Quero ser grande
Diferentemente
da maioria dos meus coleguinhas, nunca tive pressa de crescer – virar homem, ganhar meu dinheiro, sair de casa, ser
independente. Semprei gostei muito da infância. E, como sabia que ela não
duraria eternamente, fiz questão de estendê-la tanto quanto fosse possível. O
Mickey na estante da sala não me deixa mentir.
Mas o tempo passa, o tempo voa, já lembrava um velho
comercial de banco. Cresci – virei homem, ganho meu dinheiro, saí de
casa, sou independente. Só que ainda não sou grande como um dia imaginei.
Como um dia imaginei ser o super-herói de capa esvoaçante
requisitado por toda uma Gotham City, o músico idolatrado por toda uma legião
de beatlemaníacos, o ator aplaudido por toda uma plateia de Oscars, o autor
aclamado por toda uma mesa de chá na Academia, o craque ovacionado por
todo um Maracanã.
Pois certa vez, numa das minhas andanças pelos parques
temáticos da vida (eu sempre tentando manter vivos os dias de moleque),
esbarrei numa máquina de desejos do tipo cigana, daquelas com jeitão de que
adivinha o futuro e conhece o passado, como a que mudou a rotina de Josh Baskin
(Tom Hanks) no clássico oitentista Quero
ser grande.
Bastaram duas moedinhas, uma consulta – do que preciso para ser grande? uma Gotham? uma legião?
uma plateia? uma Academia? um Maracanã? –,
e ela me deu o mapa do tesouro do pirata Alma Negra: siga aquela estrada de
tijolos amarelos até a primeira loja de brinquedos. Hã?! Como é que é?! Não
entendi bulhufas. Mas obedeci. Como a criança bem-comportada que sempre fui. O
Mickey-chaveirinho na mochila não me deixa mentir.
Segui a
tal estrada. Até a tal loja. Ao entrar lá e me deparar com tantos bonecos (e
bonecas) que povoaram minhas tardes de menino – e, especialmente, ao
descobrir um Batman todo equipado nas mãos de um garoto tão parecido
comigo –, me dei conta do que a máquina queria dizer, da piadinha sem
graça que ela me havia soprado: o sujeito só é grande mesmo quando vira
miniatura.
Seja ele
carne e osso ou pura fantasia, seja ele cantor famoso, astro de Hollywood,
escritor best-seller, jogador de Seleção – ou rato de desenho
animado.
Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).
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