Vou-me embora para Xanadu
Lá sou amigo de Zeus, e Ele é o Sidney Magal. Lá posso sorrir o dia inteiro, cantar a noite toda, dançar sem parar com Sandra, Rosa e Madalena, as Musas do meu Olimpo. Lá os muros não existem e são coloridos. Lá não tiramos os patins para ir à escola − porque não vamos à escola. Lá o sol se espalha na pele e te lambuza de um jeito que é bom repetir.
Lá Olivia Newton-John é minha mãe e Gene Kelly, meu avô. Lá os bons tempos da brilhantina não acabaram. Lá a gente não abre o guarda-chuva para se proteger do arco-íris. Lá todos têm seu pote de ouro. Lá o pau de arara é multimilionário. Lá os movimentos são coreografados e o laquê é livre. Lá you can't stop the beat.
Lá uma colherada de açúcar cura todos os males. Lá Mary Poppins ainda é minha babá. Lá não há cadeias, presídios nem gaiolas − a não ser a das loucas. Lá Hitler é a superestrela do Moulin Rouge. Lá Billy Flynn é meu advogado; Roxie Hart e Velma Kelly, minhas amantes. Dreamgirls. Lá é primavera as quatro estações.
Lá a estrada é de tijolos amarelos. Lá you can dance, you can jive, having the time of your life. Lá a Evita é Madonna. Lá o Mickey é feiticeiro. Lá os embalos de sábado à noite não acabam quando terminam. Lá o ritmo é quente. Lá o carimbador é maluco-beleza e o Plunct-Plact-Zum vai a qualquer lugar − pode voar sem problema algum.
Lá o fantasma encanta a ópera. Lá a noviça nos leva até o cume da montanha para nos ensinar as notas da felicidade. Dó, ré, mi. Lá os violinistas tocam nos telhados. Lá a Era da Aquário já chegou − a paz, o amor e a sacanagem são lei. Lá o céu é de diamantes, o submarino é amarelo, os morangos são para sempre. Lá o sonho não acabou.
Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).
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