Luis Fernando Verissimo: poesia em forma de prosa?
Há quem diga que só existe poesia em poemas... A lírica é
responsável pela poesia, quase sinônimos para uns. Contudo, defendo que há
poesia onde se pode colocá-la. Seja na pintura do artesão da esquina, seja no
filme experimental sobre Florbela Espanca ou, seja na prosa, no nosso caso, do gaúcho Luis Fernando Verissimo.
Sem acentos, como prefere e já postulou em entrevistas,
Verissimo é um dos cronistas mais requintado e, quiçá, um dos mais lidos na
contemporaneidade. Já circularam diversos emails que continham textos em seu
nome, e alguns, já foram levados tão a sério que foi tema de pergunta ao
escritor. Lembro-me de uma entrevista em que fora perguntado a ele acerca do
texto, e ele questionou sobre de quem era a autoria. Irreverente, lembro ainda
desse repórter dizer que ele não vê problemas com isso, pois os textos circulam
e ganham proporções que a literatura merece.
Entre seus livros que destaco, está um que contém crônicas
de um teor de literariedade gigante, falo de Mais comédias para se ler na escola. Já faço a ressalva, para se
ler na escola, no trabalho, no parque... para se ler em qualquer lugar. Para
que possam ter o gosto do que falo, trago um trecho da obra, com a crônica “Atitude
suspeita”.
"Sempre me intriga a notícia de que alguém foi preso “em
atitude suspeita”. É uma frase cheia de significados. Existiriam atitudes inocentes
e atitudes duvidosas diante da vida e das coisas e qualquer
um de nós estaria sujeito a, distraidamente, assumir uma atitude que
dá cadeia!
― Delegado, prendemos este cidadão em atitude suspeita.
― Ah, um daqueles, é? Como era a sua atitude?
― Suspeita.
― Compreendo. Bom trabalho, rapazes. E o que é que ele alega?
― Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão.
― Hmm. Suspeitíssimo. Se fosse inocente não teria medo de vir dar explicações" (Verissimo, 2008)
― Delegado, prendemos este cidadão em atitude suspeita.
― Ah, um daqueles, é? Como era a sua atitude?
― Suspeita.
― Compreendo. Bom trabalho, rapazes. E o que é que ele alega?
― Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão.
― Hmm. Suspeitíssimo. Se fosse inocente não teria medo de vir dar explicações" (Verissimo, 2008)
Para quem deseja conhecer mais da obra de Luis Fernando
Verissimo, segue nome de alguns títulos:
A Grande
Mulher Nua (1975)
O Analista de Bagé (1981)
Outras do Analista de Bagé (1982)
Orgias (1989/2005)
Peças Íntimas (1990)
Outras do Analista de Bagé (1982)
Orgias (1989/2005)
Peças Íntimas (1990)
Comédias da Vida Privada (1994)
Comédias da Vida Pública (1995)
Comédias para se Ler na Escola (2000)
As Mentiras que os Homens Contam (2000)
Comédias da Vida Pública (1995)
Comédias para se Ler na Escola (2000)
As Mentiras que os Homens Contam (2000)
O Opositor (2004)
Mais comédias para ler na escola (2008)
Mais comédias para ler na escola (2008)
Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras
(Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como
roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolve pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente
também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. Contato: renatodering@gmail.com
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