sábado, 30 de março de 2013

NOVA COLUNA: Apresentação e Breviário







     Vieram-me, durante semanas, milhares de começos moldados em apatia. Tardei a decidir que começaria por onde se é esperado que comece, pelo Título – vencido por tentativa e erro. São dois os motivos dessa franco-vasão e, sem muita certeza da veracidade, vou-me embrenhando na tentativa de uma explicação confortável.  
     Primeiro me alcançou o nome sem justificativa, havia a necessidade e o feito se me criou no repente, sem muita introdução ou por-vir, me atou como as coisas do sem-razão num solavanco. Estava posto, seria QUICONQUE, mas que motivos dar ao leitor? Que lacuna me restava há ceder detalhamento? Bem, sigamos ao segundo ponto.




- Original -

À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!


- Tradução I -

Penso em quem perdeu o que não se recupera
Jamais, jamais! Em quem mata a sede chorando
E mama na Dor como numa boa fera!
Nos órfãos famintos, como flores murchando!

- Tradução II -

Naqueles que perderam o que não se pode reencontrar
Jamais, jamais! naqueles que bebem das lágrimas
E mamam da Dor como uma boa loba!
Nos magros órfãos que secam como uma flor!


- Tradução III -

Em alguém que perdeu o que o tempo não traz
Nunca mais, nunca mais! nos que mamam da Dor
E das lágrimas bebem qual loba voraz!
Nos órfãos que definham mais do que uma flor!


- Tradução IV -

Em quantos a Fortuna, e para sempre, rouba
Seu bem melhor! Nos que se alimentam de dor,
Onde soem mamar, como de boa loba,
Nos órfãos a mirrar mais secos de que a flor!



      O primeiro verso da quinta estrofe na segunda parte do poema Le Cygne / O Cisne em As Flores do Mal de Charles Baudelaire. O poema dedicado à Victor Hugo, trás uma variação na linha a que me refiro. Na Tradução I a palavra é “quem”, na posterior é “naqueles” e nas seguintes “alguém” e
“quantos”, nessa confluência de escolhas para re-significar um vocábulo tornamos ao Traduttore, traditore. Nenhuma das variantes pode ser considerada falha na substituição. A verdade é que não há um equivalente aproximativo em português que caiba em justa forma. Sem a preocupação métrica, rítmica ou cadencial, poderíamos arriscar um limite, algo como “Quem-quer-que tenha perdido o que não pode ser encontrado”.
      Atingimos nesse verso a razão do segundo ponto, o marco anterior ao nome, a NECESSIDADE. Foi a partir dela que tudo se levantou. Perguntas como: O que é a Arte? O que é a Literatura? Despertam um incomodo de perda e busca pelo que não pode ser encontrado. A questão continua e continuará sempre em aberto, se atentarmos para o quanto fugidio esses conceitos são, tendo em vista sua mudança condicionada pelo contexto histórico-cultural de cada época. Afinal, o que é a verdade? Talvez não o Encontro, mas a Busca.
      A Coluna Quiconque buscará responder algumas dessas questões, prometendo Buscar e garantindo o desencontro. A Vocês, Leitores de toda ordem, fica o nosso alento e a vontade no regresso.


BREVIÁRIO

  • PRÓXIMA COLUNA: 05 de Maio
  • ASSUNTO: Fronteira - Poema e Poesia




    Lucca Tartaglia é o tudo onde Deus é servido conceder-lhe que seja, em companhia dos anseios, desejos, moscas, mosquitos e outros elementos auxiliares do bom estado das casas e dos sonos. Gradua-se (ou Graduam-no) na Faculdade de Letras e Artes (mais uma que outra) da Universidade Federal de Viçosa. É colunista na ContemporARTES desde que se tem por isso. Desenvolve pesquisas na área de Literatura (Ocultismo em Fernando Pessoa – Ele Mesmo) e LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).


2 comentários:

Renato Dering disse...

Parabéns pela matéria e bem vindo ao grupo!

31 de março de 2013 às 16:18
Rodrigo Machado disse...

Lucca, meu caro,

parabéns pela coluna e como disse o nosso amigo Renato, seja muito bem vindo.

1 de abril de 2013 às 11:01

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