segunda-feira, 1 de abril de 2013

A sociedade parisiense em O Pai Goriot, de Balzac



Felicitações, meus amigos! Voltamos nesse 2013 com  muito pique e animação. Fico feliz em continuar com vocês por mais um ano, refletindo e trazendo um pouco de poesia, seja na literatura ou nas artes de maneira geral. Assim, essa coluna nesse ano visa trazer um leque de oportunidades de conhecer a essência da poesia em suas diversas facetas. Esse ano, teremos encontros mensais. Por essa razão, não teremos apenas Segundas Poéticas, mas toda a semana.

Para começar esse ano com o pé direito, a obra francesa O Pai Goriot é nosso foco de hoje. Passearemos sobre uma Paris de Balzac. Espero que gostem!

A sociedade parisiense em O Pai Goriot, de Balzac


Quem mais célebre que Balzac para retrata uma Europa com suas singularidades e peculiaridades? O Pai Goriot é, sem dúvida, uma obra que revive uma sociedade européia, dotada de costumes e perpetuando seu glamour entre tantos da classe baixa, representa uma típica sociedade, voltada ao contraponto entre ricos e pobres. Logo, constatamos que a obra balzaquiana é um ícone da literatura mundial, pois podemos inferir que encontramos em sua obra uma essência de profundo conhecimento.

Podemos perceber essa riqueza de representações logo nas primeiras páginas do romance, quando o narrador, bem astucioso descreve as personagens e o ambiente: “Nenhum bairro de Paris é mais horrível nem mais desconhecido” (BALZAC, 1994, p.10). A pensão é de Dona Vauquer e, é nesse espaço qual boa parte da narrativa se desenvolve, desde retomadas da história até ações da própria narrativa. Os quartos na pensão indicavam o quão poder aquisitivo tinham os moradores. Goriot é um senhor que enriqueceu com a venda de trigo, mas sua decadência é perceptível com a mudança nos dormitórios que foi tomado a fazer durante algum tempo. Contudo, apesar do título levar o nome de uma das personagens, o destaque da obra se dá em outras duas: Eugênio de Rastignac, um jovem universitário e Paris, a cidade.


Eugênio de Rastignac trata-se de um estudante do curso de Direito da grande Paris e busca sua ascensão social. Paris é o local onde tudo ocorre e onde tudo pode acontecer. Deste modo, percebemos na narrativa de Balzac um diferencial: seu modo de contar. “Mas, quando Balzac, acentuando o contraste com a aridez dos séculos XVII e XVIII, se declara seguidor de um método moderno, êle alinha tôda uma serie de momentos estilísticos que considera característicos de tal orientação. A descrição é, então, no pensamento de Balzac, um momento entre outros; ao lado dela, vem particularmente sublinhada a nova importância assumida pelo elemento dramático” (LUKÁCS, 1968, p.55).

A dramaticidade que envolve Goriot está em sua relação com suas duas filhas, Delfina e Nastácia. Ambas casadas com homens ricos, mas continuam a pedir dinheiro de seu pai, que cede, e aos poucos, perde todos seus bens para ajudar as filhas. Essa relação é, sem dúvida, um dos maiores feitos da obra de Balzac, onde contrapõe as duas Paris: a da classe alta e a rechaçada pela sociedade. Percebe-se em sua narrativa como cada papel social se porta e como as personagens se relacionam, assim fica claro o abismo existente.

Rastignac, apesar de ambicioso, mostra um lado humanitário, que permeia sua relação com Goriot. As personagens de Balzac tomam uma visibilidade muito grande, pois cada uma representa um estereótipo da sociedade retratada. Um dos pontos que chama a atenção na obra está no contraponto de riqueza e pobreza e como se ascender diante uma sociedade fechada. Balzac retrata uma Paris sem se privar do lado sujo da cidade, seja na descrição da própria cidade ou nas tramóias das personagens.

O Pai Goriot não apenas consegue plasmar esses elementos, como os desencadeia de forma singular. Assim, quando retratamos as duas principais personagens, Eugênio de Rastignac e Paris, pontuamos um dos principais temas apresentadas na obra, pois Paris, aqui, não se trata apenas de um espaço físico, mas de uma personagem viva, que influencia a todo tempo na narrativa de modo perspicaz. Fato esse comprovado na passagem final, quando Rastignac desafia Paris, após o enterro de Goriot:

Ficando só, Rastignac deu alguns passos até o alto do cemitério e viu Paris, tortuosamente deitada ao longo das suas margens do Sena, onde as luzes começavam a brilhar. Seus olhos fixaram-se quase avidamente entre a coluna da praça Vendôme e a cúpula dos Invalides, onde vivia a bela sociedade na qual quisera penetrar. Lançou sobre aquela colméia zumbidora um olhar que parecia sugar-lhe antecipadamente o mel, e proferiu estas palavras grandiosas:
- Agora nós dois!
E como primeiro ato de desafio à sociedade, Rastignac foi jantar em casa da senhora de Nucingen. (BALZAC, 1994, p.221).


                      Sua narrativa não apenas dialoga com o real, na perspectiva de uma verossimilhança externa em contraponto da burguesia, a nobreza e as classes mais baixas, mas a sua estrutura se entrelaça e possui potencialidade nos elementos que a constituem. 
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Para que você, amigo leitor, conheça mais sobre essa obra, indico o estudo realizado pela Professora de literatura Bruna Cunha, encontrado no livro Vicissitudes Literárias na Criação da Narrativa e no Imaginário Ficcional. Nos encontramos em maio com mais essência poética em doses de arte!


Renato Dering é escritor, mestre em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG). É professor de Teoria da Literatura e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Federal de Goiás - Câmpus Jataí. Desenvolve pesquisas na área de contística, cinema, literatura contemporânea e literatura e cultura de massa.





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