quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Das deformações e o risco de tratá-las



Da crise
Em tempos de crise das grandes narrativas humanas, de apatia generalizada, de descrença, de excessiva fragmentação e de atuações políticas cada vez mais pontuais e superficiais, o vulgo assume como forma mais adequada de sobrevivência, a "diplomacia sambística". Uma estranha combinação entre os jogos de poder bem comportados e o estilo de vida despojado e descompromissado, marcado por uma inversão de papéis; amálgama comum d@s criaturas imersas no ambiente cultural da província Pau-brasil.

Do espetáculo
Tal "diplomacia", tem se mostrado a melhor forma de esconder as tensões sociais e levar adiante o projeto propagandístico, de exaltar o que há ou um dia haverá de melhor na província, buscando motivar o povo e garantir os braços e mentes que irão empurrar a carroça quebrada nacional, pelos caminhos tortuosos que a levarão ao precipício. Cenas que iriam deixar constrangid@s, @s maiores ilusionistas do mundo.

Da conjuntura
Talvez por arrogância, ignorância ou otimismo, ou mesmo pelas características citadas conjugadas, a reflexão e a capacidade crítica se esvaíram. Sobrou a politicagem, em busca das migalhas dos pães mofados, que caem das mesas d@s poderos@s. Restaram os sorrisos, os tapinhas nas costas, os apertos de mão, os favores. E não se pode deixar de lado a palavra de ordem: reformar, refazer, reestruturar ... re ... re ... re ...

Dos resultados
Diante da balbúrdia, qualquer ser, minimamente pensante e que tenha o perigoso hábito de confrontar as narrativas e discursos que circulam por aí, com a experiência subjetiva, sente um deslocamento profundo, entre o que o intelecto lhe apresenta e o que os fenômenos demonstram. Algum@s mal comportad@s, louc@s, solitári@s e perturbad@s criaturas, diante do impasse exposto e das dificuldades de análise das aparências, decidem subjulgar a experiência à uma sistemática e rigorosa análise intelectual. Possuíd@s por um compromisso com a razão e com uma criteriosa interpretação da vida, pautada por uma ética singular, passam a regular suas vidas não mais pelos valores vigentes, e a agir num confronto radical, e muitas vezes violento com o que @s circunscreve.

Das congregações e seus atos
As egrégias congregações institucionais, diante de tais deformações nos tecidos sociais, colocam em ação, su@s agentes de "sensibilização", "acompanhamento" e "orientação", buscando cumprir suas missões institucionais de "inclusão social". Há que se questionar, se tais desejam ou procuram se tornar mais um retalho do lençol maculado, ou se o que querem é promover "esclarecimentos" de pontos obscuros.

Do diagnóstico
Defendo a tese, que estas pessoas, não podem e jamais serão "integradas". Isso se deve pelas seguintes razões: possuem em suas constituições, marcas indeléveis de uma radicalidade fora de moda; formaram-se com base em uma ruptura entre o "eu regulador" e o meio no qual se deslocam; não compartilham os rituais e práticas comuns; estão infectadas por um "certo ceticismo" incurável; em suas longas e contínuas observações, não abrem concessões nem à si mesmas, colocando em risco a segurança, equilíbrio e inteligibilidade, que o "eu regulador" poderia garantir; brincam de dogmatismo, tentando artificializar múltiplas existências, sem concretizar nenhuma; agem com despudor e não reconhecem poder ou legitimação que não sejam dados por elas, estes passíveis de suspensão num piscar de olhos; e por fim, em seus descaminhos, possuem uma espiral que as guia rumo à um destino que se oculta nelas mesmas.

Do tratamento
Resta à bo@ jogador@ política, encontrar meios de "acolher" esses seres "excessivos", e não é nos manuais que irá encontrar as ferramentas de "tratamento", muito menos tentando alterar as peças do tabuleiro. Cabe-lhe, a nobre e difícil tarefa de tentar estabelecer algum contato, abandonando sua linguagem, sua forma, suas velhas, enferrujadas e inadequadas ferramentas racionais e se dispor à tentativa sincera e persistente de tentar dar conta de um pouco do gás que é emanado, sob risco de se intoxicar e se perder eternamente, e jamais lembrar quais as razões que @ levaram à tal situação.

Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do ABC. Integrante do Grupo de Pesquisa ABC das Diversidades. Atua no projeto de extensão Memória dos Paladares.




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