quarta-feira, 3 de abril de 2013

Quero ser grande






Diferentemente da maioria dos meus coleguinhas, nunca tive pressa de crescer – virar homem, ganhar meu dinheiro, sair de casa, ser independente. Semprei gostei muito da infância. E, como sabia que ela não duraria eternamente, fiz questão de estendê-la tanto quanto fosse possível. O Mickey na estante da sala não me deixa mentir.

Mas o tempo passa, o tempo voa, já lembrava um velho comercial de banco. Cresci – virei homem, ganho meu dinheiro, saí de casa, sou independente. Só que ainda não sou grande como um dia imaginei.

Como um dia imaginei ser o super-herói de capa esvoaçante requisitado por toda uma Gotham City, o músico idolatrado por toda uma legião de beatlemaníacos, o ator aplaudido por toda uma plateia de Oscars, o autor aclamado por toda uma mesa de chá na Academia, o craque ovacionado por todo um Maracanã.

Pois certa vez, numa das minhas andanças pelos parques temáticos da vida (eu sempre tentando manter vivos os dias de moleque), esbarrei numa máquina de desejos do tipo cigana, daquelas com jeitão de que adivinha o futuro e conhece o passado, como a que mudou a rotina de Josh Baskin (Tom Hanks) no clássico oitentista Quero ser grande.

Bastaram duas moedinhas, uma consulta – do que preciso para ser grande? uma Gotham? uma legião? uma plateia? uma Academia? um Maracanã? –, e ela me deu o mapa do tesouro do pirata Alma Negra: siga aquela estrada de tijolos amarelos até a primeira loja de brinquedos. Hã?! Como é que é?! Não entendi bulhufas. Mas obedeci. Como a criança bem-comportada que sempre fui. O Mickey-chaveirinho na mochila não me deixa mentir.

Segui a tal estrada. Até a tal loja. Ao entrar lá e me deparar com tantos bonecos (e bonecas) que povoaram minhas tardes de menino – e, especialmente, ao descobrir um Batman todo equipado nas mãos de um garoto tão parecido comigo –, me dei conta do que a máquina queria dizer, da piadinha sem graça que ela me havia soprado: o sujeito só é grande mesmo quando vira miniatura.

Seja ele carne e osso ou pura fantasia, seja ele cantor famoso, astro de Hollywood, escritor best-seller, jogador de Seleção – ou rato de desenho animado. 

Tão aí meus Mickeys de estimação que não me deixam mentir.







Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).

0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.