quinta-feira, 11 de outubro de 2012

JANUSZ KORCZAK NO MUSEU DO HOLOCAUSTO



"As crianças não são as pessoas de amanhã, mas são as pessoas de hoje. Elas têm o direito de ser levadas a sério. Elas têm o direito de ser tratadas com respeito pelos adultos, como iguais. Elas devem ser autorizadas a crescer do jeito que são. A pessoa desconhecida dentro de cada um deles é a esperança para o futuro." (Janusz Korczak)



                                                                  
Janusz Korczak (pseudônimo de Henryk Goldszmit, (1878-1942) médico judeu polonês, escritor e educador. Nascido em Varsóvia, Korczak dedicou sua vida a cuidar de crianças órfãs. Acreditava que as crianças deviam sempre ser ouvidas e respeitadas, e essa crença se refletiu em seu trabalho.

                                                         Korczak com crianças do orfanato.

Em 1912, Korczak tornou-se o diretor de um orfanato judeu em Varsóvia. Juntamente com Stefania Wilczyńska fundou e dirigiu Dom Sierot, um orfanato em Varsóvia, e se destinava a crianças judias, sendo financiado pela Sociedade judaica “Auxílio aos Órfãos”. O orfanato abriu no dia 7 de outubro de 1912, sendo Korczak o seu diretor e Stefania Wilczyńska (1886-1942), tornou-se a educadora principal. Korczak administrou  o orfanato durante trinta anos.


                                               Korczak com grupo de música do orfanato.



                               Meninas no orfanato descascando batatas. (Varsóvia, Polônia)

                                       Dr. Korczak e  Stefania Wilczynska com crianças, 1923.


Em 1939 no início da Segunda Guerra Mundial, Korczak se recusou a aceitar a ocupação alemã e a atender seus regulamentos sendo preso por tal atitude. No entanto, quando os judeus de Varsóvia foram obrigados a se mudar para um gueto, Korczak voltou seus esforços para as crianças do seu orfanato.  Apesar de receber ofertas de amigos poloneses para escondê-lo no lado "ariano" da cidade, Korczak recusou-se a a abandonar as crianças.




             Korczak com crianças do orfanato e um dos professores debaixo do castanheiro (1934-1935)

         
                           Korczak com os membros da Liga Cultural em frente ao Dom Sierot - (1937)

No início de novembro de 1940, o orfanato Dom Sierot foi transferido para o gueto. Durante a sua intervenção a propósito da transferência do orfanato numa repartição, Korczak foi detido. Os nazistas aprisionaram-no na cadeia do Pawiak, mas, passadas algumas semanas, foi libertado mediante o pagamento de fiança.


Korczak mudou-se com as crianças para um prédio em outra rua. (Foto tirada após a Segunda Guerra Mundial, 1940)

Em agosto de 1942, durante os meses de deportações do gueto, os nazistas prenderam Korczak e suas 200 crianças. Korczak foi cercado pelas tropas da SS Durante a chamada Grande Ação, ou seja, a principal etapa de extermínio da população do gueto de Varsóvia por parte dos Alemães. Korczak recusou, pela segunda vez, a proposta para se salvar por não querer abandonar as crianças e os funcionários do orfanato.


 
Ilustração de Helga Weissova. (Última imagem de sua série, feito fora de Terezín, em 1945)

No dia da deportação do gueto, Korczak acompanhou o cortejo dos seus educandos rumo ao local de onde partiam os comboios para os campos de extermínio. Nesta marcha seguiam cerca de 200 crianças e algumas dezenas de educadores, entre eles, Stefania Wilczyńska. A sua última marcha transformou-se numa lenda. Tornou-se um dos mitos da guerra e um dos temas mais recordados, ainda que nem sempre consistente e fiável nos pormenores.



 
Mulheres e crianças durante revista dos nazistas, depois do Levante do Gueto de Varsóvia (1943)
                     


Korczak e suas crianças foram enviados para o campo de extermínio de Treblinka, onde todos eles foram assassinados (1942)

Livros:
Ele escreveu vários livros entre eles Quando eu Voltar a ser criançaonde o personagem principal do livro em questão, por um passe de mágica, consegue voltar a ser criança. Dentro de sua vida vazia, tediosa, viu na sua fantasia de voltar a ser criança uma possibilidade de voltar a ser feliz. Ao conseguir realizar sua fantasia, o personagem começa a analisar de forma direta as angustias que uma criança sente, as injustiças que sofre, as angústias que deve suportar, enfim, todas as dificuldades que quase todas as crianças passam, mas que os adultos ignoram, como se nunca tivessem sido crianças.



Em Quando eu voltar a ser criança, novela psicológica na qual um professor desmotivado com a vida volta a ser criança, graças à magia do gnomo do suspiro da saudade, Korczak revela toda a complexidade de sua visão sobre a infância e denuncia não somente o desrespeito dos  adultos, motivado pela total incompreensão destes em relação às crianças, mas que também a vida delas não é fácil, pela complexidade e intensidade de suas descobertas e decepções, e também porque a sociedade está organizada de tal forma que dificulta profundamente a vida dos pequenos.

Filmes:
O Senhor está livre, Dr. Korczak, em alemão: Sie sind frei Doktor Korczak, um filme realizado por Aleksander Ford em 1975. O filme aborda os últimos anos de vida de Janusz Korczak, cujo papel foi representado pelo ator Leo Genn.
Korczak – filme polones realizado por Andrzej Wajda, com argumento de Agnieszka Holland, 1990. Representa o destino do Dr. Korczak e, de modo fragmentário, os crimes nazistas perpetrados contra as crianças e os educadores do Dom Sierot, durante a implementação da chamada Operação Reinhardt. O papel de Korczak foi representado por Wojciech Pszoniak.



 Korczak sempre se considerou judeu-polonês, e atuou no sentido de aproximar as duas culturas. Só começou a estudar hebraico nos anos 30, quando se aproximou do movimento sionista, mas entendia um pouco de ídiche. Somente nos anos 30, começou a interessar-se pelo renascimento nacional judaico; colaborou com publicações das organizações da juventude sionista e também participou nos seus seminários. Durante esse período de tempo, também foi abalado por uma crise na sua vida privada e profissional. Em certa medida, duas viagens à Palestina, em 1934 e 1936, ajudaram-no a superar a situação e, tal como escreveu, «a encarar o passado, obter apoio para repensar o presente e – inclusivamente – vislumbrar o futuro».

 


 Grupo de sobreviventes que viviam no orfanato de Janusz Korczak, ao fundo o retrato de Korczak.



Colaborou nesta edição: Mônica Munhoz Pereira*, com pesquisa e textos.
* Socióloga, formada pela UFBA, especialista em Cinema e Educação pela FAP (FAculdade de Artes do
   Paraná).








Izabel Liviski é Fotógrafa e Doutoranda em Sociologia pela UFPR.
Seu campo de pesquisa abrange Estudos de Gênero, Sociologia da Comunicação e da Imagem, Estudos Culturais e História da Arte.
Escreve a Coluna Incontros às quintas-feiras, quinzenalmente, para a Revista ContemporARTES.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amo o trabalho dele. Deixou um grande exemplo para nós educadores.

22 de junho de 2013 às 09:03
Mirian Fonseca Passos disse...

Maravilhoso. Vou assistir o filme. Deixa para o mundo o seu legado, a necessidade que temos de cuidar de nossas crianças.

22 de junho de 2013 às 09:04

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