude que dá cadeia!
      ― Delegado, prendemos este cidadão em atitude suspeita.
      ― Ah, um daqueles, é? Como era a sua atitude?
      ― Suspeita.
      ― Compreendo. Bom trabalho, rapazes. E o que é que ele alega?
      ― Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão.
      ― Hmm.   Suspeitíssimo.  Se  fosse   inocente   não  teria  medo  de  vir  dar explicações" (Verissimo, 2008)

Para quem deseja conhecer mais da obra de Luis Fernando Verissimo, segue nome de alguns títulos:

A Grande Mulher Nua (1975)
O Analista de Bagé (1981)
Outras do Analista de Bagé (1982)
Orgias (1989/2005)
Peças Íntimas (1990)
Comédias da Vida Privada (1994)
Comédias da Vida Pública (1995)
Comédias para se Ler na Escola (2000)
As Mentiras que os Homens Contam (2000)
O Opositor (2004)
Mais comédias para ler na escola (2008)


Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolve pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. Contato: renatodering@gmail.com



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