Escritora ministra oficina literária aos integrantes do Batuclagem
Na última quinta-feira, o Projeto Batuclagem nas Escolas/ PROEX/ UFABC e eu recebmeos a escritora de livros infantis e adultos Simone Pedersen, também nossa colunista da Contemporates que escreve a coluna Bar Contemporartes há 2 anos. Ela veio de Vinhedo especialmente para oferecer uma oficina de criatividade para os alunos da UFABC que fazem parte do projeto de extensão Batuclagem e que estão elaborando 6 livros para crianças cujo tema é a Educação Ambiental e que será lançado ainda esse ano. Os livros serão adaptações de fábulas e contos infantis, tanto da literatura universal quanto do folclore brasileiro. Entre eles, estão a lenda do Curupira, o protetor das florestas e a Chapeuzinho Vermelho, que como uma menina apaixonada pelo planeta se torna Chapeuzinho Verde.
De maneira leve e lúdica, Simone contou diversas histórias aos alunos e mostrou parte de sua riquíssima obra, que contem também livros com foco no meio ambiente como o Vila Encantada. Além disso deu muitas dicas da parte empresarial e mercadológica necessária para se fazer um livro para crianças.
Agradecemos a presença de tão ilustre escritora e esperamos que encontros como esse se repitam...
Abaixo fotos da oficina.
Simone Pedersen em ação
O público interessado após ela abrir sua maleta mágico com 15 obras de literatura infantil.
As obras, entre elas, a que fala sobre educação ambiental, a Vila Encantada.
Alunos e mestra compenetrados.
Ana Maria Dietrich é coordenadora do Batuclagem e da Contemporartes
Abaixo, leiam também a linda crônica sobre a viagem de Simone Pedersen à Santo André.
O CAMINHO DO PASSADO
Simone Pedersen
Hoje fiz uma viagem diferente. Sai de Vinhedo, interior de
São Paulo, e segui para Santo André, pelo Rodoanel. É um caminho bem mais
longo. Mesmo assim, eu o prefiro, por ser mais poético – sem contar o menor
trânsito.
A princípio me chamou a atenção o encontro dos céus. Próximo
da região de Osasco, a poluição tingiu o céu de cinza. Pelo retrovisor,
avistava um tapete verde e céu azul claro, lindo, límpido. A minha frente, um
céu triste e doente.
Segui cantando com Emma Schapplin, enquanto focava na
paisagem mais do que no céu que tossia fumaça. Quando atravessei a Represa
Billings, o céu voltou a sorrir e o Sol agradecido jogou purpurina sobre suas
águas, que cintilavam como estrelas no mar da noite. Do outro lado da ponte, a
Sombra ficou enciumada e deitou-se sobre as águas. Ela também queria ser
admirada, e para fazer-se notar, não se importava com a tristeza de quem olhava
das margens do lado direito. O Sol percebeu e decidiu esperar. O Tempo cura
todos os males, pensou. Pacientemente os ponteiros do relógio marcharam pela
rodovia e quando o Meio-Dia chegou para almoçar, o Sol havia movido para o
centro do céu, de onde pode aquecer a Sombra com um abraço morno. A Sombra
ficou envergonhada. Tentara brigar, mas como para brigar precisa de dois, não
havia conseguido. Percebeu que mesmo não sendo tão bela, tinha lá os seus
valores. Com o Sol alto e quente, embelezando a paisagem, as pessoas correram
para o cantinho no qual ela havia se recolhido, para desfrutarem de seu
frescor.
Continuei feliz por terem resolvido suas diferenças, sentido
Mauá. Nunca havia feito esse trajeto, mas sabia que aquela era a direção.
Quando jovem, morava em São Caetano e conhecia bem a região. No final da rodovia,
segui as placas até entrar em uma avenida que logo reconheci. Não, não poderia
ser. Aquela era a avenida que levava a casa de meus falecidos avós paternos.
Parque São Vicente, sim o bairro onde frequentei todos os domingos durante
tantos anos. Minha avó fazia macarronada e pasteis de carne, com sobremesa de
pudim de leite. Recordei imediatamente daquelas ruas sem asfalto, onde sujei
meus sapatos de barro, quando ainda estavam formando o bairro. Minha avó morava
em uma casa deliciosa, e tinha no jardim da frente um cacto imenso, mais alto
que a casa, que florescia ocasionalmente.
Sem que percebesse, comecei a chorar no volante. Imagens de
minha avó na minha infância, forte e cozinhando, confrontavam as imagens dela
no final da vida, tão pequenina que mais parecia uma menininha. E meu avô, alto
e forte, pareceu-me extremamente frágil quando o vi pela última vez, deitado em
sua cama, despedindo-se da vida aos poucos, enquanto a doença má o consumia.
Naquela tarde, eu também chorei sentada na cama dele. Chorei por aprender tão
cedo, que a vida é imprevisível. Que a Morte veste mesmo uma túnica preta que borra
todos os nossos sonhos.
Logo à frente vi a churrascaria onde às vezes almoçávamos,
“Estrela do Sul”, hoje totalmente reformada e com o nome “Churrascaria dos
Pampas”. Vi-me pequenina, com 6-7 anos de idade, insistindo em me sentar no
cadeirão de bebê no qual eu mal cabia. Talvez eu já pressentisse que crescer
nem sempre é uma boa ideia. Se eu continuasse pequena, meus avós ficariam ao
meu lado para sempre.
Simone Pedersen é colunista da Contemporartes e premiada escritora.
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