quarta-feira, 24 de julho de 2013

Newton Rezende, SP e RJ




Ah... o Rio de Janeiro!! Mesmo em meio a este frio e garoa, temos algumas programações disponíveis que valem a pena e compartilho com vocês, leitores, uma delas.

Newton Rezende nasceu em SP e era publicitário. Abandonou sua estabilidade financeira e veio para o Rio de Janeiro, depois foi para Niterói e em seguida partiu para uma fazenda em São Gonçalo e lá produziu a maioria de suas obras entre 1970 e 1980.

É interessante notar a expressão artística de um paulista que se mudou para o Rio de Janeiro, num momento histórico brasileiro de urbanização, migração, modo de produção fordista, ditadura e etc.

Compartilho abaixo um vídeo que mostra um pouco da exposição:


Segundo educadora, Ana Damaceno graduada em História da Arte, o artista teve uma infância turbulenta, sua mãe o deixou em um orfanato e, passado um tempo, ela retornou para o buscar. Cita outros marcos que diz ter afetado a inspiração artística de Rezende: o surto de sua tia em um casamento e a previsão de câncer de mama de sua principal esposa.

Tem o tom poético ao retratar a paisagem e os indivíduos, versa a respeito da natureza ontológica, faz uma mescla da subjetividade e da objetividade, caráter denunciador, expõe em suas obras o cotidiano, suas experiências, parte da cultura do povo brasileiro.

Utiliza diversas técnicas - elementos orgânicos, inorgânicos, desenho, renda, tecido, fósseis, colagens, fotografias, moeda, jornal, palavras, poesia, etc. - inclusive os críticos da arte não conseguem enquadrar sua linguagem à uma única corrente artística.

No seu trabalho "Noiva" denúncia a exploração sexual no desenho, põe enfoque no isolamento da mulher despida e triste com um de seus seios preto que, segundo educadora, representa o seu medo do câncer de mama. Sutilmente o artista cita sobre a economia dependente da Áustria e dos latinos - Argentina, Venezuela e Brasil.

A obra "Rua" retrata a urbanidade e os elementos notados são: a publicidade e os personagens com suas várias etnias, costumes, estilos... Brinca com palavras de ordem: "Viva Livre! só depende de você escolher a liberdade". Ao pensar na conjuntura brasileira na época que elaborou esta obra, 1970, imagino que tenha ironizado a censura vigente e a ausência de liberdade de expressão, já em relação a publicidade, conseguimos observar a presença do capital imperialista e externo.

Seguindo esta linha estética faz outras obras: "Cidade", em 1975, enquadra o plano baixo focado nos vários pés dos sujeitos na metrópole e no fundo ilustra a rua, os transportes rodoviários coletivos e particulares, mistura colagens e desenhos; "Tumulto de uma cidade" dá ênfase ao cotidiano de uma grande cidade; no quadro "Flores" 1969 usa óleo sobre madeira e colagem, a madeira entalhada e incrustada; "O demagogo" (1979) a base é acrílica sobre eucatex e colagens, uma crítica a representação política, de forma sarcástica o destaque é dado ao personagem em cima do palanque usando uma máscara e expressando com gestos e falas as suas promessas para a massa; já o "Largo da Sé" (1974) com bondes e chaminés, diferença social e as campanhas publicitárias, em 1984 o "Poema Sujo" faz uma homenagem a Ferreira Gullar e utiliza óleo e colagens.


Retrata também o carnaval no Rio de Janeiro e é imprime a crítica à sexualidade, ao uso de entorpecente como lança perfume e bebida alcoólicas, com sujeitos fantasiados de morte e a gravidez com o desenho dentro da barriga de uma das moças.

Em uma das obras faz a citação de uma música de Vinicius de Morais e Toquinho 
"... Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval"




O trabalho e o transporte também são umas de suas preocupações na elaboração de suas obras, por exemplo "O Jardineiro do Brás" (1982), o cotidiano do Pescador (1972) e outros tantos que ilustra os transportes de barcas, a navegação, a bicicleta, ônibus, carros, bondes, etc.


A prostituição, as festas e o futebol são também expostas na sua obra. Faz um diálogo entre o passado e o presente e em muitas de suas obras coloca o relógio com o tempo distorcido, sem a demarcação utilizada e usa engrenagens e peças dele como composição. Tem uma diversidade técnica em oposição ao que vinham-se produzindo na época, apresenta no seu trabalho a identidade e as tradições brasileiras de modo poético, como por exemplo, a monogamia, a religião misturada com um sarcasmo irônico da traição e a imposição da sociedade.


Soraia Oliveira Costa, mestranda em História da Ciencia (UFABC), bacharel e licenciada em Ciencias Sociais (CUFSA/2009).

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