quarta-feira, 4 de julho de 2012

Escritora ministra oficina literária aos integrantes do Batuclagem


Na última quinta-feira, o Projeto Batuclagem nas Escolas/ PROEX/ UFABC e eu recebmeos a escritora de livros infantis e adultos Simone Pedersen, também nossa colunista da Contemporates que escreve a coluna Bar Contemporartes há 2 anos. Ela veio de Vinhedo especialmente para oferecer uma oficina de criatividade para os alunos da UFABC que fazem parte do projeto de extensão Batuclagem e que estão elaborando 6 livros para crianças cujo tema é a Educação Ambiental e que será lançado ainda esse ano. Os livros serão adaptações de fábulas e contos infantis, tanto da literatura universal quanto do folclore brasileiro. Entre eles, estão a lenda do Curupira, o protetor das florestas e a Chapeuzinho Vermelho, que como uma menina apaixonada pelo planeta se torna Chapeuzinho Verde.
De maneira leve e lúdica, Simone contou diversas histórias aos alunos e mostrou parte de sua riquíssima obra, que contem também livros com foco no meio ambiente como o Vila Encantada. Além disso deu muitas dicas da parte empresarial e mercadológica necessária para se fazer um livro para crianças.
Agradecemos a presença de tão ilustre escritora e esperamos que encontros como esse se repitam...
Abaixo fotos da oficina.

Simone Pedersen em ação
O público interessado após ela abrir sua maleta mágico com 15 obras de literatura infantil.
As obras, entre elas, a que fala sobre educação ambiental, a Vila Encantada.
Alunos e mestra compenetrados.

Ana Maria Dietrich é coordenadora do Batuclagem e da Contemporartes


Abaixo, leiam também a linda crônica sobre a viagem de Simone Pedersen à Santo André.

O CAMINHO DO PASSADO

Simone Pedersen

Hoje fiz uma viagem diferente. Sai de Vinhedo, interior de São Paulo, e segui para Santo André, pelo Rodoanel. É um caminho bem mais longo. Mesmo assim, eu o prefiro, por ser mais poético – sem contar o menor trânsito.

A princípio me chamou a atenção o encontro dos céus. Próximo da região de Osasco, a poluição tingiu o céu de cinza. Pelo retrovisor, avistava um tapete verde e céu azul claro, lindo, límpido. A minha frente, um céu triste e doente.
Segui cantando com Emma Schapplin, enquanto focava na paisagem mais do que no céu que tossia fumaça. Quando atravessei a Represa Billings, o céu voltou a sorrir e o Sol agradecido jogou purpurina sobre suas águas, que cintilavam como estrelas no mar da noite. Do outro lado da ponte, a Sombra ficou enciumada e deitou-se sobre as águas. Ela também queria ser admirada, e para fazer-se notar, não se importava com a tristeza de quem olhava das margens do lado direito. O Sol percebeu e decidiu esperar. O Tempo cura todos os males, pensou. Pacientemente os ponteiros do relógio marcharam pela rodovia e quando o Meio-Dia chegou para almoçar, o Sol havia movido para o centro do céu, de onde pode aquecer a Sombra com um abraço morno. A Sombra ficou envergonhada. Tentara brigar, mas como para brigar precisa de dois, não havia conseguido. Percebeu que mesmo não sendo tão bela, tinha lá os seus valores. Com o Sol alto e quente, embelezando a paisagem, as pessoas correram para o cantinho no qual ela havia se recolhido, para desfrutarem de seu frescor.
Continuei feliz por terem resolvido suas diferenças, sentido Mauá. Nunca havia feito esse trajeto, mas sabia que aquela era a direção. Quando jovem, morava em São Caetano e conhecia bem a região. No final da rodovia, segui as placas até entrar em uma avenida que logo reconheci. Não, não poderia ser. Aquela era a avenida que levava a casa de meus falecidos avós paternos. Parque São Vicente, sim o bairro onde frequentei todos os domingos durante tantos anos. Minha avó fazia macarronada e pasteis de carne, com sobremesa de pudim de leite. Recordei imediatamente daquelas ruas sem asfalto, onde sujei meus sapatos de barro, quando ainda estavam formando o bairro. Minha avó morava em uma casa deliciosa, e tinha no jardim da frente um cacto imenso, mais alto que a casa, que florescia ocasionalmente.
Sem que percebesse, comecei a chorar no volante. Imagens de minha avó na minha infância, forte e cozinhando, confrontavam as imagens dela no final da vida, tão pequenina que mais parecia uma menininha. E meu avô, alto e forte, pareceu-me extremamente frágil quando o vi pela última vez, deitado em sua cama, despedindo-se da vida aos poucos, enquanto a doença má o consumia. Naquela tarde, eu também chorei sentada na cama dele. Chorei por aprender tão cedo, que a vida é imprevisível. Que a Morte veste mesmo uma túnica preta que borra todos os nossos sonhos.
Logo à frente vi a churrascaria onde às vezes almoçávamos, “Estrela do Sul”, hoje totalmente reformada e com o nome “Churrascaria dos Pampas”. Vi-me pequenina, com 6-7 anos de idade, insistindo em me sentar no cadeirão de bebê no qual eu mal cabia. Talvez eu já pressentisse que crescer nem sempre é uma boa ideia. Se eu continuasse pequena, meus avós ficariam ao meu lado para sempre. 

Simone Pedersen é colunista da Contemporartes e premiada escritora.




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