Borboletas e fantasias
Tenho me assustado com a forma
com que a natureza provoca observações tão profundas em minhas aventuras
textuais. Certamente o caminho percorrido e a formação, em si mesma, são
importantes influências para tanto, mas não só. Sou inclinado a acreditar que a
formação é, ela mesma, resultado de uma atração factual e inevitável pelo todo,
por sua complexidade e, em meio à essa loucura, à constatável noção de impotência
diante da imensidão dimensional da existência. Em outras palavras, creio que
nós loucos pensantes, ou pensantes loucos, assim nos tornamos não pelo que
escolhemos fazer da vida, mas, antes, escolhemos fazer tais coisas exatamente
porque somos assim, loucos. Essa sensação me tranqüiliza, porque me apresenta a
clareza de que não poderia eu fazer outras coisas ou, pelo menos, não estaria
feliz fazendo-as. Estava já inclinado, desde o princípio, a me apaixonar pelo
que de mais instigante há na existencialidade humana, a própria
existencialidade. Creio, também, por hora que estas poucas linhas mereçam ser
alongadas numa crônica e me sinto, realmente, instigado a fazê-lo. Por hoje, “Borboletas e fantasias” transpassa as
observações e impressões que tenho feito da realidade acerca de como e porquê a
vida muda com o passar do tempo, o ir e vir das estações, o câmbio natural da
paisagem e sua cadência de emoções. É como uma canção de primavera, não daquela
vista na paisagem, mas daquela que acontece dentro das nossas emoções mais
íntimas. Entregue-se...
Adriano de
Almeida
Borboletas e fantasias
Borboletas
no céu...
Jaz o frio
em mim.
Como o
anúncio de uma nova estação...
Toma os
ares pra voar...
São esboços
que presenteiam,
como a mais
íntima poesia...
Espaços que
se alteram,
desenhos que
se desejam...
Correm figuras
pelo ar...
Dançam as
asas em sintonia...
Libertando o
inverno que se demorava,
e que já não é mais...
Surgem as
novas cores,
urge a
entrega e o abraço...
Abrem-se as
janelas fechadas,
suas luzes
e vozes enamoradas...
Regressam
os sonhos,
correndo pelo
azul...
Reabitando
a casa vazia...
Preenchendo
suas histórias perdidas,
suas borboletas
e fantasias...
Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.
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