Arte e subjetividade
Em diálogo com o Luiz Antonio Baptista, participei na dia 6 último da mesa Cidades e Subjetividades nas artes na Universidade Federal Fluminense no Pólo Universitário de Campos de Goyatacazes (RJ) dentro da Programação do V Seminário de Pesquisa. Algumas indagações levantadas tanto pelos palestrantes quanto pelo público valem a pena enforcar aqui.
Um pergunta clássica enfocou a questão de como se definir a arte, o conceito de criar. A arte teria apenas o papel (já tão nobre) de expressar algo referente à natureza humana? Foi defendido pela mesa que não. Enquanto Baptista enfatizava os aspectos de estranhamento, tormento da arte, o quebrar de um espelho e não apenas o olhar nele, eu lembrei, complementando, o potencial transgressor da arte, também político. Um exemplo tácito é a chamada arte degenerada da Alemanha Nazista. A arte foi assim denominada por ser transgressora, fora dos padrões considerados "higiênicos" (do ponto de vista das teorias raciais, no momento. A arte moderna, os seus expoentes modernistas que foram expulsos quer literalmente quer pela segregação de sua obra na Alemanha nazista.
Baptista para explicar metaforicamente o conceito de arte, fez uso da Literatura de Jorge Luis Borges(1), no poema Os Espelhos, no qual o espelho (metáfora de Arte) aparece como a distorção, tendo um conceito de potência não de se acumular, mas de desconcertar.
Hoje, ao cabo de tantos e perplexos
anos de errar sob a variável lua,
me pergunto que azar da fortuna
fez que eu temera os espelhos.
Espelhos de metal, mascarado
espelho de caoba que na bruma
de seu roxo crepúsculo esfuma
esse rosto que olha e é olhado.
(JORGE LUIS BORGES).
Outras obras citadas por Baptista foram o conto O Amor do livro Laços de Família de Clarice Lispector, e o filme Bicho de Sete Cabeças (Brasil, 2001). Nessas obras, aparece o conceito do ato de desfazer da arte, olhar o cotidiano e torná-lo algo diferente. A subjetividade aparece não com algo exterior às Ciências, mas como um artefato de produção de conhecimento. Por exemplo, a questão da cidade enquanto promessas de felicidade que condesa, lugar dinâmico que se torna um imã de confrontos e enfrentamentos.
Acredito que experiências e falas como essa são vitais para tirarmos os tabus sobre o tema da subjetividade. Há tempos trabalhando com memória, sinto sempre um quê de desconfiança quando enfatizo a importância da subjetividades. No entanto, a ciência cartesiana continua a querer objetividade onde não existe, onde mesmo as fadas escondidas ou ocultas, continuam fazendo seu papel.
(1) "Jorge Luis Borges(1899-1986), poeta argentino, bilingue, foi um dos mais brilhantes e polêmicos escritores da América Latina. Cansado do ultraísmo (escola experimental de poesia que se desenvolve a partir do cubismo e do futurismo), tenta fundar um novo tipo de regionalismo, enraizado em uma perspectiva metafísica da realidade. Logo se cansará também destes e se interessará pela narrativa fantástica ou mágica, produzindo algumas das mais extraordinárias ficções deste século". Fonte - http://www.poesias.omelhordaweb.com.br
Ana Maria Dietrich é historiadora e coordenadora da Contemporartes- Revista de Difusão Cultural.
contemporartes@gmail.com
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